O mais recente conflito entre Israel e o Hamas, que entrou no segundo dia neste domingo (8), expõe um impasse entre grupos diferentes que se estende por décadas. Há mais de 70 anos, a região vive uma disputa por territórios, que já resultou em enfrentamentos armados e mortes.
Apenas neste último conflito, que se iniciou após um ataque inesperado do Hamas no sábado (7), já são mais de 500 mortes confirmadas em Israel e na Faixa de Gaza. Além disso, há milhares de pessoas feridas, entre israelenses e palestinos.
Mas, afinal de contas, qual é a diferença entre israelenses, palestinos e o grupo Hamas?
Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, explica que há três principais pontos para explicar essa pergunta.
Em termos gerais, segundo Fancelli, seria possível definir os grupos da seguinte maneira:
Veja, a seguir, mais detalhes sobre cada um desses pontos.
Jovem com a bandeira de Israel pintada no rosto, em Tel Aviv, em foto de 19 de abril — Foto: Reuters/Amir Cohen
Em 1947, as Nações Unidas propuseram a criação de dois Estados: um judeu e um árabe. Esses Estados seriam instalados na Palestina, sob um mandato britânico.
A ideia, segundo Uriã Fancelli, era “concretizar a promessa de se fundar um território para os judeus, que estavam há muitos séculos dispersos pelo mundo e que haviam acabado de sofrer uma perseguição inimaginável pelo Holocausto”.
“Israel foi fundada para ser o ‘lar dos judeus’, que começaram a imigrar de diversos países do mundo para se concentrar no país”, explica.
À época, a proposta foi aceita por líderes judeus, mas rejeitada pelo lado árabe. Com o impasse, os judeus proclamaram o Estado de Israel em 1948, gerando revolta entre palestinos. Isso resultou na guerra árabe-israelense, no mesmo ano.
Mulheres palestinas acenam com bandeiras palestinas e mostram o gesto de vitória durante um protesto perto da fronteira com Israel, na Faixa de Gaza, em 30 de março de 2018. — Foto: Mohammed Abed/AFP
Diante do conflito, a comunidade internacional propôs a criação de um Estado palestino que deveria coexistir em paz com Israel.
Segundo Fancelli, muitos palestinos acabaram se dispersando para territórios vizinhos após a fundação do Estado de Israel, como a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
“Apesar de a maior parte dos palestinos estarem em Gaza e na Cisjordânia, as duas regiões são geograficamente separadas por Israel”, diz.
“Em 2012, a ONU reconheceu o “Estado da Palestina” como Estado observador, mas ainda não há um território muito bem delimitado do que seria esse Estado.”
O braço armado do Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, seguram uma bandeira palestina enquanto destroem um tanque das forças israelenses em Gaza — Foto: Getty Images/Via BBC
Mesmo com interferência da comunidade internacional e com várias tentativas de manutenção da paz na região, os conflitos persistiram. Isso abriu espaço para que um grupo islâmico armado ganhasse força: o Hamas.
Segundo Fancelli, desde 2006 o Hamas tem o controle da Faixa de Gaza, onde moram cerca de 2 milhões de palestinos. O grupo radical quer a extinção do Estado de Israel.
“Algo importante de frisar é que a maior parte dos integrantes do Hamas é de palestinos, contudo, nem todo palestino necessariamente faz parte do Hamas.””Confundir os palestinos com o Hamas é a mesma coisa que dizer que todo afegão é membro da Al-Qaeda”, explica.
Por Wesley Bischoff, g1 — São Paulo