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Amor, luta e muito trabalho! Como mães da Amazônia mudam vida de suas comunidades com apoio de projetos sociais

“Ser mãe me inspirou a lutar pelos objetivos de cada pessoa dentro da minha comunidade”. É assim que Adriana Azevedo de Siqueira, moradora da comunidade Santa Helena do Inglês, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro, no interior do Amazonas, define a relação entre a maternidade e a busca por melhorias na qualidade de vida da comunidade, onde mora com a família.

Adriana, que é mãe de dois filhos, é uma das diversas mulheres amazônidas que levam o mesmo amor e dedicação, característicos da maternidade, para a luta pelo bem-estar de suas comunidades em diversas áreas, desde o acesso a direitos básicos, como saúde e educação, até oportunidades de desenvolvimento e geração de renda.

Ela é empreendedora, formada em pedagogia, e está concluindo a graduação em turismo. A sede pelo conhecimento e por se desafiar tem um objetivo: melhorar a vida dos filhos. Neste caminho, ela acabou também impactando positivamente a vida da própria comunidade Santa Helena do Inglês. Adriana é dona da ‘Pousada da Dri’, empreendimento de turismo de base comunitária que atrai visitantes e gera renda para os comunitários.

“Como mãe, enfrento diversos desafios. Sempre quero oferecer uma qualidade de vida melhor para os meus filhos. Ser mãe me inspirou a lutar pelos objetivos de cada pessoa dentro da minha comunidade, como educação, saúde, meio ambiente, entre outros”, declara.

Para conquistar esses e outros sonhos, Adriana e sua comunidade receberam o incentivo de projetos da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que levaram iniciativas educacionais, de saúde e educação profissional e empreendedora para a região. Adriana cursa turismo graças a uma parceria da FAS com a Universidade Nilton Lins que oferta a graduação na modalidade de Educação a Distância (EaD) para 20 moradores das RDS Rio Negro e Uatumã. Além disso, Adriana e a família foram beneficiados com cursos de informática, empreendedorismo e marketing digital. Todo esse incentivo e preparo motivaram Adriana a abrir a própria pousada.

“Os cursos me ajudaram a evoluir cada vez mais no perfil de empreendedora. Antes, trabalhava numa pousada da minha comunidade e hoje estou construindo o meu próprio empreendimento, que é uma pousada para manter a minha família e também para trabalhar com o turismo sustentável, e comunitário. Além disso, quero continuar com o intuito de geração de renda para dentro da comunidade. Estou construindo aos poucos a minha pousada, já estou com dois chalés equipados com ar-condicionado, cama de casal e solteiro, todos eles têm banheiro dentro, e a minha grande parceira nessa empreitada é a FAS”, compartilha Adriana.

Para a empreendedora, a FAS a ajudou a ser “uma mulher empoderada, trazendo conhecimentos profissionais e geração de renda para todas as famílias com o turismo de base comunitária e outros projetos que temos dentro da nossa comunidade”.

Na maternidade, inspiração para crescer

A história de Neurilene Cruz, indígena do povo Kambeba, residente da comunidade Três Unidos, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro, também é um relato de força e superação. Ela, que casou jovem e teve o primeiro filho aos 15 anos, teve que lidar com responsabilidades familiares desde muito cedo.

“Eu tive que trabalhar, tive que fazer artesanato, como mãe eu tive que trabalhar e cuidar de casa e cuidar de filho. A maternidade me trouxe essa responsabilidade, esse desafio, porque ainda eu era uma adolescente e eu tive que aprender a fazer tudo isso. Ser mãe é algo que nos traz responsabilidade, amor e carinho. E você vai ter que ter, através desse amor e desse carinho, trabalhar e amadurecer para cuidar dessas crianças”, conta Neurilene, que tem três filhos e costumava trabalhar “até tarde da noite” produzindo artesanatos para trazer o sustento para casa.

A FAS trouxe uma transformação para a vida de Neurilene e sua família. Ela, que tinha o sonho de estudar e concluir o ensino médio, foi convidada a montar um refeitório para trabalhadores que atuavam na construção da ‘Escola Samsung’, uma iniciativa da FAS em parceria com a Samsung. Com um time de outras mulheres indígenas do povo Kambeba, Neurilene iniciou o restaurante Sumimi, que hoje tem capacidade para atender 100 pessoas e fomenta o turismo e a geração de renda na Comunidade Três Unidos.

“Eu montei uma cozinha junto com as minhas parceiras, amigas, fui para Manaus, me formei técnica de enfermagem e voltei para trabalhar dentro da minha aldeia cuidando do meu povo e com o empreendimento, que é o restaurante. Até hoje, essa transformação e essa motivação de dar o melhor para os meus filhos me traz alegria e harmonia para que eu possa estar com saúde, trabalhando para ajudar”, conta Neurilene.

Para ela, a FAS é uma grande parceira que a ajudou a “andar com os próprios pés”. “Isso tudo me trouxe motivação para que eu possa continuar trabalhando com minha equipe, com o meu povo e meus filhos para que a gente tenha uma vida melhor”, afirma.

 

Pelos filhos, filhas e comunidades

Izolena Garrido carrega consigo uma história de vida muito parecida com a de outras mulheres amazônicas. Ela saiu cedo de casa para estudar e passou por muitos desafios até se tornar professora na Comunidade Tumbira, situada na RDS Rio Negro, quando ainda não era uma comunidade estabelecida. Foi mãe solo aos 20 anos e enfrentou situações de discriminação, rejeição, humilhação e machismo. No entanto, por meio de sua formação como professora, teve a oportunidade de mudar a própria história, a dos filhos e de toda sua comunidade.

“Junto com meu povo e os pais dos meus alunos, fundei a comunidade do Tumbira, transformado o lugar em uma vila onde conseguimos reforma da escola, construção do centro social, telhado para casa das pessoas, poço artesiano, casa de farinha, gerador de luz, campo de futebol, entre outros benefícios que conquistamos”, relembra.

Izolena casou e teve outros filhos e, conforme o Tumbira crescia, também cresciam as oportunidades. “Fui buscando cada vez mais conhecimento por mim e pelo direito do meu povo, pois os problemas ambientais estavam cada vez maiores na região e parte dos problemas afetavam os pais dos meus alunos. Fiz graduação e uma pós-graduação, além de muitos cursos, de acordo com as minhas necessidades, pois eu tinha que conhecer para me defender. As situações foram dando início a outras saídas e dessa forma, conseguimos em sete anos estruturar a comunidade do Tumbira com as condições básicas de água, energia, educação, saúde, outras ações”, relata.

A FAS teve papel fundamental nessa construção, comenta Izolena. “A chegada da FAS foi o fortalecimento das pessoas e comunidade. Oportunidade de lutar por mais mulheres líderes, mulheres empreendedoras, mulheres, mães, mulheres que só querem poder sentir-se mulheres”, explica. Atualmente, Izolena é vice-presidente do Conselho de Administração da FAS e inspiração para muita gente.

Na fala de Helena, filha de Izolena: “Não tenho palavras para descrever como ela é importante para mim. Ela é a minha melhor amiga, minha heroína. Mamãe sempre será a mulher que eu, como filha, vou admirar pelo que me proporcionou. Até quando não tinha jeito, de alguma forma ela achava solução. Para dar uma vida boa para mim e meus irmãos, custou sua vida. Hoje, olho a mamãe como inspiração para mim; ela deixou uma parte da vida dela para trás por causa de mim e dos meus irmãos. A inspiração que ela me dá é poder olhar para mim mesma e dizer que eu sou capaz de tudo”, compartilha.

Izolena transmite para suas filhas e seus alunos o poder do conhecimento, fala, escuta e acolhimento. “Hoje, nossas filhas e filhos podem pedir ajuda a outras pessoas. Eu não tive essa oportunidade. Hoje eles têm a mim se precisarem de defesa. Eu não tive, mas posso ser o que eu quiser. Eu escuto, eu acolho e permito ouvir e ser ouvida. Meu pai me ensinou a não desistir e sei que minhas filhas terão uma história muito mais bonita para contar”, declara Izolena.

Para ela, a FAS ajudou a mostrar o potencial de outras mulheres, formar novos líderes, novas artesãs e artesãos, escrever novos capítulos e novas histórias. Assim, essa mulher ribeirinha, professora, ativista ambiental, mãe, artesã e hoje vice-presidente do Conselho Administrativo da FAS, compartilha sua história de força e coragem de escolher seu próprio caminho. “Por mim, por meus filhos e filhos e todas as mulheres amazônicas. Lugar de mulher é onde ela se permite chegar”, finaliza.

Outra voz feminina que ecoa nas ações desenvolvidas pela FAS é da Superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades, Valcléia Solidade. Segundo ela, desde 2008, quando a FAS foi criada, a fundação já promovia atividades de valorização do papel da mulher.

“Sempre houve a estratégia de investir em ações voltadas para as mulheres. Investir, por exemplo, em um projeto na primeira infância, onde você valoriza muito o papel da mãe. Tivemos um trabalho muito relevante, voltado para o empoderamento feminino nas comunidades amazônicas. Criamos uma estratégia para que as associações coloquem as mulheres em cargos de lideranças. Isso contribui para que essas mulheres se fortaleçam. É essencial enxergarmos o resultado disso, quando a gente vê, hoje, a Dona Itaniud, lá de Maués (município no interior do Amazonas), como presidente da Associação da RDS. Quando a gente vê a Dona Cleide, que foi presidente da Associação da RDS do Uatumã, e depois a Diana assumindo esse papel. Quando a gente vê a Izolena Garrido como vice-presidente da Associação do Rio Negro e hoje ela como vice-presidente de Conselho da FAS”, comenta Valcléia.