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Família acusa maternidade de violência obstétrica durante parto de indígena no Acre: ‘sofreu muito’, diz mãe

 

A família da jovem Efania Valda Jaminawa, de 23 anos, está inconformada com o tratamento dado a ela durante atendimento na Maternidade Bárbata Heliodora, em Rio Branco, no último domingo (12). A indígena teve a filha de parto normal, mas precisou de um corte no períneo, procedimento chamado de episiotomia, para a criança nascer.

Segundo os parentes, esse corte foi feito sem anestesia e causou muito sofrimento à indígena. A criança, segunda filha de Efania e o marido Josemir Jaminawa, nasceu prematuro e foi levada para a UTI.

Efania foi acompanhada da mãe na hora do parto, a parteira Creuza Valda Jaminawa. A idosa informou ao g1 que solicitou à equipe médica a anestesia para a filha, mas que o pedido foi ignorado.

“Minha menina é fraca, pedi para ela colocar força que estava vendo a cabeça da menina. Uma mulher pegou uma lâmina, sem fazer anestesia, cortou minha filha. Eu quase choro, perguntei se o trabalho delas era assim. Que era bom colocar a anestesia”, disse a indígena.

Efania também segue internada na maternidade e reclama de dores após o parto. A família é da Aldeia Igarapé Preto, zona rural de Sena Madureira, e veio para Rio Branco para resolver alguns problemas. No último domingo, a jovem começou a passar mal e foi levada para a maternidade, onde entrou em trabalho de parto.

“Ela está sentindo dores onde cortaram, não está bem. Estou com ela, anda pouco. Sou mãe, acompanhei ela”, lamentou.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) e aguarda retorno.

Denúncia
O marido de Efania e pai da criança, Josemir Jaminawa, disse que foi avisado da suposta violência por uma funcionária da maternidade. A servidora falou para o indígena que sentiu pena da paciente na hora do procedimento e resolveu comentar com os parentes.

Ao saber do relato, o indígena falou que sentiu uma indignação. “Não pude entrar com ela no parto. Minha sogra falou que ela já estava tendo a bebê e cortaram ela para o bebê passar. Mas, foi a maneira que cortaram ela sem anestesia, minha esposa sofrendo. Eu fico indignado, não sei se é por a gente ser indígena que fizeram isso achando que a gente é besta. A gente merece um atendimento de responsabilidade, minha esposa sofreu”, criticou.

O pai acrescentou que vai denunciar a situação no Ministério Público do Acre (MP-AC). O órgão estadual, inclusive, fez uma cartilha orientando gestantes a detectarem os tipos de violência obstétrica durante o parto.

A cartilha Diretos da Mulheres no Parto, lançada em junho de 2019, citava violência verbal e emocional, abusos físicos, intervenções desnecessárias e até procedimentos sem a permissão da paciente como tipos de violência sofrida na hora do parto.

“É muito triste para gente, em pleno século 21, a pessoa tendo essa maldade com a gente indígena. Temos nosso respeito, merecemos ser atendidos da mesma forma que o branco é atendido, não somos animais. Temos direitos iguais. Minha esposa ainda reclama de dores, meu bebê, infelizmente, nasceu no mês que a gente não estava esperando”, confirmou.

Anestesia é recomendada
O ginecologista obstetra Gilson Lima explicou que, sempre que possível, o recomendado é sim aplicar a anestesia na paciente antes de fazer o corte no períneo. Em casos muito pontuais, como situações de emergência, pode ser feito o procedimento sem anestesia, sendo aplicada logo após.

“Mas por vezes, quando a cabeça do bebê está muito baixa, pode ser feito um corte para liberar o bebê, e não dá tempo pra anestesiar na hora, mas se anestesia logo em seguida. O parto é algo muito delicado, pois o médico tem que cuidar tanto do bem estar da mãe quanto do bebê e, por vezes, ele tem que fazer escolhas que podem prejudicar um pouco a parturiente, pensando no bem estar de seu filho. Outras vezes, o médico prioriza a mãe, dependendo do problema durante o parto ou durante a gravidez, podendo causar algum problema para o bebê”, complementou.

O profissional explica também que isso tudo precisa ser explicado para a mãe e o acompanhante durante o pré-natal. Mesmo assim, é comum a mãe chegar ao hospital com dúvidas e receosa com os imprevistos que acontecem.

Contudo, ele destacou que cada situação precisa de uma análise atenta para entender tudo o que acontece na hora do parto. “Pode ter ocorrido um caso de necessidade maior, pensando no bem estar do bebê, que poderia estar em sofrimento e ficar com alguma sequela se o médico não tomasse essa atitude, por isso teve que cortar o períneo, e teve que fazer o corte com extrema urgência, e que se fosse anestesiar com a cabeça do bebê estando muito pra fora, poderia causar uma lesão na cabeça do bebê pela agulha da anestesia”, concluiu.

POR G1/Ac