Em um longo depoimento, a mãe de Henry Borel, Monique Medeiros, negou que tenha sido omissa na proteção do filho contra o ex-companheiro dela, Jairo Sousa Santos Júnior. A professora está presa há nove meses pelo assassinato do filho, mas seu único depoimento até agora tinha sido ao delegado responsável pelo caso, dias depois da morte do menino de 4 anos de idade, em março do ano passado.
Monique contou que o ex-vereador Jairo Souza Santos Junior a ameaçava e agredia verbalmente, que demitiu profissionais que trabalhavam com ela, como o personal trainner, por ciúme, que a ofendia pelas roupas que usava e que chegou a enforcar a ex-companheira e destruir malas de viagem, as arremessando contra a parede em uma discussão.
A professora ainda revelou que o político a obrigava a tomar remédios controlados com a suposta justificativa de que ela precisaria dormir de fato de madrugada para não se comunicar com outros homens e disse que desconfiava de estar sendo medicada sem saber pelo ex-companheiro.
“Primeiro eu via um pozinho branco no fundo da taça, eu percebia isso, mas eu achava que era da uva. Até que um dia eu presencialmente vi ele macerando comprimido dentro da minha taça. Eu presumi que as outras vezes que eu tinha visto o pozinho era o comprimido na minha taça”, contou ela.
O depoimento começou por volta das 11h30 e terminou às 22h. Sobre a noite em que Henry morreu, Monique alegou que estava dormindo e que foi Jairo quem a acordou.
“Ele me acordou me assustando e eu dei um pulo da cama, porque ele disse que meu filho estava mal. Eu acredito que meu filho estava respirando sim. Eu fiz respiração boca-a-boca nele e eu sentia o pulmão dele inflando e desinflando”, disse ela.
Perguntada pela juíza Elizabeth Machado Louro, o que achava que havia acontecido, Monique afirmou: “Sinceramente, acho que três pessoas sabem o que aconteceu, meu filho, Deus e o Jairinho. Porque quem me acordou foi ele. Se aconteceu alguma coisa, foi ele. Nós vamos comprovar que eu estava dormindo e quem estava acordado era ele”.
A CNN apurou que a maneira de comprovar que a versão verdadeira é de quem foi Jairo quem encontrou o corpo de Henry, caso o processo vá para júri popular, é por meio do depoimento de Leniel, em que ele revela que essa foi a versão contada para ele pelo casal ainda no hospital. Monique disse que foi treinada, teve que contar uma versão mentirosa de que tinha cochilado e estava recostada, e que era ela quem tinha achado o corpo de Henry, não Jairo.
A defesa de Jairinho fez as perguntas, mas alegando cansaço, Monique preferiu não responder. Eles questionaram se ela tinha provas de omissão do pai, se tinha ouvido alguma vez sobre relatos de agressão na escola, se Henry tem histórico de doença no fígado, se ele pode ter sido vítima de erro médico e também detalhes técnicos sobre o laudo pericial.
Caberá à juíza decidir se Monique e Jairo vão a júri popular. Mas antes disso, ela deve ouvir o ex-vereador novamente. Ele se recusou a falar porque alegou não serem trazidos às audiências de instrução, os problemas técnicos com laudos elaborados por peritos. Elizabeth Louro disse à CNN que ‘ele será ouvido em outra data’. Só depois disso ela vai tomar a decisão.
Em nota, a defesa de Jairinho afirmou que “a recusa orientada de Monique em responder aos questionamentos feitos por esta advogada, demonstram que ela não pretende dizer a verdade sobre o ardil criado como tosca estratégia para obter liberdade”.
“Queremos deixar claro de plano, de forma inequívoca, que acreditamos na inocência de Monique Medeiros quanto a morte de Henry Borel. E esta convicção de inocência decorre de um trabalho sério de investigação defensiva, onde participam peritos legistas e peritos forenses de competência internacionalmente reconhecida”, escreve a advogada do ex-vereador.
No final da tarde, depois de cinco horas de depoimento, Monique relatou ameaças à ela, à família e aos advogados. Disse que sofre dentro da cadeia e que foi intimidada por presas, uma agente carcerária e advogados antes e depois de ser presa.
“Teve um procedimento dentro da cadeia, todas a presas ficaram no pátio e eu sofri ameaças por mais de 20 pessoas”, disse Monique.
Depois a juíza perguntou: “a senhora já foi ouvida? Porque eu mandei que a ouvissem”. Ela respondeu: “Não fui ouvida. Falaram que eu era assassina de criança. Elas falaram que iriam me matar, que iriam me dar canetada no ouvido, que elas iriam jogar água fervendo, ouvi da interna dentro da minha cela que eu não iria acordar mais, que elas iam colocar um pano na minha cara me dar socos e que eu não iria acordar mais”.
Monique diz ainda que pediu pra registrar queixa na véspera do Ano Novo contra essa interna e isso foi negado pela direção do presídio. A juíza respondeu: “A senhora pode ficar tranquila que eu pessoalmente vou tomar todas as providências para sua segurança” e pediu que a ré anotasse em um papel o nome da interna que a ameaça e divide a mesma cela.
Ela relatou também que uma agente carcerária sugeriu que ela deveria se sentir ‘agradecida’ pelo sogro, o deputado estadual Dr. Jairo, pai do Jairinho. Que a mulher falou isso enfaticamente, como forma de ameaça na cadeia. A CNN questionou a Secretaria de Administração Penitenciária sobre as supostas ameaças e aguarda retorno.
Monique ainda se disse intimidada por uma das advogadas que integra a defesa de Jairinho, Flávia Froes. Ela relatou que recebeu a visita da mulher no dia 7 de janeiro, se passando por advogada dela, no complexo de Benfica. Flavia teria chegado se apresentando como amiga dos advogados de Monique e levado “um calhamaço de papéis com todos os laudos de peritos e muitas folhas” com informações sobre Henry.
Ela teria pedido à mãe do menino o histórico médico dele e teria sugerido que Monique fizesse um depoimento conjunto com o ex-companheiro, o que foi negado pela professora. A CNN procurou a advogada e espera retorno.
Esse não foi o primeiro problema com advogados. Antes disso, Monique disse que foi intimidada pelo ex-advogado dela e de Jairinho, André França. Ela contou que ele cobraria R $2,3 milhões pra defender o casal, fazendo Jairo transferir para o nome dele uma casa em Mangaratiba. Disse ainda que André teria inventado uma versão mentirosa sobre a noite da morte de Henry, pedindo que Monique supostamente invertesse os papéis, falando que ela é quem tinha se deparado com Henry caído e não Jairo.
Monique disse que se submeteu a dias a fio de preparação para contar uma versão que não condizia com os fatos e passar a imagem de que tinha uma boa relação com Jairo apesar dos abusos e agressões.
Monique pediu à juíza que abrisse uma investigação contra o ex-advogado dela, André França, considerando a conduta dele como criminosa. A juíza disse que não caberia a ela fazer isso, mas que naquela época já tinha oficiado a OAB.
A CNN entrou em contato com França e não teve resposta até o fechamento desta reportagem.
A recusa orientada de Monique em responder aos questionamentos feitos por esta advogada, demonstram que ela não pretende dizer a verdade sobre o ardil criado como tosca estratégia para obter liberdade. São Jerônimo já dissera que a verdade não pode estar em coisas que divergem. A acusação escrita de ameaça nos autos relata versão ABSOLUTAMENTE contrária ao que foi dito hoje em audiência. Por três vezes policiais da 21a DP foram até o presídio ouvi-la, havendo expressa recusa da dita “vítima” confirmar a ameaça.
Queremos deixar claro de plano, de forma inequívoca, que acreditamos na inocência de Monique Medeiros quanto a morte de Henry Borel. E esta convicção de inocência decorre de um trabalho sério de investigação defensiva, onde participam peritos legistas e peritos forenses de competência internacionalmente reconhecida. Esta convicção de inocência foi manifesta diversas vezes antes de qualquer divulgação de alegadas, e de modo algum provadas, ameaças.
Sem prejuízo a convicção de inocência quanto ao alegado homicídio, Monique Medeiros incorre na prática de crimes contra a honra, processo em curso na 23ª Vara Criminal da Capital, onde, diante dos fatos de hoje, Monique deixa de ser interpelada e passa a ser Querelada por calúnia e difamação.
Vê-se, com transmissão ao vivo em rede nacional, sérias imputações contra policiais penais da SEAP, e contra outras detentas. O mínimo que se espera é que o Ministério Público inicie imediata apuração de crimes de ameaça, art. 147 do Código Penal, e constatada a falsidade delirante das acusações, é dever de ofício do Parquet oferecer denúncia cabível por denunciação caluniosa, art. 339 do Código Penal, não apenas contra Monique, mas contra os dois advogados que a representam. O ônus da prova está nas mãos de quem acusa, não havendo escusa de prova diabólica em direito penal em favor da acusação, pois eis que inexistente a responsabilidade penal objetiva, inversão do ônus da prova em desfavor do acusado, ao menos em sociedades civilizadas. Deveria ser isso do mais comezinho a aqueles que exercem a advocacia de defesa criminal.
Lamenta-se que uma pessoa que é ré em processo penal por homicídio esteja claramente indefesa em juízo, cooptada a uma farsa burlesca mais caricata que comédia dell’arte, onde se confundem papéis de Brighella, Dottore e Capitano em mesmos “novos personagens”, conseguindo colocar elementos de circo de horrores e elementos de filmes trash, tentando deformar realidades para tentar obter vantagens. A diferença entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças é que na vida dos adultos tudo tem consequências, há responsabilidade pelos próprios atos. Lamenta, muito sinceramente, esta Advogada de ver, olhando com visão técnica, uma farsa tão mau construída que só prejudica à própria ré, em tornada refém de uma situação a qual parece não compreender bem, mas nem por isso deixará de ter de suportar com as
consequências. Infelizmente vê-se uma pessoa que, faz-se reprisar, temos como inocente em relação ao homicídio a essa imputado, desnecessariamente incorrendo em
novos crimes, destes sobejando provas, pelos quais terá de responder, numa trama onde ao fim é levada a só se prejudicar na defesa contra as acusações daquilo em que
realmente é inocente, pois pior que restar indefeso é o réu ser conduzido a fazer provas contra si daquilo que é realmente inocente.