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Marina Silva diz que incêndios no Pantanal são ‘situação acima da capacidade humana de prever’ e cita ‘junção perversa’ de fatores

Ministras Marina Silva e Simone Tebet ao lado do governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel — Foto: Saul Schramm / Divulgação Gov MS

Em meio aos recordes de incêndios no Pantanal, as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Simone Tebet, do Planejamento, defenderam a atuação do governo federal e culparam a ação humana pela origem do fogo. Marina afirmou que o governo começou a atuar preventivamente, em conjunto com o estado do Mato Grosso do Sul, em setembro passado, e que a operação de agora foi antecipada por causa da “junção perversa” dos fatores climáticos. Já Tebet sugeriu a possibilidade de fazendeiros terem intensificado queimadas como forma de “passar a boiada” antes que a fiscalização aumentasse em função da aprovação da Lei do Pantanal, que recentemente aumentou os parâmetros de proteção ambiental no bioma.

Nesta sexta, as ministras sobrevoaram a região e visitaram a estrutura de combate aos incêndios em Corumbá (MS), município que concentrou 66% dos 3.531 focos de calor registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inep) desde o dia 1º de janeiro. O valor é um recorde na série histórica, iniciada em 1988. Neste semestre, a quantidade de fogo é 40% maior que 2020, quando um terço da área do Pantanal foi queimada.

A ministra do Meio Ambiente afirmou que 85% dos incêndios aconteceram em propriedades privadas, principalmente nos municípios onde houve mais desmatamento. Em Corumbá, destacou ela, o desmatamento cresceu 50% ano passado.

— É uma cena desoladora. Os incêndios acontecendo agora tem uma junção perversa, da mudança do clima, escassez hídrica severa, desmatamento e uso do fogo. Os dados da ciência dizem que essa é a maior seca dos últimos 70 anos. A quantidade de focos de calor está totalmente fora da curva, mesmo comparando com 2020. Por isso temos uma verdadeira força tarefa — afirmou Marina, que acrescentou que a Polícia Federal está atuando, em conjunto com o governo estadual, nas investigações sobre origens dos incêndios.

Em respostas a questionamentos sobre o governo federal, Marina disse que há um “trabalho previdente desde o ano passado”. Ela explicou que em setembro o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), procurou o ministério com pedido de ajuda para o planejamento da Operação Pantanal. No momento, há 280 agentes no Pantanal, mais 149 em mobilização, do Ibama e do ICMBio, além de sete aeronaves. O Exército ainda enviou o KC-390, com capacidade de 12 mil litros de água, que pela primeira vez está sendo usado no bioma.

Mas, segundo Marina, o problema no Pantanal foi uma “situação acima da capacidade humana de prever”.

— Houve antecipação do que era para acontecer em agosto (quando se inicia o período tradicional da seca).Se alguém toma um tiro na cabeça ou sofre um infarto fulminante, não quer dizer que uma UTI preparada dá conta de resolver o problema — disse Marina, em uma analogia, que acrescentou que o governo está elaborando um plano de gerenciamento de risco em função das mudanças climáticas. —O homem tem que aprender, ele não ganha da natureza. Ela vai sempre ser mais forte que nós. O que estamos vivendo é um evento extremo. Precisamos trabalhar a gestão do risco e não apenas a do desastre.

A ministra Simone Tebet disse que, até agora, ainda não houve necessidade de liberação de crédito extraordinário para a estrutura de combate aos incêndios, mas que o presidente Lula determinou que os ministérios não meçam esforços para atuarem no Pantanal. Em uma fala ainda mais dura sobre a contribuição de proprietários rurais na tragédia, ela cobrou investigações e disse que, após a Lei do Pantanal, é possível que fazendeiros tenham intensificado as queimadas para limpezas de pastagens.

Sancionada pelo governo do Mato Grosso do Sul em dezembro do ano passado, a Lei do Pantanal entrou em vigor em fevereiro e alterou as normas de proteção do bioma. Elaborada em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, a legislação deu novas regras ao cultivo agrícola e à produção pecuária e determinou a necessidade de se preservar 50% da área de propriedades rurais com formações florestais e de Cerrado, e 40% se for locais com formações campestres.

— Além dos efeitos climáticos, tem aqui a mão do homem. Precisa ser investigado que, quando aprovou lei do estado, de repente pensaram que era hora de passar logo a boiada antes que chegasse a fiscalização. Um aumento de 3 mil% dos focos de calor (em comparação com o mesmo período do ano passado) tem algo muito errado que não estava no nosso cronograma. Todas equipes estavam mobilizadas, mas com 3 mil focos não daríamos conta, porque quase 90% dos focos acontecem em propriedades privadas. E ninguém pode entrar em propriedade privada antes de ter foco.

Como apontam as previsões, a seca histórica ficará ainda mais grave entre julho e setembro, período de menos chuva no Pantanal historicamente. Meteorologista do Centro de Monitoramento de Tempo, do Clima e dos Recursos Hídricos de Mato Grosso do Sul (Cemtec), Vinicius Sperling, explicou as causas do problema.

— Há um déficit hídrico muito elevado. De setembro a maio, houve 7 a 8 ondas de calor, e as chuvas estão muito abaixo da média. Estamos há 73 dias sem chuva em Corumbá. É um período muito longo aliado a temperaturas muito acima da média e baixíssima umidade relativa, o que gera situações propícias a incêndios. As condições de seca se estabeleceram mais cedo, em pleno período de chuva.

PróximaOperação identifica 18 locais de origem de incêndios que queimaram 56 mil hectares no Pantanal
A ministra Simone Tebet disse que, até agora, ainda não houve necessidade de liberação de crédito extraordinário para a estrutura de combate aos incêndios, mas que o presidente Lula determinou que os ministérios não meçam esforços para atuarem no Pantanal. Em uma fala ainda mais dura sobre a contribuição de proprietários rurais na tragédia, ela cobrou investigações e disse que, após a Lei do Pantanal, é possível que fazendeiros tenham intensificado as queimadas para limpezas de pastagens.

Sancionada pelo governo do Mato Grosso do Sul em dezembro do ano passado, a Lei do Pantanal entrou em vigor em fevereiro e alterou as normas de proteção do bioma. Elaborada em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, a legislação deu novas regras ao cultivo agrícola e à produção pecuária e determinou a necessidade de se preservar 50% da área de propriedades rurais com formações florestais e de Cerrado, e 40% se for locais com formações campestres.

— Além dos efeitos climáticos, tem aqui a mão do homem. Precisa ser investigado que, quando aprovou lei do estado, de repente pensaram que era hora de passar logo a boiada antes que chegasse a fiscalização. Um aumento de 3 mil% dos focos de calor (em comparação com o mesmo período do ano passado) tem algo muito errado que não estava no nosso cronograma. Todas equipes estavam mobilizadas, mas com 3 mil focos não daríamos conta, porque quase 90% dos focos acontecem em propriedades privadas. E ninguém pode entrar em propriedade privada antes de ter foco.

Como apontam as previsões, a seca histórica ficará ainda mais grave entre julho e setembro, período de menos chuva no Pantanal historicamente. Meteorologista do Centro de Monitoramento de Tempo, do Clima e dos Recursos Hídricos de Mato Grosso do Sul (Cemtec), Vinicius Sperling, explicou as causas do problema.

— Há um déficit hídrico muito elevado. De setembro a maio, houve 7 a 8 ondas de calor, e as chuvas estão muito abaixo da média. Estamos há 73 dias sem chuva em Corumbá. É um período muito longo aliado a temperaturas muito acima da média e baixíssima umidade relativa, o que gera situações propícias a incêndios. As condições de seca se estabeleceram mais cedo, em pleno período de chuva.

Com Informações O Globo