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Há 134 anos, Luis Gálvez fazia do Acre um país e uma República independente no meio da floresta

Nesta sexta-feira, 14 de julho de 2023, o Acre completa exatos 134 anos em que foi oficialmente declarado um país independente, no curto período do império do espanhol Luis Gálvez de Arias, nascido em San Fernando, em 1864, e falecido em Madrid, em 1935, na Espanha. Coincidência ou não. neste mesmo dia, 100 anos antes, era deflagrada a Revolução Francesa, com a queda da Bastilha, a penitenciária no centro de Paris em que eram mantidos encarcerados os presos opositores do absolutismo do império da França.

A coincidência das datas não teria sido por acaso. Gálvez teria fundado o Estado Independente do Acre, desmembrando o território da Bolívia, país que reivindicava a posse da área correspondente a duas Autrias e bem maior que toda a área territorial de Portugal.

O escritor amazonense Márcio Souza, autor da novela folhetinesca “Gálvez – Imperador do Acre”, mostra que Luis Gálvez foi um jornalista, diplomata e aventureiro espanhol que proclamou a República do Acre em 1899. Ele governou a República do Acre entre 14 de julho de 1899 e 1 de janeiro de 1900 pela primeira vez, e entre 30 de janeiro e 15 de março de 1900, pela segunda e última vez. Chegou a ser deposto por um movimento de seringalistas brasileiros exatamente por ser estrangeiro, mas um mês foi devolvido ao posto.

Gálvez não era exatamente um aventureiro. Estudou ciências jurídicas e sociais na Universidade de Sevilha e depois trabalhou no serviço diplomático espanhol em Roma e Buenos Aires. Migrou para a América do Sul para procurar o Eldorado da Amazônia, em 1897. Em Belém do Pará foi jornalista no Correio do Pará. Em Manaus, escreveu para o jornal Commercio do Amazonas.

Logo depois do governo boliviano celebrar um acordo de comércio e exportação de borracha, através de um Contrato de Arrendamento com um sindicato de capitalistas estrangeiro, o Bolivian Syndicate, presidido pelo filho do então presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, Galvez recebe um cópia do documento para ser traduzido para o inglês, como funcionário do Consulado boliviano em Belém.

Leva o assunto ao conhecimento do governador Ramalho Júnior e revela seu intento de promover a independência do Acre. O governador apoia a ideia clandestinamente, fornecendo recursos financeiros, armas, munições, provisões, um navio especialmente fretado e equipado com um canhão e uma guarnição de vinte homens.

Gálvez então passa a liderar uma rebelião no Acre, com seringueiros e veteranos da guerra de Cuba, no dia 14 de julho de 1899, propositadamente a data do aniversário de cento e dez anos da Queda da Bastilha. Fundou a República Independente do Acre, justificando que “não podendo ser brasileiros, os seringueiros acreanos não aceitavam tornar-se bolivianos”.

Implantou o governo do país, que os Estados Unidos classificaram como um país da borracha. Chamado Imperador do Acre, assumiu o cargo provisório de presidente, instituiu as Armas da República, a atual bandeira, organizou ministérios, criou escolas, hospitais, um exército, corpo de bombeiros, exerceu funções de juiz, emitiu selos postais e idealizou um país moderno para aquela época, com preocupações sociais, de meio ambiente e urbanísticas. Também baixou decretos e envia despachos a todos os países da Europa, além de designar representantes diplomáticos.

Um golpe de Estado em seu governo com apenas seis meses de existência o retirou do cargo, sendo substituído pelo seringalista cearense Antônio de Sousa Braga, que um mês depois devolveu o poder a Gálvez.

O Tratado de Ayacucho, assinado em 1867 entre o Brasil e a Bolívia reconhecia o Acre como possessão boliviana. Por isso, o Brasil despachou uma expedição militar composta por quatro navios de guerra e um outro conduzindo tropas de infantaria para prender Luis Galvez, destituir a República do Acre e devolver a região aos domínios da Bolívia. No dia 11 de março de 1900, Luis Gálvez rendeu-se à força-tarefa da marinha de guerra do Brasil, na sede do seringal Caquetá, às margens do rio Acre, para depois ser exilado em Recife, Pernambuco. Mais tarde foi deportado para a Europa.

Gálvez ainda retornou ao Brasil, anos depois, mas o governo do Amazonas o prendeu e o recambiou para o Forte de São Joaquim do Rio Branco, hoje estado de Roraima, de onde fugiria tempos depois. Morreu na Espanha.

No Acre, o espanhol é lembrado com homenagens. Na entrada da Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac) há uma estátua de Gálvez e atrás dele a bandeira do Estado Independente do Acre,criada porele. Nela, está escrito “Se a Pátria não nos quer, criamos outra! Viva o Estado Independente do Acre!”, frase que foi dita por Gálvez no dia 14 de julho de 1899, durante a declaração da República do Acre perante a população que ali habitava. A frase virou um “bordão” e, até hoje – mais de 1 século depois de dita pelo Imperador Gálvez – a maioria dos acreanos não a conhece perfeitamente.

Por G1AC.