Mesmo o estado do Acre sendo um dos mais afetados por eventos climáticos extremos nos últimos anos, a Defesa Civil tem se destacado com ações de prevenção e suporte para superar os desafios da localização geográfica da região. Centralizar informações e montar planos estratégicos para dar ações rápidas são algumas das principais linhas adotadas pelo órgão.
Os desafios relacionados a eventos climáticos têm se tornado cada vez mais difíceis, como prova o artigo elaborado por pesquisadores do Acre, intitulado “Extremos Climáticos na Amazônia: Aumento das Secas e Inundações no Estado Brasileiro do Acre”, que foi publicado na revista “Perspectives in Ecology and Conservation” em dezembro do ano passado. O estudo atesta que o estado Acre é uma das regiões brasileiras mais afetadas por eventos climáticos extremos, o que tem se tornado recorrente, principalmente, a partir de 2010.
A análise fez um levantamento desses eventos entre 1987 e 2023, quando se registrou em todo o estado 254 eventos climáticos extremos. Desse total, 60% foram de incêndios florestais e queimadas em áreas desmatadas, 33% de inundações e 6% de crises hídricas.
“Em média, por ano, seis municípios foram afetados por crises hídricas, incêndios ou inundações. Até 2004, era registrado em média um evento extremo por ano. Após esse período, foram registrados dois ou mais eventos no mesmo período”, destaca o artigo, coordenado pela pesquisadora da Universidade Federal do Acre e coautora do estudo, Sonaira Silva.
O levantamento também mostra as medidas tomadas pelo poder público no período. Segundo a análise, foram 24 decretos municipais ou estaduais declarando estado de alerta ambiental, emergência ou calamidade pública no período analisado.
“Os decretos do governo estadual são emitidos quando mais de um município foi afetado por um evento e representam 54% dos decretos emitidos. Com base apenas na publicação dos decretos, o evento extremo mais frequente foram as enchentes, seguidas de crise hídrica e incêndio florestal”, relata.
As cidades mais castigadas com esses eventos foram Rio Branco e Cruzeiro do Sul, que também são as duas mais populosas do estado.
“No período analisado, todos os municípios do Acre registraram pelo menos três eventos extremos. No entanto, os municípios de Rio Branco e Cruzeiro do Sul registraram de 17 a 26 eventos extremos, correspondendo a um a cada dois anos. Os eventos de inundação foram mais concentrados em Cruzeiro do Sul, no oeste do estado, registrando 19 eventos, enquanto os de crise hídrica, incêndios florestais e queimadas em áreas desmatadas estão concentrados no leste do estado”, destaca.
A atuação da Defesa Civil estadual nesse cenário é fundamental para monitorar, acompanhar e pôr em prática os planos de contingência. A pasta no Estado é coordenada pelo coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Acre, Carlos Batista, que destaca o trabalho realizado em conjunto com outros órgãos para que se tenha relatórios que mostrem a realidade desses eventos.
Para isso, existe o Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma), que é atrelado à Secretaria de Meio Ambiente. No setor, são confeccionados relatórios diários, que acompanham o nível dos rios e a precipitação pluviométrica, além de dados de queimadas, desmatamento e poluição do ar – o que serve como um termômetro para a tomadas de decisões.
“A Defesa Civil está sempre preparada, com seus órgãos setoriais, para que a gente aja de imediato ao fenômeno, com toda a estrutura de governo, para que a gente venha sempre buscar reduzir os danos e prejuízos causados à população. A Defesa Civil Estadual faz dois grandes eventos todos os anos, que reúnem as defesas civis municipais e outras instituições, que têm o objetivo de discutir ações para os eventos extremos que acontecem em nosso estado”, explica o coronel.
Além de inundações, secas, enxurradas e alagamentos, o Acre também tem áreas de risco, devido à movimentação do solo e tem sofrido, como no ano passado, com vendavais.
“Vários municípios tiveram problemas com vendavais, sendo os mais críticos um fato ocorrido no município de Porto Acre, onde uma pessoa morreu, e no município de Mâncio Lima, que sofreu com três grandes vendavais, em que mais de 650 residências foram danificadas, e lá no município foi decretada situação de emergência”, relembra Carlos Batista.
Eventos como esse precisam de ações rápidas por parte do poder público e, por isso, a Defesa Civil mantém o acompanhamento de todos esses fatores com outros órgãos. O Acre possui 12 grandes rios que precisam ser acompanhados de perto, no período de chuvas, como no de estiagem.
“Nos eventos relacionados às inundações, às enxurradas e à movimentação de solos, temos um grande apoio da Companhia Brasileira de Pesquisa de Recursos Minerais [CPRM], que é responsável pelo Serviço Geológico do Brasil, eles fazem todo o mapeamento e identificação das áreas de risco nos municípios do estado. Eles já concluíram quase todo o levantamento em nosso estado. E informações são importantíssimas para que a gente faça o levantamento da população das áreas de risco, para a devida tomada de decisão”, esclarece.
Em outubro do ano passado, o governo federal reconheceu situação de emergência nos 22 municípios, devido à seca extrema que atingiu o Acre. Muitas famílias foram atingidas e o papel do Estado, por meio da Defesa Civil, não é somente de prevenção, mas também de apoio às famílias que sofrem os efeitos de um evento extremo.
“O governo estadual solicitou recursos complementares do governo federal, para apoiar as comunidades mais impactadas, as ribeirinhas e indígenas, e isso foi feito por meio de cestas básicas e carros-pipa, levando abastecimento para aquelas comunidades mais distantes em alguns municípios”, explica o coordenador da Defesa Civil.
O governo do Estado, por meio da Secretaria de Governo, do Corpo de Bombeiros Militar e da Defesa Civil Estadual, está entregando cestas básicas às famílias mais prejudicadas durante a seca prolongada registrada em todo o Acre no ano passado, por conta do fenômeno El Niño. Ao todo, 28 famílias devem ser beneficiadas com as entregas, que continuam sendo feitas nos municípios.
“No período da estiagem, o comitê estadual de eventos extremos, que é presidido pelo secretário Alysson Bestene, fez o levantamento, junto às secretarias, das famílias que foram impactadas com o evento. Em cima disso, foram solicitadas cestas básicas para distribuir para as comunidades mais afetadas, principalmente as indígenas e ribeirinhas, e também o pessoal do Cadastro Único”, destaca Batista.
Via Agência Acre