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Seca extrema na Amazônia revela gravuras pré-Coloniais desconhecidas de 2.000 Anos

A seca extrema na Amazônia tem revelado, nas últimas semanas, dezenas de gravuras pré-coloniais esculpidas em pedras cerca de 2.000 anos atrás, desconhecidas pela maioria das pessoas. Essas descobertas aconteceram em uma área da capital do Amazonas, conhecida como Praia das Lajes.

Lívia Ribeiro, uma administradora local, quis verificar a veracidade do que amigos de Manaus estavam comentando: uma inesperada aparição de dezenas de gravuras rupestres com formas humanas às margens de um rio amazônico. “Achava que fosse mentira. Nunca havia presenciado isso, vivo em Manaus há 27 anos,” disse ela, impressionada com as gravuras que a fizeram refletir sobre seus antepassados.

Normalmente, o registro arqueológico fica coberto pelas águas do rio Negro, cujo nível atingiu o ponto mais baixo em 121 anos na última terça-feira (17).

Essas gravuras, que encantam tanto cientistas quanto o público em geral, surgem em um momento de emergência para centenas de milhares de pessoas na região, que enfrentam dificuldades devido à seca.

“A gente pode vir, olhar, achar bonito, mas muitas pessoas passam necessidade neste momento, e a gente pensa nelas. Também imagino se daqui a 50, 100 anos, esse rio vai existir,” observou Lívia.

Seca na Amazônia Agravada pelo El Niño

A seca na Amazônia reduziu drasticamente o nível dos rios nas últimas semanas, afetando sensivelmente uma região que depende de um labirinto de vias fluviais para o seu transporte e abastecimento. O governo enviou ajuda de emergência à região, onde as margens dos rios, normalmente movimentadas, tornaram-se terras acidentadas, pontilhadas de barcos parados.

Especialistas atribuem o agravamento da estação seca na Amazônia neste ano à ação do El Niño, somada ao efeito das mudanças climáticas.

Sítio Arqueológico de Grande Relevância

As gravuras da Praia das Lajes, um sítio arqueológico de grande relevância, foram descobertas em 2010 durante outro período de seca, embora não tão severo quanto o atual, de acordo com Jaime Oliveira, arqueólogo do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O conjunto de rochas onde estão os registros é cercado por uma floresta densa de um lado e pelas águas baixas do rio Negro do outro. As gravuras, em sua maioria, representam rostos humanos, alguns de formato retangular e outros ovais, com sorrisos ou gestos mais sérios.

Beatriz Carneiro, historiadora e membro do Iphan, enfatiza o “valor inestimável” da Praia das Lajes para a compreensão dos primeiros povos que habitaram a região, um campo ainda pouco explorado.

“Infelizmente, estamos enfrentando a pior estiagem do Amazonas nos últimos 121 anos,” ponderou Beatriz. “O que ajuda a preservar as gravuras é a natureza poder cuidar delas, e nossa intervenção na área é mínima. A preservação está nas mãos da natureza.”