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Após diagnóstico de infertilidade, mulher inicia adoção e engravida durante o processo no AC: ‘uma benção’

A servidora pública Larissa Oaskes e o médico Carlos Oaskes sempre sonharam em ser pais, mas não imaginavam que iriam ter duas filhas de uma vez. O casal tentou engravidar durante quatro anos, recebeu o diagnóstico de infertilidade e, durante a investigação da causa, entrou com o processo de adoção de uma criança.

Enquanto eram avaliados por psicólogos, assistentes sociais e cumpriam as etapas da adoção, Lara, como é conhecida, engravidou de Anne Ariel no final de 2022. O que ela não esperava era que a filha adotiva iria chegar pouco meses após o parto de Anne.

A menina nasceu em agosto de 2023 e, em dezembro do mesmo ano, o casal recebeu uma ligação da Vara da Infância informando que Maria Heloísa estava disponível para adoção e questionando se os pais ainda tinham interesse em seguir com o processo.

E as surpresas não pararam por aí. Maria Heloísa tinha quatro meses na época, a mesma idade de Anne Ariel. Lara e Carlos não pensaram duas vezes e disseram sim para a segunda filha.

Anne Ariel e Maria Heloísa têm nove meses e são bastante parecidas — Foto: Jhonatas Ferreira/Arquivo pessoal

“Não esperava. Até chegava a comentar: ‘Já pensou se vem nosso filho por adoção agora e eu tenho a oportunidade de amamentá-lo?’. E foi o que aconteceu, tive a oportunidade de amamentar a Heloísa, que foi muito legal para estabelecer o nosso vínculo. Passei pelo puerpério da adoção, que é uma coisa que descobri só depois pesquisando, conversando com minha terapeuta. O que vivi com a Anne Ariel, aquela confusão de sentimentos no começo, passei o mesmo com a Heloísa”, relembrou a servidora pública.

Atualmente, as crianças estão com nove meses e fazem aniversário com seis dias de diferença. O casal ainda está com a guarda provisória de Maria Heloísa, mas, conforme Lara, a segunda filha já é amada por todos e parte da família.

“A Helô chegou conquistando todo mundo, foi muito rápido. Veio pra passar o Natal com a gente e ficou. Só fomos lá no educandário [abrigo de crianças] renovando o tempo dela com a gente. Estamos com a guarda provisória, mas é nossa filha, é só uma questão de papelada mesmo. É uma benção. Independente da via parental, em algum momento eu recebi a Ariel e a Helô como filhas, e elas me receberam como mãe. Esse processo me ensinou que, no final das contas, todos somos adotados”, destacou.

Servidora pública engravidou durante processo de adoção e se tornou mãe de duas meninas — Foto: Jhonatas Ferreira/Arquivo pessoal

Sonho em adotar

 

Lara contou que sempre sonhou em ser mãe por adoção. Quando conheceu o médico, logo o assunto surgiu entre o casal e Carlos também queria adotar um filho. Os dois se casaram e quatro anos depois começaram a tentar engravidar, mas com o desejo da adoção ficou guardado à espera do momento certo.

“Sabia que ia ser mãe, tanto gerando como adotando. Só não imaginava que teria dificuldade para engravidar. Tínhamos um quadro de infertilidade, que estava em investigação para poder fazer tratamento. E, nesse meio tempo, nossa vida ficou mais estável financeiramente e entendemos que era o momento de iniciar o processo da adoção porque ouvi falar que demorava muito”, explicou.

O processo foi iniciado em meados de 2022. No cadastro, o casal inscreveu que tinha interesse em adotar crianças de até três anos e poderiam ser irmãos. As equipes de assistência social e psicólogos da Justiça visitaram os candidatos para avaliações e questionaram sobre a possibilidade de uma gravidez durante o processo.

A dúvida também surgiu entre amigos e familiares do casal. “Sempre deixei muito claro que ser mãe pelas duas vias era um desejo meu. Eu não sabia se seria primeiro mãe gerando e lá na frente adotasse. Na verdade, a gente achava, pelos anos que vínhamos tentando, a que a adoção viria primeiro”, confirmou.

Lara relembrou que a gravidez de Anne Ariel aconteceu antes do casal ser colocado de fato na lista de adoção. Segui com minha gestação, tivemos a Ariel em agosto e em dezembro nos ligaram falando assim: ‘Tem um bebê disponível pra vocês e tem quatro meses’. Era a mesma idade da Ariel. A assistente social falou que sabia que estávamos com um bebê e perguntou se a gente ia adotar. Falei que sim”, ressaltou.

Vínculo e semalhanças
Com a confirmação da adoção, foi marcado o encontro para a família conhecer Maria Heloísa e mais uma vez o casal foi surpreendido pela semelhança entre as crianças. Na rua, as pessoas sempre questionam se as meninas são gêmeas.

“Ficamos impressionados com a semelhança física delas. O mesmo tom de pele, de cabelo, os traços, As pessoas falavam: ‘pensei que você estava grávida só de uma’. E eu digo que sim, era uma só. Onde a gente vai as pessoas perguntam se são gêmeas, se são de placentas diferentes. São muito parecidas. Todo mundo que descobre nossa história fica muito chocado”, pontuou.

Como Maria Heloísa tinha passado os primeiros quatro meses de vida em um abrigo, Lara sentia que que a filha não tinha uma referência materna e foi criando um vínculo com a meninas nos momentos mais simples do dia a dia.

“Até aquele momento ela tinha muitas cuidadoras, sempre olhava muito pra todo mundo e a gente foi construindo o nosso vínculo no trocar da fralda, no banho, quando dava o leitinho e foi me identificando. Começava, por exemplo, a me buscar com os olhos, chamava o nome dela e ela olhava, fui nascendo pra ela como mãe e ela pra mim como filha”, contou emocionada.

Lara destaca também a rede de apoio, formada por familiares e babás, que teve para ajudar após a chegada da segunda filha. “Brinco que montei um exército pra me ajudar. Familiares, tem as babás que cuidam delas, que tornaram tudo possível. Todo o processo foi evoluindo de uma forma muito natural, muito gostosa. Eu tenho gêmeas”, brincou.

A mãe revela que as filhas são muito parceiras, incentivam o desenvolvimento uma da outra e se ajudam no crescimento. E o casal tem planos de dar mais irmãos para a Anne Ariel e Maria Heloísa.

“Está sendo muito legal ver elas crescerem juntas, evoluindo. Você percebe que uma começa a engatinhar, a outra imita e começa também, uma começa a falar mais, aí a outra vê e vai falando. A gente ainda pensa em mais uma adoção mais para frente. Agora vamos curtir as duas e quando estiverem maiores pensamos em uma adoção tardia, que é de crianças de quatro anos para cima”, concluiu.

Com informações G1 AC