Guerra de facções faz Rio Branco registrar mortes e ataques em apenas um dia: ‘execuções são casos pontuais’, diz secretário

A capital acreana registrou uma série ataques nessa quarta-feira (12) que resultaram em três mortes violentas em um curto intervalo de tempo. De acordo com o secretário estadual de Segurança Pública, coronel José Américo Gaia, as investigações preliminares indicam que duas dessas mortes têm ligação com disputa entre facções criminosas que atuam na região.

Entre elas a morte do estudante Júnior Henrique Miranda, de 15 anos, que foi assassinado no bairro Santa Inês, depois de sair da aula, na Escola Estadual Antônia Fernandes, por volta das 11h20. E José Raclilson Viana de Oliveira, de 36 anos, que foi atingido por um tiro na cabeça no Conjunto Habitacional Cidade do Povo. Em ambos os casos, nenhum suspeito foi preso.

As investigações preliminares indicam que os motivos por trás de cada caso são distintos, no entanto, estão ligados à guerra entre grupos criminosos. Segundo o secretário, o adolescente teria “desagradado” uma facção ao divulgar um vídeo na internet elogiando um grupo rival, o que pode ter levado à sua execução. Já o homicídio de José Raclilson está possivelmente ligado à sua intenção de mudar de facção.

“A gente já tem relatos do que motivou cada caso desse em separado, soubemos disso quase que de imediato após o ocorrido. Inclusive, já foram identificados os autores. O que pode ter uma certa ligação, mas não comprovada ainda, é entre o homicídio dos faccionados. Um deles teria sido porque ele andou desagradando uma facção, fez uma live enaltecendo uma facção e a outra foi lá e executou o rapaz. O outro porque era conselheiro de uma facção e estaria talvez com intenção de migrar para outra facção. Esses são os levantamentos que a gente fez até o momento”, informou o secretário.

Embora a situação seja preocupante, o secretário Gaia afirmou que, de 2012 a 2022, o Acre tem registrado uma diminuição na taxa de homicídios por 100 mil habitantes.

“Mesmo com essas mortes que tivemos agora, nós não extrapolamos a média nacional de homicídios por 100 mil habitantes. Não podemos dizer que perdemos o controle ou dizer que as facções tomaram conta, isso não está acontecendo. As respostas a esses casos são bem pontuais pelas forças de Segurança Pública. Isso realmente acontece, eles entram em desacordo e sempre um lado tenta se vingar do outro, mas isso vem acontecendo no cenário nacional e no Acre não seria diferente. Essa situação não é que estamos em uma onda de violência, ela vem seguindo a mesma linha, mantendo uma média”, afirmou Gaia.

No entanto, segundo dados do Monitor da Violência, o Acre registrou um aumento de 20,9% no número de mortes violentas registradas nos primeiros três meses de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram contabilizadas 52 mortes violentas no estado acreano durante os meses de janeiro, fevereiro e março. No mesmo trimestre do ano passado, o estado contabilizou 43 mortes.

O secretário informou que as forças de segurança estão intensificando o policiamento nos bairros de Rio Branco que têm maiores incidências desse tipo de ocorrência.

“As forças de segurança estão atentas, redobrando a atenção e policiamento nesses bairros, atendendo os bairros que as vezes são passíveis de acontecer esse tipo de ocorrência. Mas, é como tenho dito, as execuções são casos pontuais, isolados, exatamente na ausência da polícia, que não consegue ser onipresente.”

Adolescente foi atraído para beco

Júnior Miranda tinha saído da escola quando foi atraído para um beco e morto com um tiro na cabeça. Testemunhas que presenciaram o crime, entre elas estudantes e colegas da vítima, falaram que o adolescente foi chamado para o local, onde há uma passarela que liga os bairros Santa Inês e Recanto dos Buritis, por alguns rapazes.

Essas pessoas teriam ouvido o aluno ser questionado sobre uma live. Na passarela, o adolescente levou um tiro na cabeça e morreu no local. Os criminosos fugiram antes da chegada da polícia, que foi acionada por populares.

Morto após convite de colega

Sobre a morte de José Raclilson de Oliveira, a Polícia Militar registrou as informações repassadas pela esposa da vítima, que estava com ele no momento do crime. A mulher relatou que o marido foi convidado a ir na casa de um colega do bairro e ela o acompanhou.

Ao chegarem na residência, havia mais três pessoas. O grupo ficou conversando e, depois de algum tempo, outras duas pessoas chegaram no portão chamando o dono da casa e pedindo para entrar.

Ainda segundo o registro policial, o dono da casa abriu o portão e essas pessoas foram direto em direção a José Raclilson de Oliveira, que foi agredido a socos e pontapés. A mulher falou que foi obrigada a sair da casa após ser ameaçada de morte. Após alguns instantes, ela retornou e já achou o marido caído sem vida na rua. A perícia constatou que a vítima tinha duas marcas de tiros no corpo, sendo um na nuca e outro do lado da cabeça.

Por: G1 – Acre.