28 março 2024

Mulher trans no AC luta na Justiça por cirurgias e fala da importância desse processo: ‘conformidade do corpo com identidade’

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Aos 19 anos, a servidora pública federal Michele Franco, de 30 anos, descobriu a sua transexualidade e, desde então, deu início ao processo de transição de gênero. Neste domingo (29), quando se comemora o Dia da Visibilidade Trans no Brasil, ela conversou com o g1 e contou um pouco da sua história e da luta para conseguir fazer as cirurgias.

Michele explicou que a transição de gênero envolve tanto a sua inclusão social, como a inclusão no mercado de trabalho, a aceitação familiar e também o conjunto de terapias hormonais e cirurgias.

“Essa transição é para que você passe por uma conformidade do teu corpo físico com tua identidade social, identidade psíquica e emocional.”
“O processo transexualizador envolve um conjunto de cirurgias, que são cirurgias corporais, que é implante mamário, as cirurgias parciais, e a cirurgia de redesignação sexual, que é a mudança de sexo. Eu cheguei em um ponto que minha terapia hormonal conseguiu mudar meu corpo. Consegui fazer uma redistribuição de gordura, ou seja, comecei a criar quadril, cintura, glúteos, mas não consegui criar mamas. Daí, tive que fazer cirurgia de implante mamário”, disse Michele.

A servidora contou que precisou recorrer à Justiça para conseguir que o plano de saúde cubra as cirurgias. Isso porque, segundo ela, o plano se nega a custear os procedimentos alegando que são cirurgias estéticas, mas ela batalha para provar que, na verdade, são cirurgias reparadoras.

“O plano de saúde negou, mesmo eu tendo todos os laudos, todas as indicações médicas e preenchendo todos os requisitos administrativos das normas da Agência Nacional de Saúde. Fiz minha cirurgia de implante mamário em janeiro de 2022, depois entrei na Justiça para que o plano me ressarcisse e também fosse obrigado a pagar as demais cirurgias do processo transexualizador. É uma situação de muita dor e sofrimento ficar esperando isso, sendo que é uma transição que iniciei há anos. Peço que nossos agentes de justiça comecem a olhar com mais carinho para essa causa e vejam que não se trata de cirurgia estética e sim reparadora, que vai fazer uma conformidade. São coisas que precisam avançar”, contou.

Michele Franco conta que iniciou processo de transição de gênero aos 19 anos — Foto: Arquivo pessoal

Michele Franco conta que iniciou processo de transição de gênero aos 19 anos — Foto: Arquivo pessoal

Apoio familiar e respeito
A servidora pública disse que, diferente da maioria das pessoas trans, ela teve muito apoio da família em todo o processo de transição. E isso, segundo ela, foi essencial durante toda a jornada.

“Costumo dizer que sou uma mulher trans privilegiada, porque tive apoio da minha família para terminar meus estudos, para conseguir um emprego, passar em um concurso que é difícil. Quando você tem apoio da sua família, as coisas são diferentes, começam a funcionar e você começa a virar exceção. Porque a maioria das meninas trans é expulsa de casa, não consegue estudar, é expulsa da escola, não tem proteção por parte da direção da escola e dos professores, não é bem acolhida pelos colegas de classe. A maioria não tem termina os estudos e fica à margem do mercado de trabalho”, afirmou.

Michele deixa um recado para as meninas e meninos trans e pede respeito e carinho da sociedade com essas pessoas.

“Digo que não desistam na primeira porta que fecha. Não desistam no primeiro olhar torto, cruzado. A gente tem que ser forte para enfrentar e temos que ser fortes para irmos atrás dos nossos desejos e sonhos. Para a sociedade, peço que olhe com mais carinho, que comece a desmistificar a imagem da mulher trans que é barraqueira, que é agressiva, porque a sociedade foi educada a nos ver como seres à margem. Hoje, ocupamos lugares inimagináveis. Quando se tem apoio da família, acesso ao ensino e à cultura, conseguimos fazer a diferença. Por isso colocamos esse dia, para lembrar que existimos, que estamos aqui e queremos espaço.”

Por G1/Ac

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