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‘Agradeço estar vivo’; ‘Não vamos voltar’; ‘Pegamos só documentos e os bichos’: os relatos das vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul

Homem que precisou deixar casa e ficou apenas com carro em estrada após inundações no Rio Grande do Sul — Foto: Reprodução/TV Globo

As chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde 29 de abril provocaram 90 mortes e deixaram mais de 100 pessoas desaparecidas até a manhã desta terça-feira (7). O total de feridos já passa de 360.

Os relatos de moradores que precisaram deixar suas casas ou que perderam bens e precisarão reconstruir suas vidas revelam o impacto da tragédia.

‘Não tenho como sair’

Numa estrada da Grande Porto Alegre, um homem foi encontrado pela equipe de reportagem do Bom Dia Brasil morando no carro apenas com os pertences que conseguiu juntar. Ele não sabe se a casa dele continua de pé.

“Tô parado aqui [com o carro na rua], dormindo mal. Olha aí como ‘tá’ meus pés. Eu não posso sair daqui, deixar tudo atirado aqui. O carro, moto aí. E outra coisa, tá tudo trancado, eu não tenho como sair. Eu agradeço a deus, já tô agradecendo por eu estar vivo aqui. Mas se minha casinha estiver de pé, eu agradeço mais ainda”, diz o homem abrigado no próprio carro.

‘Pessoa que dá força pra nós é Deus’

 

Padre Rudimar Dal’Asta em entrevista após enchentes no Rio Grande do Sul — Foto: Reprodução/TV Globo

O padre Rudimar Dal’Asta, que também estava pela estrada e já tem o costume de ajudar desabrigados e desalojados em casos de inundações, ficou com o próprio carro submerso desta vez. A igreja que costumava receber doações e para onde vítimas de enchentes já foram recebidas em outras situações também está tomada pela água. Agora, o próprio padre precisa da ajuda de voluntários.

“A gente tá aqui junto com as famílias para se abraçar, para dizer: ‘Olha, vamos tentar nos reerguer’. Mas como a gente não sabe ainda, né. Estamos tentando ser apoio pra elas. A gente diz que a única pessoa que dá força para nós é Deus porque mais ninguém”, conta o padre aos prantos.

‘A gente fica apavorado’

 

Mulher dá depoimento após ser resgatada em Porto Alegre — Foto: Reprodução/TV Globo

Uma mulher que tinha acabado de ser resgatada deu um depoimento ao programa Encontro.

“Não entrou ainda [água no condomínio mora], mas tá começando. E a gente fica apavorado. A gente não tinha dimensão de como tava do lado de fora. Lá tá começando a entrar, mas não entrou ainda nos apartamentos e eu quis tirar meu filho. Mas eu to bem, meu filho tá salvo. Ela [vizinha] ajudou, o mardio dela tá trabalhando com resgate”, disse.

‘Pegamos só documentos e os bichos’

Embarcações transitam por ruas alagadas para resgatar vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul — Foto: Reprodução/TV Globo

Uma mulher que está fora de casa desde o último sábado conta que precisou ajudar amigos e familiares depois que foi resgatada.

“Na sexta a gente subiu as coisas, que eu moro no segundo andar. Sábado de manhã a gente viu que a água do pátio tava no joelho. Quando a gente saiu na rua, pegamos só nossos documentos e os bichos […]. Quando a gente saiu na rua, [a água] deu no pescoço. […] Meu marido, meu genro e meu irmão voltaram quatro vezes. Cada vezes que eles voltavam com uma criança na cabeça e uma cesta de bicho. Então, a gente salvou muita gente. Eu fui gritando e os vizinhos foram saindo”, relatou.

‘Não tenho como recomeçar’
Em Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, famílias ficaram sem casa e pretendem deixar o lugar de vez.

“Eu tenho minha família, mas eu não tenho mais casa para morar. Eu não tenho como recomeçar, eu não tenho”, lamenta a vendedora Ana Paula Silva.
‘Tentando descobrir qual casa era de quem’
Outra moradora sequer conseguia identificar qual era a própria casa em meio à destruição.

“A gente foi passando assim, por cima, e tentando descobrir qual casa era de quem, o que tinha… Mas foi muito difícil, muito difícil”, lamenta a fisioterapeuta Deisi Maria.

‘Não vamos voltar para cá’
O empresário Ismael Fonseca, também de Cruzeiro do Sul, foi resgatado após dois dias ilhado. Da casa dele, sobraram só as paredes.

“Sem condição nenhuma de voltar a morar aqui. Nossa casa está destruída. Nosso filho tem 7 anos, a gente criou ele aqui. Tudo que tem aqui, a gente construiu trabalhando muito. A gente tem isso aqui, mas a gente não vai morrer aqui. Nós não vamos voltar para cá”, diz.

POR G1