Matador em série e chefe de facção estão entre os mortos em rebelião de presídio de segurança máxima no AC

A Secretaria Estadual de Segurança Pública do Acre confirmou nesta sexta-feira (28) a identificação dos cinco presos que foram mortos durante a rebelião no presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro Alves, em Rio Branco, que durou mais de 24 horas.

A Segurança afirmou que o que o motivou a rebelião foi uma tentativa de fuga dos presos, mas há a hipótese também de ter sido por disputa de território entre facções criminosas rivais. Porém, a Sejusp disse que essa possibilidade ainda é investigada.

Os mortos são considerados chefes de uma organização criminosa e, segundo o Instituto Médico Legal (IML), três deles foram decapitados.

A rebelião no presídio de segurança máxima começou por volta das 9h de quarta-feira (26) e acabou às 10h dessa quinta (27). Um policial penal foi mantido refém pelos detentos durante toda a ação e, ao ser liberado, foi levado para o Pronto Socorro. Um outro policial foi atingido logo no primeiro dia com um tiro de raspão na região ocular e também foi parar no PS.

Entre os executados estão:

  • Ricardinho Vitorino de Souza – vulgo Anjo da Morte: Conhecido como matador de um grupo criminoso que atua na capital, ele estava preso desde fevereiro de 2020. Na época da prisão, a Polícia Civil informou que ele executava ordens que partiam de dentro do presídio junto com outros comparsas. Ele confessou participação em 15 homicídios ocorridos na capital acreana.
  • Marcos Cunha Lindoso – vulgo Dragão: Considerado um dos maiores chefes de uma facção criminosa com atuação no estado, ele foi preso em São Paulo em 2018. Ele chegou a ser resgatado quando participava de uma feira de artesanato no Centro de Rio Branco, durante atividade externa. Ele era condenado por tráfico de drogas e por integrar organização criminosa.
  • Francisco das Chagas Oliveira da Silva – vulgo Ozim: Também ligado a uma facção criminosa. Ele foi condenado em 2020 a mais de 20 anos por integrar organização criminosa.
  • Lucas de Freitas – vulgo Poloco: Em 2020, ele foi condenado a mais de 29 anos pela morte de Florípedes Paixão dos Santos, de 37 anos, ocorrida em abril de 2015. Ele também era suspeito de envolvimento em um latrocínio de um policial militar aposentado.
  • David Lourenço da Silva – vulgo Mendigo: Ele cumpria pena por integrar organização criminosa.

Investigações

Em coletiva, nessa quinta-feira (27), a Segurança informou que ainda não sabe como a rebelião iniciou e nem como os presos tiveram acesso a 15 armas usadas para manter um policial penal e um detento reféns por mais de 24 horas. Na ação, cinco presos foram mortos por outros detentos.

Outra versão é de que a rebelião teria sido causada por um grupo criminoso que queria demonstrar poder. A ação teria sido orquestrada para que esse grupo pudesse matar membros da facção rival.

“Tivemos uma situação de crise no presídio Antônio Amaro, quando aproximadamente 13 detentos tentaram empreender fuga do presídio, rendendo o faxineiro e um policial penal. No primeiro momento houve uma tentativa de sair dos presídios e foram impedidos pela guarnição do Iapen [Instituto de Administração Penitenciária]. O que vale ressaltar é que não tivemos uma rebelião, tivemos uma tentativa de fuga com tomada de refém e, infelizmente, constatamos os cinco detentos que serão identificados e depois divulgados os nomes dessas pessoas”, disse o secretário.

O presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen-AC), Glauber Feitoza disse ainda que vai ser feito um levantamento sobre os danos na estrutura.

O representante do Conselho Comunitário da OAB-AC, Romano Gouveia, que acompanhou as negociações falou que o foco foi garantir o restabelecimento da ordem.

“O presídio ficou totalmente tomado pelos reeducandos. Temos uma fragilidade que vai ser corrigida pelo Estado e agora cessou. Os presos estavam com fuzil e adentraram em todos os setores. Acompanhamos as negociações e neste momento começa o trabalho da perícia, que não podemos interferir. O que sabemos é de cinco corpos. Agora, as imagens vão dizer quem atacou e quem invadiu os prédios”, disse.

Medidas de segurança

As visitas nos presídios devem ser suspensas até que tudo seja apurado. Ainda na manhã dessa quinta-feira (27), membros do Ministério Público do Acre (MP-AC) e delegados da Polícia Civil foram ao presídio ouvir testemunhas. A Sejusp informou que, inicialmente, 13 presos teriam iniciado a rebelião. Mas, esse número pode aumentar de acordo com as oitivas.

Desde a noite de quarta-feira (26), a Polícia Militar reforçou o efetivo nas ruas da capital. “Continuamos atentos com o reforço do policiamento na capital, nos pontos mais sensíveis onde tivemos informações de conflito”, destacou o secretário da Sejusp.

Em coletiva, a PM falou que já prenderam quatro pessoas que estariam planejando retaliações.

O gabinete de crise do governo também informou que uma equipe da Secretaria Nacional de Políticas Penais deve chegar ao estado com o objetivo de avaliar o cenário e tomar as providências necessárias para evitar desdobramentos da rebelião.

O Batalhão de Operações Especiais (Bope) e representantes do Ministério Público também estão dentro do presídio.

IML isolado

Um esquema de segurança foi montado na frente do Instituto Médico Legal (IML) em Rio Branco . Desde a noite de quarta-feira (26), familiares de presos buscavam informações. Após o fim da rebelião, mais famílias se reuniram em frente ao instituto.

Os corpos chegaram ao local por volta das 12h25 dessa quinta (27) e os nomes dos presos mortos só foram divulgados nesta sexta (28), após a confirmação da identificação.

Sobre o presídio

O presídio de Segurança Máxima Antônio Amaro Alves existe há 15 anos e tem, ao todo, 99 presos. Instituto de Administração Penitenciária do Estado do Acre (Iapen-AC). Os tipos de presos são aqueles que exercem poder de liderança nos grupos criminosos que fazem parte. Os grupos criminosos são separados por pavilhões.

Rebelião

A rebelião, segundo o gabinete de crise, começou por volta das 9h30 (horário do Acre). Segundo informações do gabinete de crise, os presos renderam policiais penais e tiveram acesso às armas que foram usadas para tomar o presídio. Foram mais de 24 horas de rebelião e mais de 16 horas de negociação.

Um policial penal do Grupo Penitenciário de Operações Especiais (GPOE) foi atingido no início da ação, com um tiro de raspão na região ocular. E outro foi pego como refém e permaneceu na mira dos presos até o fim da rebelião.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, colocou equipes à disposição para apoiar o governo do Acre. “Em face de crise no sistema penitenciário estadual do Acre, falei com o governador Gladson Cameli e coloquei nossa equipe à disposição para auxiliar no que for cabível”, disse o ministro.

Por: G1 – Acre.