Em outubro os argentinos irão às urnas para escolher um novo presidente e Parlamento. Há alguns meses seria previsível um embate entre o superministro Sergio Massa e o ex-presidente Mauricio Macri. Porém, com a inflação ultrapassando os 100% anuais, o peronismo mais uma vez rachado e beligerante e o macrismo ainda disperso, ganha força no país o discurso antissistema da extrema-direita, nosso conhecido “contra tudo o que está aí”.
O partido Avança Liberdade, capitaneado pelo economista e deputado Javier Milei, é quem está atraindo a decepção das pessoas com o governo peronista e a falta de respostas e perspectivas da direita tradicional. A legenda usa a mesma receita utilizada em outros países. Moralismo, descrença na política, fake news, forte presença nas redes sociais e declarações agressivas para pautar o noticiário. E claro, nenhum projeto para o país.
Tudo se resolveria reduzindo os gastos estatais, dolarizando oficialmente a economia ou dinamitando o Banco Central. Na pauta de costumes, desprezar os direitos das mulheres, eliminar as leis de aborto, ignorar o racismo, liberar a acesso às armas e até autorizar a venda de órgãos. Fechando o pacote, negar a violência do Estado durante a ditadura militar e defender o país contra o comunismo.
Pesquisa realizada pela Management & Fit, mostra que 31% dos eleitores têm uma imagem positiva de Milei e 35% negativa. Um resultado bem melhor do que Macri (26% x 54%) e Cristina Kirchner (25% x 66%) e Alberto Fernandez (15% x 71%). Analistas preveem um aumento da capilaridade da extrema-direita no país. Se nas eleições de 2021 ela se concentrou nos bairros de classe média de Buenos Aires – o partido obteve 17% dos votos na capital – o discurso extremista conquista eleitores nos bairros mais pobres e no norte do país.
Se o peronismo olha para esse movimento com preocupação, a direita acendeu o alerta e sente-se acuada. Afinal, esse é o campo político em que ele passeia e arranca votos. Pesquisas encomendadas por dirigentes do partido Todos pela Mudança (legenda de Macri) mostram Milei com 20% a 24% dos votos nas eleições presidenciais.
Além das batalhas internas para decidir um nome, o partido não sabe qual estratégia utilizar contra a extrema-direita. Seu discurso liberal-conservador está estagnado e não dialoga com as classes mais baixas e os mais jovens. E ainda perdeu a última eleição por conta dos fracassos econômicos de Macri.
É um cenário imprevisível com ingredientes explosivos. Se irromper uma convulsão social similar ao curralito de 2001, Milei seria o maior beneficiado. Em parte, seu discurso irresponsável e violento tenta alimentar esse sentimento. Tanto o peronismo quanto a direita só oferecem respostas burocráticas para os problemas do país. O desespero e a descrença podem derrotá-los.
Via Metrópoles