José Bernardo da Silva acorda às 6h todos os dias e se arruma para mais um dia de trabalho. Nascido em 1918, seu Bernardo vai completar 104 anos no próximo 14 de junho e se orgulha da facilidade de calçar o par de sapatos.
“Levanto, lavo a cara, como dizia minha avó, vou fazer um café, nós tomamos e fico sentado esperando o horário de ir para o serviço”, conta o ‘seu’ Bernardo.
O idoso trabalha em um supermercado de Pouso Alegre, no Sul de Minas. Chega no primeiro horário, assim que a loja abre, coloca um agasalho e começa a tarefa de todo dia. “Chego aqui e já olho se tem carrinho, vou juntando e coloco no lugar certo, essas cestinhas que ficam abandonadas por aqui e por ali, junto tudo, ponho no lugar, volto e pego mais. É desse jeito, o dia inteirinho.”
‘Vô’, como é chamado pelos colegas de trabalho, foi registrado como funcionário da empresa em 6 de maio de 2009. “Meu irmão já havia encontrado o Vô várias vezes, varrendo rua e, depois, em uma instituição, trabalhando de servente de pedreiro. Aí nós trouxemos ele pra cá, o convidamos para trabalhar e está aí conosco até hoje”, conta Carlos Magno Fonseca, sócio do supermercado.
Trabalhador mais velho com registro na carteira
Segundo Carlos Magno, ‘seu’ Bernardo é a pessoa mais velha do Brasil com carteira assinada. A reportagem tentou confirmar essa informação com o Ministério do Trabalho e com o INSS, mas não obteve retorno.
Vô Bernardo nasceu em Cachoeira de Minas, município vizinho a Pouso Alegre, e lembra com detalhes sua história. “Com 10 anos já trabalhava com a minha mãe ajudando na retirada de leite para fazer queijo. Daí pra frente, fui para a roça trabalhar com os meus tios, para apanhar café. Foi indo desse jeito, melhorando um pouquinho, mas, sempre ganhando pouco.”
Sua mulher e sete dos 13 filhos que tiveram já são falecidos. O idoso teve poucos anos de estudo e aprendeu a escrever e ler apenas o próprio nome. O primeiro emprego formal na cidade foi na Sociedade Brasileira de Eletricidade, em 1970.
“Trabalhei na SBE, puxando fio no mato, montando as torres, de lá de São Paulo para cá. Fui até Araguari. Trabalhava na roça, de retireiro, aqui e ali e até que hoje graças a Deus estou trabalhando no mercado.”
Não gosta de férias
Para ‘seu’ Bernardo, o trabalho é o que ele tem de mais importante na vida e ajuda a complementar a aposentadoria. “Porque, a gente trabalhando, a gente tem o dinheirinho para comprar as coisas para beber, para vestir, para remédio. Eu gosto de trabalhar, estar no meio do pessoal, a gente se diverte um pouco. E quando chega em casa, a gente está mais alegre porque ganhou o dinheiro para sustentar a família”, comemora.
“A hora que eu não puder trabalhar mais, não sei o que eu arrumo, com a aposentadoria que se ganha é pouco e tem que pagar aluguel, água e luz. A aposentadoria ajuda um pouquinho, mas, não é tanto não”, reclama.
Quem vai até o supermercado não vê em nenhum momento vô Bernardo parado. A todo instante, se ele não está recolhendo os carrinhos, ele faz outros serviços, como varrer a entrada do local.
“Tem que obrigar ele a tirar férias de tanto que ele gosta daqui e trabalha direitinho até hoje, não tem limitação. Trabalha melhor até que muitos jovens”, confessa o sócio da empresa.
Exemplo de vida
Os clientes que vão ao supermercado se encantam com a dedicação de vô Bernardo. “Ele é uma lição de vida para todo mundo, porque, geralmente, o pessoal aposenta e quer ficar em casa, fazer outras coisas e ele optou em continuar trabalhando. Ele é uma belezinha, é muito educado, prestativo, é uma pessoa excelente. E 104 anos de vida não é qualquer um, e muito menos trabalhando igual a ele”, diz Neiza Costa, que frequenta a loja.
E para ter a idade dele são necessários mais de cinco Guilhermes, de 19 anos, que trabalha como operador de caixa no mesmo supermercado. Guilherme Alves vê no colega de trabalho um exemplo de vida e profissionalismo.
“O ‘seu’ Bernardo é uma inspiração para nós. Ele já passou por muita coisa, já trabalhou quase a vida toda e está firme e forte todos os dias, não para um minuto, é uma inspiração para todos nós da empresa. Principalmente para mim”, diz o jovem.
E o desejo de um dos homens que trabalham em idade mais avançada do país é de continuar trabalhando. “Até quando Deus der força para eu andar eu quero trabalhar. Pra mim, ficar parado não dá”, afirma vô Bernardo.