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A perseverança de Thaina Barros: Da periferia de Rio Branco à Faculdade de Medicina da UFAC

Nessa segunda-feira (9), Thaina Barros, uma jovem de 18 anos, iniciará uma nova etapa de sua vida: seu primeiro dia de aula no curso de medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac). Moradora da periferia de Rio Branco, no bairro Taquari, uma área marcada pelos altos índices de criminalidade na capital, Thainá é um exemplo vivo de como a educação pode transformar vidas.

Criada pelos avós, Thainá sempre estudou em escolas públicas. Durante os últimos anos do Ensino Médio, ela teve que encontrar uma maneira de continuar seus estudos durante a pandemia, sem prejudicar sua preparação para o Enem. Sem acesso à internet e a um computador, Thainá foi beneficiada pelo MedAprova, um programa gerenciado por estudantes da UFAC, que oferece cursinhos preparatórios gratuitos.

“No terceiro ano do ensino médio, por não ter como me deslocar até a UFAC, comecei a dividir um cursinho preparatório online (Aprova total) por ser mais acessível. Minha rotina consistia em sair de casa às 5h40 para chegar às 7h00 (horário de aula) no IFAC. Por morar no Taquari, tinha que pegar dois ônibus na ida e mais dois na volta todos os dias, pois minha escola ficava no Xavier Maia, do outro lado da cidade”, explicou.

Além do cursinho preparatório, Thaina precisou encontrar uma forma de se manter nos estudos. “Pela manhã, eu seguia minha rotina normal de aulas e, durante a tarde, estagiava no próprio Instituto Federal para ter dinheiro e poder continuar estudando. Aproveitava os horários de almoço e intervalos para revisar os conteúdos para o ENEM. Após meu horário de trabalho, estudava e retornava para casa mais tarde, chegando todas as noites”, compartilhou.

Fora da curva

Nas redes sociais, assim que soube que havia sido aprovada no curso, Thaina publicou um texto poderoso sobre suas experiências na infância. Ela se considerou uma “sobrevivente da criminalidade” e foi além, afirmando: “A filha do zelador e da desempregada agora será médica”, em referência aos avós.

“Para mim, essa aprovação representa a quebra de um ciclo. Meus avós não concluíram o ensino fundamental, e minha mãe também não. Moro em um bairro onde é esperado que os jovens estejam entregues à criminalidade. Quando eu disse que sou ‘sobrevivente da criminalidade’, não quis dizer que é isso que acontece onde moro, mas estou enfatizando o que é esperado e determinado pela sociedade. Assim como eu, muitos outros estão lutando para entrar em uma universidade pública ou para concluir o ensino superior, trabalhando para se manter. Muitas vezes, não recebem investimento e ajuda do poder público, especialmente na educação, segurança e em espaços culturais para esses jovens”, ressaltou Thainá.

Inspiração

Thaina expressou o desejo de que histórias como a dela se tornem mais comuns, e que cada vez mais jovens de periferia possam ocupar as cadeiras das universidades.

“Honestamente, eu não queria que a minha história fosse motivo de notícia. Não me sinto mais merecedora. Deveria ser comum que pessoas como eu, de classe baixa, moradoras de periferia e que estudaram a vida toda em escolas públicas, ocupassem espaços em cursos elitizados, mesmo em uma universidade pública. Infelizmente, muitas vezes, essas pessoas não conseguem estudar devido às condições em que vivem ou desistem no meio do caminho devido às dificuldades enfrentadas”, desabafou a jovem.