A Polícia Federal informou ontem (15) que um pescador confessou ter matado e enterrado os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Agora, os remanescentes dos corpos serão enviados para perícia ainda nesta quinta-feira (16).
Apesar da confissão do pescador Amarildo da Costa Oliveira, também conhecido como “Pelado”, a polícia não descarta o envolvimento de outras pessoas.
Dom e Bruno estavam desaparecidos desde 5 de junho, quando faziam uma expedição de barco pela região do norte do Amazonas. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a área em que a dupla navegava é “palco de disputa entre facções criminosas que se destacam pela sobreposição de crimes ambientais, que vão do desmatamento e garimpo ilegal a ações relacionadas ao tráfico de drogas e de armas”.
O que diz a investigação?
Até o momento, a investigação da PF chegou a dois suspeitos — sendo que apenas um dele confessou a autoria no duplo homicídio. A polícia agora espera a análise do material orgânico para confirmar a identificação. A expectativa é que os corpos sigam para Brasília ainda nesta tarde.
Durante a coletiva de imprensa ontem, o delegado Eduardo Alexandre Fontes, superintendente regional da PF no Amazonas, disse que Dom e Bruno teriam sido perseguidos por criminosos em uma lancha, que chegaram a realizar “disparo de arma de fogo” contra a dupla.
Ainda não se sabe, no entanto, se a dupla foi atingida e morta por esses disparos.
Quem são os suspeitos?
O pescador Amarildo havia sido preso na semana passada, mas apenas na terça-feira (14) confessou à polícia a autoria no crime. Seu irmão, Oseney de Oliveira, conhecido como Do Santos, foi preso na terça, mas negou qualquer envolvimento no duplo homicídio.
Segundo reportagem publicada pelo UOL, Amarildo afirmou à PF que esquartejou e enterrou os corpos do jornalista britânico e do indigenista. No seu depoimento, o pescador também disse ter contado com a ajuda de outras pessoas.
Foi Amarildo quem levou a PF até os corpos — que estavam a mais de 3 km da área do crime.
Quem são o jornalista e o indigenista?
Dom era correspondente do jornal The Guardian. Britânico, ele veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas e suas terras.
O jornalista conheceu Bruno em 2018, durante uma uma reportagem para o Guardian. A dupla fazia parte de uma expedição de 17 dias pela Terra Indígena Vale do Javari, uma das maiores concentrações de indígenas isolados do mundo. O interesse em comum aproximou a dupla.
Já Bruno era servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio). Era conhecido como um defensor dos povos indígenas e atuante na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiros. Em entrevista ao UOL, o líder indígena Manoel Chorimpa afirmou que o indigenista estava preocupado com as ameaças de morte que vinha sofrendo.
Como é a região do Vale do Javari?
A região do Vale do Javari é a segunda maior terra indígena no Brasil. Palco de episódios de violência, a área está localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia e abriga mais de 6 mil indígenas de 26 grupos diferentes.
Em setembro de 2017, por exemplo, o Ministério Público Federal do Amazonas confirmou o assassinato de ao menos 20 indígenas de uma aldeia isolada do Vale do Javari por garimpeiros ilegais do município de São Paulo de Olivença.
Em abril deste ano, a Unijava e o Centro de Trabalho Indígena (CTI) receberam denúncias de uma invasão de garimpeiros à comunidade de Jarinal, também na Terra Indígena. Eles participaram de uma festa em que indígenas foram abusadas sexualmente e, segundo o CTI, os indígenas foram forçados a beber gasolina com água e álcool etílico com suco.