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Novo presidente do ICMBio denuncia desmatamento no Acre e atuação de quadrilhas

O novo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires, indicado pela ministra Marina Silva, concedeu entrevista exclusiva à Agência Pública, e abordou a questão do desmatamento no Brasil.

Ao citar a Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, Mauro disse que a questão do desmatamento não é só o que preocupa na região. Além dos números preocupantes que se expandiram nos últimos anos, o problema está atrelado ao declínio dos recursos naturais e da biodiversidade.

O novo presidente ainda faz denúncias graves em relação às atividades predatórias na Resex, que fica localizada no município de Xapuri, terra de Chico Mendes.

“Às vezes, a gente olha para o desmatamento como único indicador, e não é bem assim. Em alguns lugares, o desmatamento é o fator mais crítico, mas em outros é o declínio dos recursos naturais, da biodiversidade, da espécie A, B ou C. Aí vão dizer que na Reserva Extrativista Chico Mendes [no Acre] tem um desmatamento muito grande, é verdade. Ali é um caso que nos preocupa bastante, porque o desmatamento se expandiu [nos últimos anos]. Mas quando se analisa por que expandiu, constata-se que localmente há uma campanha midiática contra as unidades de conservação e o aliciamento de populações [extrativistas] para atividades predatórias. Chega uma pessoa pedindo para criar gado na reserva em troca de dinheiro, e o morador, como está sem opção, já que não houve investimento naquela unidade de conservação, acaba bastante vulnerável”, disse Mauro em entrevista à Pública.

Mauro Pires, novo presidente do ICMBio. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Ainda na entrevista, Mauro aproveita para dar uma possível solução para o problema. O novo presidente disse que o Ministério do Meio Ambiente está retomando o Programa Bolsa Verde.

“As famílias que estiverem cadastradas no CADÚNICO dentro de unidade de conservação e comprometidas com a conservação vão receber um recurso trimestralmente [a expectativa é abranger inicialmente 30 mil famílias da Amazônia]. Isso não é nada novo, existe desde 2011, mas foi interrompido [na época eram concedidos R$ 300 reais a cada 3 meses]. Vamos voltar com esse programa. O que a gente precisa é fortalecer e executar a política pública, trazer a educação, a saúde, a igualdade racial. É levando política pública que pessoas vão ser parceiras da conservação, porque elas veem o valor daquela área, têm ligação com a terra e com a floresta”, finalizou.

Como surge a Resex Chico Mendes

Em março de 1990, o governo criou a Reserva Extrativista Chico Mendes, cobrindo 970 mil hectares, distribuídos por Xapuri e seis outros municípios do Acre.

Enquanto a floresta dentro da área protegida foi preservada, os arredores sofreram com o desmatamento. Hoje, mais de três décadas depois da morte de Chico Mendes, a Resex é cercada por grandes fazendas de gado que exercem forte pressão sobre ela.

Com a economia extrativista passando por altos e baixos, a maioria dos residentes optou por fazer da criação de gado sua primeira fonte de renda. O plano de uso da Unidade de Conservação, contudo, proíbe a pecuária como atividade principal, limitando a criação de animais a uma área de 15 hectares, e apenas para a subsistência das famílias.

O avanço do gado dentro da reserva é o principal motor do desmatamento, causando a perda de mais de 6% de sua cobertura florestal original. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Resex Chico Mendes registrou, entre agosto e a primeira quinzena de outubro de 2019, 804 dos 2.936 focos de queimadas detectados em todas as Unidades de Conservação federais da Amazônia Legal. Esses números superam até os detectados em unidades localizadas no Pará, estado conhecido por liderar o ranking de destruição da Amazônia.

O sistema Prodes do INPE também indica um acúmulo de 167 km2 de floresta desmatada nos últimos 10 anos dentro da reserva, com picos observados em 2016, 2018 e, principalmente, em 2019: 29 km2, 24 km2 e 74 km2, respectivamente.

Por: Contilnet com informações da WWF Brasil.