As redes sociais são um ambiente seguro para compartilhar imagens de crianças? Essa é uma discussão que acontece no mundo inteiro e o casal de influenciadores e ex-BBBs Viih Tube e Eliezer estão sentindo na pele. Sua filha Lua tem apenas sete meses de vida, mas já sofre ataques na internet.
Segundo o casal, os comentários abusivos nas redes sociais começaram a aparecer aos poucos, desde quando Lua tinha três meses de vida, e no início vinham disfarçados de dicas. Atualmente, a situação está fora de controle e tem causado sofrimento para os pais e a família.
O casal chegou a pensar se pararia de postar imagens da filha, mas essa não é mais uma alternativa.
Segundo o ex-BBB, os comentários se intensificaram mesmo após ela gravar um vídeo com a pediatra de Lua.
Os ataques pioraram quando Viih Tube postou um vídeo dizendo que todo o dinheiro de publicidade ganho com a imagem da Lua vai para uma conta no nome dela. “A Lua já tem R$ 1 milhão, juro por Deus. Eu vou ter que ter uma educação financeira para minha filha porque ela já vai nascer com muitos privilégios, né, gente?”, conta a influenciadora.
Viih Tube e Eliezer contam que ouvem a todo o tempo o argumento de que “já que está expondo a filha, então tem que aguentar o tranco”. O psicanalista Leonardo Goldberg explica que esses comentários invertem a lógica da violência, porque joga a culpa na vítima e tira a responsabilidade sobre o agressor e os comentários abusivos.
Mas afinal, o que leva uma pessoa adulta a entrar numa rede social para digitar comentários para ofender e agredir um bebê? A resposta pode estar no próprio sucesso que essas imagens de uma família feliz transmitem.
“Eu apresento um bebê como um projeto, com certas garantias. Isso provoca no outro, que não tem essas mesmas garantias e acessos, um profundo mal-estar. Então eu vou provocar essa reação, um comentário extremamente agressivo, vou mostrar que ele é humano”, analisa Goldberg.
“Eu acho que existe o incômodo e aí então a pessoa quer punir essa família. ‘Já falei da aparência do pai, não funcionou. Já falei da aparência da mãe, não funcionou. Então vamos falar da filha, porque usando ela a gente sabe que consegue puni-los’”, comenta Eliezer.
Fartos da situação, o casal vai começar a lidar com a situação na Justiça.
“Elas vão responder por calúnia, difamação e injúria. [A internet] não é uma terra sem lei. É preciso responsabilizar cada um daqueles indivíduos pelos atos cometidos. Um único comentário agride muitas pessoas, esse tipo de coisa a gente não pode tolerar”, comenta Pedro Mansur, advogado de Viih Tube e Eliezer.
“Sinceramente, eu acho que as pessoas só vão começar a sentir quando mexer com o bolso delas. Aí processou, então tem que pagar”, diz Viih Tube.
A questão da exposição de crianças na internet já inspirou a criação de dois projetos de lei no Brasil. Eles aguardam parecer na Comissão de Seguridade Social e Família para serem apreciados na Câmara.
Mas segundo Rodrigo Pereira, advogado e presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, o assunto não é tão simples.
“É uma questão limítrofe. Será que os pais podem fazer isso [publicar mídias dos filhos nas redes]? Ou será que o Ministério Público pode saber mais do que os pais? Quem é que manda nisso? Então essa é a questão do direito de família, que é o limite de intervenção do Estado na vida privada do cidadão”, afirma Rodrigo Pereira.
A França pode ser o primeiro país no mundo a ter uma lei específica sobre o direito de imagens e a privacidade dos menores de 16 anos. No país, o debate sobre a exposição de menores de idade nas redes sociais ganhou força a partir de março, quando uma nova lei para proteger a privacidade de crianças foi proposta no Congresso.
Se a lei for aprovada, os pais poderão até perder a guarda dos filhos, de forma parcial ou integral, em casos graves de violação da dignidade.
“O objetivo seria acabar com todas as publicações? Já me fizeram essa pergunta, porque isso é privar a própria liberdade dos pais. Afinal, é meu filho, não estou fazendo nada de mal. Então, qual o limite? Eu diria que o dia a dia vai nos permitir saber”, diz a advogada Sophia Binet.
Os franceses se preocupam com o risco de roubo de identidade para fraude, assédios e pedofilia. De acordo com um estudo usado na discussão da proposta de lei, ao completar 13 anos, uma criança tem em média 1.300 imagens publicadas em redes sociais.
Por Fantástico