Autoridades sabiam desde 2014 sobre o risco de deslizamentos na vila Arumã, no interior do Amazonas, que foi engolida após um desabamento no fim de semana. Mais de 40 casas foram arrastadas para dentro do rio que banha o vilarejo, duas pessoas morreram e outras três seguem desaparecidas.
Um relatório do Serviço Geológico do Brasil (SGB), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, apontou, nove anos atrás, uma “cicatriz” de cerca de 90 metros no solo do povoado, o que indicava um processo de deslocamento de massa em curso. O alerta veio acompanhado da foto abaixo, com a área demarcada em vermelho.
Imagem de satélite de 2003 revela alto risco de deslizamento do tipo ‘terras caídas’ e inundação na Vila de Arumã — Foto: Reprodução/Serviço Geológico do Brasil (SGB)
👉 O relatório ressalta ainda que o solo é argiloso e que o local fica próximo de uma curva do rio, afetada pela erosão fluvial.
O laudo fazia parte de um levantamento do SGB sobre ações emergenciais para identificar no município de Beruri, onde fica a vila, as áreas de alto risco e muito alto risco de enchentes e movimentos de terra, que estão demarcadas em vermelho na foto abaixo.
Imagem de satélite de 2006 mostra, em vermelho, os setores de alto risco de deslizamento de terra em Beruri — Foto: Reprodução/SBG
O SGB ainda destacou que, naquela época, a comunidade, que fica na margem do rio Purus, a cerca de 6 horas de barco de Manaus, já havia sido afetada por deslizamentos, fenômeno conhecido como “terras caídas”. (Veja mais abaixo.)
O documento foi feito com o acompanhamento da Defesa Civil local à época e está disponível para consulta pública no site do SGB.
Segundo o SGB, o Amazonas tem 361 áreas consideradas como de risco hidrológico e geológico. Dentre as áreas, 119 delas estão relacionadas ao fenômeno de terras caídas, incluindo Beruri.
Vila Arumã atingida por deslizamento de terra no Amazonas — Foto: Divulgação
Impacto da seca severa
A seca extrema que atinge a região da Amazônia pode ter agravado o desmoronamento de terra na vila Arumã.
A estiagem prolongada e fora do normal nos rios da Amazônia, que tem castigado milhares de moradores na região, está relacionada, segundo especialistas, à combinação de dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas: o El Niño (que é o aquecimento do oceano Pacífico) e a distribuição de calor do oceano Atlântico Norte.
Apesar de os reflexos dos dois fenômenos ocorrerem em regiões diferentes da Amazônia, o aquecimento das águas do oceano desencadeia um mecanismo de ação similar sobre a floresta: a redução de chuvas na região, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com isso, o início do período de chuvas, que deveria ser em novembro, vai atrasar.
A estiagem é mais grave na chamada Amazônia Ocidental, composta por Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas.
Os bancos de areia, que a cada dia que passa ficam mais visíveis e extensos, devem aumentar de tamanho com a persistência da seca. Além da navegação, os desdobramentos podem ser sentidos na pesca, na agricultura e no equilíbrio ambiental.
Com Informações g1