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Mudanças climáticas intensificam propagação de doenças infecciosas no Brasil e no mundo

 

O aumento global das temperaturas não apenas desperta alertas de grandes proporções, mas também revela consequências insidiosas que escapam à primeira observação. Atualmente, surpreendentemente, 94% dos municípios no Rio Grande do Sul relatam focos do mosquito da dengue. Uma doença que, até recentemente, não apresentava uma incidência tão acentuada no Sul do país. A combinação de chuvas mais frequentes e temperaturas mais elevadas propiciou um ambiente propício para a proliferação dos mosquitos.

Os impactos se estendem além das fronteiras brasileiras. Em 2023, países como Itália, França e Espanha registraram 74 casos autóctones de dengue, indicando uma transmissão local da doença. Nos Estados Unidos, o número de casos autóctones atingiu 672, evidenciando uma mudança preocupante, pois agora quatro em cada dez registros não têm ligação com áreas endêmicas.

Outro vetor de doenças, o mosquito responsável pela malária, também está encontrando novos territórios no hemisfério norte. O infectologista Celso Granato destaca que casos de malária nos Estados Unidos ocorrem agora em pessoas que nunca deixaram o país, apontando para uma transmissão por mosquitos em áreas onde essa ocorrência era antes inédita.

No Laboratório de Virologia da USP, pesquisadores investigam há três décadas os vírus respiratórios, como o da gripe. O que chama a atenção é como as mudanças climáticas estão alterando o comportamento desses vírus. Atualmente, mais de 18 vírus circulam simultaneamente, causando doenças respiratórias agudas tanto em crianças quanto em adultos. O vírus respiratório sincicial (RSV), por exemplo, apresentava sazonalidade, mas agora sua incidência atinge picos ao longo do ano, indicando mudanças significativas em seu padrão de circulação.

Especialistas alertam para a relação entre as mudanças climáticas e a preferência de microrganismos por ambientes mais quentes. A coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental da USCS, Marta Marcondes, destaca a presença de vibrião do cólera em áreas estudadas, relacionando-a ao aumento da temperatura da água, que propicia o desenvolvimento desses microrganismos.

Edison Luiz Durigon, chefe do Laboratório de Virologia da USP, enfatiza que reverter esse cenário requer a implementação de políticas públicas e governamentais, além da conscientização da população. Enfrentar o desafio das mudanças climáticas torna-se crucial para mitigar os impactos na propagação de doenças infecciosas.