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Acreanos que vivem no RS relatam cenário de destruição e reforçam equipes de voluntários: ‘Famílias perderam tudo’

A corrente humanitária que se formou para ajudar os moradores do Rio Grande do Sul (RS) conta com acreanos que moram no estado gaúcho. O g1 conversou com o guia turístico Alexandre Chalub e a consultora de negócios Simone Chalub, que são irmãos e moram na cidade de Canela e Três Coroas, respectivamente, que ficam na Serra Gaúcha.

Outro que compartilhou o relato foi o médico voluntário Marcos José Ferreira, formado na Universidade Federal do Acre (Ufac) e que se mudou para a cidade Cerro Grande do Sul, uma das afetadas pelas chuvas, após receber uma proposta de trabalho. O que o profissional não esperava era encontrar uma um estado devastado pelas chuvas.

“Cheguei há uns dez dias e, infelizmente, teve essa coincidência com toda essa calamidade que o estado enfrenta. Cerro Grande do Sul fica a uns 100 quilômetros de Porto Alegre e, felizmente, não foi atingida e vem se mobilizando como ponto de apoio para pessoas que estão desalojadas ou desabrigadas. Tem cerca de 150 pessoas em um alojamento na cidade”, relatou.

O profissional, inclusive, atua nos atendimentos médicos aos abrigados no alojamento. Ele destaca que há uma preocupação com infecções e síndromes febris para as próximas semanas. “A própria leptospirose já que as pessoas tiveram contato com água contaminada. E, claro, a questão da saúde mental que foi afetada por conta do grande trauma que a população enfrentou. Uma plataforma foi disponibilizada para que as pessoas possam se inscrever e atuar como voluntários”, complementou.

Médico formado no Acre trabalha como voluntário em cidade gaúcha — Foto: Arquivo pessoal

Falta de produtos de limpeza

Alexandre Chalub mora na cidade de Canela (RS) há seis anos com a esposa e um filho de nove anos. Ele tem outro filho, de 19 anos, que mora em Porto Alegre e está sem conseguir sair da capital. O guia turístico se mobiliza para ajudar os moradores da cidade vizinha Três Coroas, umas das mais atingidas.

“Três Coroas está com essa situação de calamidade, a água subiu aqui quase dois metros, cobriu cerca de 80% da cidade e devastou a cidade de Igrejinha também, que fica a 10 quilômetros”, lamentou Alexandre.

Ele explicou que em Canelas a situação está tranquila, mas que semana passada o população ficou sem energia elétrica durante dois dias. Atualmente, há problemas com o abastecimento de água e com o sinal de internet que oscila muito.

“Tenho uma agência de turismo em Canela e usei as redes sociais para arrecadar recursos para comprar produtos de limpeza, que é o principal usado. A dificuldade é com a limpeza, tem vindo bastante comida, bastante lanche e agora precisamos de ajuda com produtos de limpeza e higiene pessoal. Precisamos de ração para animais, leite zero lactose. Fui em uma casa que tem uma criança doente porque está tomando leite com lactose”, acrescentou.

Alexandre Chalub ajuda moradores com kits de produtos de limpeza e de higiene pessoal — Foto: Reprodução

Os kits de limpeza são distribuídos para moradores que vivem em áreas onde a água já baixou. Contudo, Alexandre tem encontrado dificuldades para comprar produtos básicos como rodo, pasta dente e até vassoura.

“Fui em Florianópolis, em um atacadão, e consegui comprar muita coisa. O mercado local está praticamente zerado. Montamos kits de higiene pessoal e de produtos de limpeza e faltaram vassouras. Estamos com dificuldades de arrumar pasta de dente, escova de dente, não conseguimos comprar rodo para entregar”, contou.

A consultora de negócios Simone Chalub vive no bairro Vila Schell, um dos que ficam localizados logo na entrada da cidade de Três Coroas. A área em que ela vive não foi afetadas pela enchente dos rios, contudo, uma amiga não teve a mesma sorte e perdeu quase tudo.

“O rio passa no meio da cidade e, assim, está destruída, cenário de filme de terror mesmo. Muitas indústrias perderam tudo, todo o nosso comércio foi afetado, todo o Centro da cidade foi comprometido. Famílias perderam tudo, pessoas morreram. Ontem mesmo foram encontrados os corpos de duas crianças, 10 e 6 anos, que depois que a água baixou agora que vieram à tona”, lamentou.

Durante o fim de semana, Simone e outros voluntários se mobilizaram para ajudar os moradores afetados a limparem as casas após as águas baixarem,“ diz.

E aqui é assim, não tem uma pessoa específica, não vamos só na casa de quem conhecemos. A gente entra na casa, pega um rodo, a vassoura e começa a limpar. Temos uma pessoa, uma senhorinha que é a mãe de um amigo, que mora sozinha, e a cadelinha dela acordou ela no meio da madrugada, porque ela toma remédio controlado, e acordou por causa do barulho e a água estava subindo. Se tivesse seguido dormindo teria morrido”, relembrou.

Nessa quarta (8), Simone contou que voltou a chover na cidade e acabou a energia. “Estamos assim, uma hora acaba a água, uma hora falta energia. Voltei a trabalhar, mas no final de semana volto a ajudar, passei o final de semana todo comprometido ajudando minha amiga e uma outra casa que a gente foi. Tem um ginásio municipal aqui onde a população se voluntariou para separar as doações. Quando a gente está limpando as casas, pessoas de outras cidades passam de carro fornecendo lanche, produtos de limpeza, acolhimento, oferecendo para entrar para ajudar. Aqui ninguém fica de braço cruzado não”, ressaltou.

Por G1 Ac