O lote 1, vencido pelo chineses, prevê a construção de 1.513 km de novas linhas de transmissão em corrente contínua e manutenção de outros 1.468 km, atravessando três estados (Maranhão, Tocantins e Goiás). O prazo de conclusão para este lote será de 72 meses, o mais longo já concedido pela Aneel, devido ao porte e à complexidade da obra.
O lote 1 também prevê o uso da tecnologia bipolo, que é nova no Brasil e tem ultra-alta tensão de 800 kV, permitindo o transporte de energia com redução de perdas. No mundo, há apenas quatro fabricantes que oferecem a tecnologia de conversores de corrente contínua em alta tensão, conhecido como “HVDC”.
No Brasil, essa novidade só é utilizada em Belo Monte e operada pela chinesa State Grid num linhão que conecta a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, ao Rio de Janeiro. Antes disso, o Brasil utilizava a tensão de 600kV nos sistemas de transmissão em corrente contínua.
O lote 2 soma 1.102 km de linhas em Goiás, Minas Gerais e São Paulo e demanda investimentos de R$ 2,5 bilhões. O lote 3 tem 388 km de linhas em São Paulo e requer investimentos de R$ 1 bilhão.
As assinaturas com as empresas vencedoras devem ocorrer em março de 2024.
Para Filipe Bonaldo, sócio-diretor da A&M Infra, como era esperado, o primeiro lote teve pouca competição, mas o deságio foi bom. Ele avalia que os chineses têm todas as condições de implementar um projeto dessa magntidude. Nos demais lotes, o deságio ficou próximo de 45%, com players tradicionais.
— Foi um leilão previsível, já que o mercado sabia quem ia entrar e qual seria o deságio esperado. Ainda assim, o deságio foi bom e mostra como o setor é maduro e como a Aneel tem estrutura para oferecer segurança jurídica e atrair investidores internacionais. Estamos passando por um ciclo amplo de projetos de transmissão e muitos players ficam com capacidade de investimento limitada. Isso deverá acontecer no leilão de março e no segundo do próximo ano. As companhias vão ser mais seletivas —analisa.
André Fonseca, chefe de M&A da Thymos Energia, avalia que a concessão de novos lotes de transmissão ajuda a melhorar a segurança e confiabilidade do sistema brasileiro, além de expandir a capacidade de escoamento da energia renovável do Nordeste para as demais regiões do país.
Para João Paulo Pessoa, advogado especialista em direito público e sócio do Toledo Marchetti Advogados o leilão, apesar de não ter contado com um número expressivo de participantes, o que já era esperado pelo mercado por conta dos elevados investimentos, foi um sucesso porque comercializou todos os lotes e com deságios expressivos.
— Muitas empresas que não participaram estão focadas na implementação dos projetos já leiloados e algumas olhando para o próximo leilão em 2024 — afirmou.
A advogada e especialista em infraestrutura do escritório Vernalha Pereira, Aline Klein, avaliou que o alto volume de investimentos limitou o número de concorrentes. A complexidade dos projetos que demandam muita mão de obra em várias regiões do país, em um curto espaço de tempo, também restringiu o número de participantes.
— Ficou confirmado que o elevado valor de investimentos é um fator de restrição da concorrência. Mesmo assim houve competição e o deságio foi significativo — afirmou Aline.
Ampliação da capacidade de interligação
Com esse megaleilão, o governo vai ampliar a capacidade da interligação entre as regiões Nordeste e Centro-Oeste do país para escoar os excedentes de energia do Nordeste (caso do lote 1) e expansão das interligações regionais e da capacidade de escoamento de energia da região Norte/Nordeste, que tem vários projetos de geração solar e eólica.
No primeiro leilão de transmissão deste ano, realizado em junho passado, a Aneel licitou 9 lotes que somam R$ 15,7 bilhões em investimentos. Houve sete empresas vencedoras e a disputa foi acirrada na maioria dos lotes, com participação de grandes players do setor elétrico e novos entrantes.
Por O GLOBO