28 março 2024

Na sombra da Covid-19, sarampo avança e provoca mortes no Brasil por falta de vacinação

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Evelin Azevedo

Enquanto há grande expectativa sobre os imunizantes que protegerão contra a Covid-19 — dois deles aprovados pela Anvisa no domingo —, a cobertura vacinal de outras enfermidades não atinge o mínimo necessário. Seis das sete mortes causadas pelo sarampo no Brasil em 2020 ocorreram em crianças com menos de 18 meses. A sétima vítima foi um homem de 34 anos. Nenhum deles tinha histórico de vacinação contra a doença.

No ano passado, foram confirmados 8.419 casos de sarampo no país, até o dia 19 de dezembro. E há, ainda, 371 em investigação.

O estado do Pará concentra o maior número de casos confirmados — 5.375 diagnósticos — e cinco mortes (dois residentes no município de Belém, dois em Novo Repartimento e um em Igarapé-Miri). Ele é seguido por Rio de Janeiro, com 1.347 casos e uma morte (um menino residente no município de Nova Iguaçu); São Paulo, com 864 diagnósticos e uma morte (residente na capital); Paraná, com 377 casos; Amapá, 177 pessoas infectadas; e Santa Catarina, com 110 diagnósticos positivos. Outros 15 estados apresentaram menos de 100 casos de infecção pelo vírus do sarampo.

A vacinação é a única forma de proteção contra a doença. No entanto, a cobertura vacinal não tem atingido a porcentagem mínima para garantir que o vírus não circule em território brasileiro. Desde 2017, a primeira e segunda doses da tríplice viral em crianças — que além do sarampo protege também contra caxumba e rubéola — não alcançou os 95% de cobertura, necessários para deixar a população protegida. Dados do Ministério da Saúde mostram que, até de 2 de outubro de 2020, a primeira dose tinha sido aplicada em apenas 70,64% do público-alvo (crianças com 12 meses), e a segunda dose — que inclui a proteção contra a varicela — foi inoculada em 55,77% das crianças com 15 meses.

A dose zero da tríplice viral, implementada pelo Ministério da Saúde em agosto de 2019 e indicada para crianças a partir dos 6 meses, agora só é aplicada em bebês que vivem nos estados com surto ativo de sarampo, que segundo o último boletim epidemiológico são Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Amapá. Ela não substitui as primeira e segunda doses. Adolescentes e adultos de até 29 anos devem tomar duas doses da vacina contra o sarampo caso não tenham histórico vacinal. Entre 30 e 59 anos, é necessária apenas uma dose se a pessoa nunca tiver se vacinado.

Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lista alguns motivos para as baixas coberturas vacinais no Brasil.

— Existe um fenômeno chamado de “evitação vacinal”, que significa que temos a recomendação de vacinar, a vacina disponível gratuitamente, e mesmo assim ela não é aplicada ou é com atraso — explica Cunha: — E dentro dos determinantes da evitação estão a complacência (percepção de que a doença não é perigosa), a falta de confiança (não só na eficácia e segurança da vacina, mas nos governantes, nas instituições e profissionais de saúde, que tem sido abalada por conta de fake news) e a conveniência (horários de funcionamento dos postos).

Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS/OMS) um certificado de erradicação do sarampo. No entanto, o país perdeu este reconhecimento em 2019, após ocorrer um surto da doença por mais de um ano, com novos casos surgindo. Em 2018 o Brasil registrou 10.274 diagnósticos positivos da doença, com o surto ocorrendo no Amazonas e em Roraima. Naquele ano 12 pessoas morreram em decorrência da doença.

Já em 2019, o número de casos confirmados foi bem maior: 18.203 infectados, com 15 mortes. O surto ocorreu nos estados de São Paulo (com maior número de casos), seguido do Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina, Minas Gerais e Pará.

O descontrole da doença ocorre não apenas no Brasil, mas em vários países. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as mortes por sarampo em todo o mundo atingiram, em 2019, seu nível mais alto em 23 anos. Uma análise feita pela OMS junto com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mostrou que naquele ano 207.500 morreram em todo planeta por causa do vírus. O número foi 50% maior do que três anos antes, de acordo com o estudo.

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