28 março 2024

Às vésperas do 7 de setembro, Bolsonaro volta a atacar Moraes por decisão contra empresários

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O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Em evento com mulheres no Rio Grande do Sul, neste sábado, Bolsonaro afirmou que quem deu a “canetada” autorizando operação da Polícia Federal contra empresários bolsonaristas é “vagabundo”, em alusão à decisão do magistrado. A nova investida do presidente contra Moraes ocorre às vésperas dos atos de 7 de setembro, convocados por Bolsonaro.

Em agosto, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra empresários que compartilharam mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp. O diálogo entre os bolsonaristas foi revelado pelo portal “Metrópoles” e incluía, entre outros, Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; André Trissot, do Grupo Sierra, de móveis de luxo, e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii. No aplicativo de mensagens, parte dos empresários defendeu um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito.

— Vimos há pouco empresários tendo sua vida devassada, recebendo visita da Polícia Federal porque estavam privadamente discutindo um assunto que não interessa o que seja. Eu posso pegar meia dúzia aqui, bater um papo e falar o que bem entender. Não é porque tem um vagabundo ouvindo atrás da árvore a nossa conversa que vai querer roubar nossa liberdade. Agora, mais vagabundo do que esse que está ouvindo a conversa é quem dá a canetada após ouvir o que ouviu esse vagabundo— disse Bolsonaro durante evento no Sul.

Bolsonaro criticou ainda decisões que autorizaram a derrubada de páginas em redes sociais e mencionou que não há lei que permita um juiz decidir o que é desinformação. O presidente afirmou ainda que caso seja reeleito vai defender “com mais firmeza” os direitos individuais.

— Quando se fala em eleições, eleições quer dizer voto. E voto é convencer as pessoas. Você não vê gente do nosso lado indo para a esquerda, mas vê alguns da esquerda vindo para o nosso lado. Mas muitos mais podem vir, depende de vocês conversarem com essas pessoas — pediu o presidente, emendando:

— Eles começam gritando “fascista”, “homofóbicos”, mas conversem com essas pessoas, falem para eles: você quer comer cachorro? Quer perder sua liberdade, perder o uso do telefone celular, como temos visto por aí? Decisões absurdas desmonetizando páginas, derrubando páginas, bloqueando redes sociais. Quem é que diz que isso ou aquilo é ou não desinformação? Onde está a lei para mandar um juiz tomar decisão como essa? Não existe lei para isso. Pode ter certeza que, se Deus quiser, se essa for a vontade dele e o entendimento de vocês, após a reeleição, com mais firmeza ainda, nós vamos defender os direitos e garantias individuais previstos na nossa Constituição.

Em seguida, o presidente questionou se é verdadeira a frase da Constituição que diz que todo o poder emana do povo. Segundo Bolsonaro, a afirmação só é válida se o povo votar “acertadamente”.

— Quando se fala que todo poder emana do povo, será que isso é verdade? Emana em uma condição: se o povo votar acertadamente. E mesmo assim se esse escolhido pelo povo não os trair, o que é comum na política nossa aqui no Brasil — argumentou.

O presidente classificou a si mesmo como um democrata e voltou a falar que quer eleições “transparentes”. Bolsonaro tem repetido frequentemente seu desejo por eleições “limpas” jogando suspeição sobre a segurança das urnas eletrônicas. No Rio Grande do Sul, ele afirmou novamente que em 2018 “tinha tudo para ganhar no primeiro turno”.

— O nosso governo defende acima de tudo a nossa liberdade. Não podemos admitir limites na liberdade. O limite quem dá é a lei e não uma pessoa na canetada. Queremos eleições transparentes. Nós defendemos a Constituição e nunca saímos das quatro linhas da mesma. Tem certas coisas que depois de experimentá-las não tem mais retorno — afirmou.

O vice-presidente e candidato ao Senado no estado, Hamilton Mourão (Republicanos), também participou do evento. Candidato ao governo gaúcho, Onyx Lorenzoni (PL) também esteve ao lado do presidente.

Eleitorado feminino
Além dos ataques a Moraes, o candidato à Presidência fez movimentos para tentar conquistar o público feminino, principal obstáculo à sua reeleição. No encontro, o presidente modulou o tom ao falar da flexibilização do uso de armas, uma das pautas que afasta a preferência das mulheres por sua candidatura. De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, enquanto Lula tem 48% da preferência do eleitorado feminino, Bolsonaro tem apenas 28%.

— Tem um cara (Lula) que deu a vida toda pão com mortadela para seus eleitores e agora quer que o povo acredite que se chegar à Presidência vai dar picanha. Diz, por exemplo, que vai transformar clubes de tiro em biblioteca. Tem caído e muito a violência no Brasil, mortes violentas, depois que chegamos ao governo, porque uma das medidas que tomamos, sei que muita mulher aqui é contra arma, é um direito de vocês, mas legalmente a arma é uma garantia de que você junto com a sua família não sofra violência dentro de casa — defendeu.

Durante o evento, ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente também mencionou a filha Laura. Constantemente Bolsonaro é confrontado com uma declaração dada no passado quando afirmou que após quatro filhos homens, deu uma “fraquejada” e teve uma menina.

— Vocês sabem o que isso representa para todos nós, mas ninguém faz nada sozinho. Temos uma filha maravilhosa, fizemos em conjunto. Na política não é diferente — discursou.

A primeira-dama também falou durante o encontro. Michelle aproveitou o discurso para criticar a candidata à Presidência pelo MDB, Simone Tebet. Na quinta-feira, o TSE retirou do ar uma propaganda eleitoral protagonizada por Michelle após ação movida pela campanha da emedebista.

— A perseguição está clara. Quando uma mulher fala que tem que votar em mulher, quando fala que pode estar onde ela quiser, que tem liberdade de expressão, mas que daqui a pouquinho entra na Justiça e tenta calar outra mulher — criticou.

Nora do presidente, Heloísa Bolsonaro também falou no evento em Novo Hamburgo, sua cidade natal. Na apresentação, a psicóloga falou ao eleitorado conservador, defendeu a maternidade e criticou feministas.

— Casamento é submissão. E deve ter gente pensando: não acredito que ela falou isso. As tias do zap já me xingaram: uma mulher tão jovem dizendo isso? “Casamento é submissão”. E é. É estar sob a mesma missão. E é por isso que escolhi com quem me casei. E é claro. Não seja submissa a um homem que te humilha, te maltrata. Mas seja submissa a um homem que é submisso a Deus, que é temente a Deus— disse.

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