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Coletivo de estudantes indígenas luta contra preconceito dentro da Ufac: ‘precisamos ocupar espaço’

Coletivo de estudantes indígenas luta contra preconceito dentro da Ufac: ‘precisamos ocupar espaço’ — Foto: Arquivo pessoal

Implantado há pouco mais de um ano, o coletivo dos estudantes indígenas da Universidade Federal do Acre (Ceiufac) tem como objetivo preservar e fazer valer o estatuto indígena elaborado para atender e orientar os estudantes de diferentes etnias da universidade.

Em maio de 2021, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou a reitoria da Ufac que desenvolvesse ações de combate ao racismo e à discriminação étnico culturais, principalmente relacionados a indígenas na instituição. Naquela época, havia registrou de racismo contra mais de 70 indígenas.

“Nosso coletivo que é composto por estudantes indígenas que acreditam em uma universidade plural, diversa e que respeite todos os grupos presentes. Criado em meio as dificuldades, surgiu pra amparar os estudantes indígenas da Ufac, dar voz a eles no ambiente federal, reconhecimento, como também quebrar estereótipos acerca de nós estudantes indígenas”, explica o secretário do conselho, Samuel Arara, que é natural de Porto Walter, terra indígena Arara, e que aos 21 anos cursa engenharia florestal no campus em Cruzeiro do Sul.

Ele destaca ainda que a intenção é que essa coletividade defenda e valorize diversas culturas existentes no meio social.

“Com muito orgulho, estamos lutando para uma equidade perante todos e construindo um legado que certamente será promissor para os futuros estudantes indígenas. Me orgulho em compor esse movimento, em lutar pela causa indígena, defendendo a natureza, cultura e a humanidade”, destaca.

O conselho preza pela valorização da cultura, por levar o conhecimento dos direitos de estudantes indígenas àqueles que desconhecem e, acima de tudo, quebrar estereótipos.

“Precisamos ocupar espaço, defender uma causa. Indígena também pode ser engenheiro, doutor, usar iphone, ser empresário, comprar um carro. Precisamos quebrar estereótipos acerca de nós, porque o indígena imposto pelos portugueses em 1500 é muito diferente do indígena da contemporaneidade. Hoje temos liberdade de nos expressar, conhecemos nossos direitos e precisamos reivindicá-los. Eu me represento, tenho orgulho da minha identidade, luto pra honrar os meus ancestrais, valorizando minha cultura, onde quer que eu vá”, enfatiza Samuel.

Atualmente, o coletivo ainda está tentando fazer o levantamento de quantos indígenas estudam na universidade, mas o conselho atua tanto na capital como no campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, dando suporte a esses estudantes e também se reunindo para debater demandas importantes.

“No início foi bastante difícil encontrar estudantes Indígenas que abraçassem a causa. No entanto, conseguirmos reunir parceria com alguns professores, através de projetos de extensão que possibilitou a realização de atividades voltadas pra questão indígena dentro e fora da universidade. Um exemplo que posso destacar foi a realização do primeiro seminário dos acadêmicos indígena da Ufac”, pontua.

Estudantes estão fazendo uma carta à reitoria para falar sobre algumas reivindicações — Foto: Arquivo pessoal

Recentemente, o Ceiufac criou uma carta com aberta que será entregue à reitoria em 19 de abril, dia do indígena, e pretende mostrar demandas e reivindicações do grupo na instituição.

“Nós temos sim um curso voltado para a área de licenciatura indígena, mas incluir com equidade, não significa somente criar um curso e oferecer aos indígenas e aos povos da floresta. Essa universidade tem que se conectar com esses povos, ser uma universidade mais extensionista e menos burocrática. E essa conexão só pode ser feita com muito diálogo e participação da comunidade acadêmica através de políticas universitárias que oportunizem o contato com as mais diferentes formas de saberes e culturas”, destaca.

Samuel destaca que há exemplos internacionais de universidade que já fazem essa prática multicultural. Ele enfatiza ainda que a criação já foi um passo importante na garantia desses direitos, mas que é necessário um esforço de todos – alunos, reitoria e professores.

“É o primeiro movimento indígena da Ufac em mais de 50 anos de existência. É preciso que a universidade seja parceira e tenha como pilar a equidade para que essa universidade da Floresta acolha e apoie os povos da floresta”, finaliza.

Por G1 AC