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Acreano faz Rota de ônibus mais longa do mundo sai do Brasil e dura 5 dias: ‘É surreal’

Motorista mora no Acre e sai para viagem uma vez a cada 15 dias Imagem: Pietra Carvalho/UOL.

Em uma plataforma na rodoviária do Tietê, em São Paulo, passageiros aguardavam com muita expectativa na bagagem. Eles encarariam milhares de quilômetros de estrada em uma rota de ônibus que, orgulhosamente, se define como “a mais longa do mundo”.

Seis mil quilômetros separam o Rio de Janeiro de Lima, no Peru. A paradinha estratégica em São Paulo é apenas uma das 30 do roteiro, que demora cinco dias e atravessa paisagens que vão da neblina paulistana ao verde amazônico, passando pela Cordilheira dos Andes.

A Transacreana, com base em Rio Branco, é a responsável desde abril pela operação do trecho — que, no passado, entrou para o Guinness como a viagem de ônibus mais longa do mundo.

E Josué Ribeiro, de 40 anos, é um dos que assume o comando da cabine do ônibus. Sua experiência não poderia ser melhor para uma viagem cheia de surpresas.

Ex-técnico de enfermagem, ele abandonou a área da saúde há 16 anos, depois de fazer a vida “pilotando” ambulâncias. Agora, alterna 15 dias na estrada com 15 dias em casa, em Rio Branco.

A viagem, claro, não é feita sozinha. Josué e colegas se revezam em turnos de quatro horas, com três paradas mais longas por dia.

“Fiz isso porque gosto de viajar, sempre gostei, mesmo quando trabalhava na saúde no Acre, as férias sempre foram de viagem de carro com a minha família.”

Antes de encarar a rota Rio — Lima, Josué já tinha começado a carreira internacional, mas de forma mais modesta. Ele ia de Rio Branco a Porto Maldonado, no Peru, em uma viagem de 530 km.

Mal da altitude

Outros trechos, no entanto, não são capazes de preparar os profissionais para os desafios impostos pelas estradas que vão até Lima, construídas em serras que castigam os profissionais com o “mal da altitude”.

Cusco, no Peru, por onde o ônibus passa, fica mais de 3.300 metros acima do nível do mar, em meio aos Andes peruanos. O ar rarefeito, com menos oxigênio, causa sintomas desagradáveis como dor de cabeça, enjoo, dificuldade de respiração e fraqueza.

Nem a mulher de Josué, acostumada a viajar com ele, encara a rota. “Formei minha família já motorista e minha mulher gosta de viajar também, então quando está de férias ela viaja comigo. Só para o Peru que ela não vai, porque sente muita enxaqueca.”

”Sempre tem dois motoristas na frente, caso quem estiver no volante passe mal, principalmente na parte da Cordilheira. Tem umas serras que estão a 4 ou 5 mil metros de altitude e às vezes dá náuseas, o pessoal fica tonto. Na primeira vez que fui, senti, mas não foi nada tão extremo. Vamos nos acostumando com o passar dos dias.”

Outro desafio, segundo o motorista, é a segurança nas estradas no Peru, cheias de pontos cegos pelo relevo acidentado. É preciso abusar das buzinas nas curvas para alertar quem vem do outro lado.

Apesar das dificuldades, as vantagens superam os perrengues, segundo o motorista.

Apaixonado pelas estradas, Josué entende bem por que os clientes escolhem viajar de ônibus, mesmo que o trecho de cinco dias seja muito mais cansativo do que as cinco horas de voo entre São Paulo e Lima.

”A visão é única. Na primeira viagem nessa rota, teve cliente que faria a ida de ônibus e voltaria de avião, mas gostou tanto que decidiu retornar com a gente também. É satisfatório saber que as pessoas estão vendo coisas novas. Eles querem muito ver as serras, filmar a Cordilheira, a mudança da parte da Amazônia para a parte que já é deserto. É surreal.”

Via UOL