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PF-AC prende três em operação contra grilagem de terras no Amazonas

Mandados foram expedidos pela Justiça Federal do Amazonas contra grupo envolvido em grilagem — Foto: Asscom/PF-AC

A Polícia Federal no Acre (PF-AC) deflagrou nesta quarta-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, a Operação Brazilian Cricket (“Grilo Brasileiro”), contra uma organização criminosa atuante no sul do Amazonas. A organização era composta por uma família de grileiros, servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e outros colaboradores, responsáveis por fraudes em cartórios e em sistemas informatizados da União, além de estelionato e lavagem de dinheiro.

Mais de 40 policiais federais participaram da operação nos estados da Bahia, Amazonas, Tocantins e Acre, cumprindo três mandados de prisão preventiva e 18 mandados de busca e apreensão, incluindo dois na Superintendência do Incra, em Manaus.

A investigação é um desdobramento da Operação Xingu, que em agosto de 2023 prendeu um grupo de desmatadores, incluindo um dos condenados pelo assassinato da missionária americana Dorothy Stang. A escolha da data da operação visa simbolizar a conscientização e repressão a crimes contra a flora e o patrimônio natural da União.

De acordo com a PF, as provas revelaram que a família de grileiros contou com o apoio de um técnico de georreferenciamento, um ex-Oficial de Cartório e servidores públicos, que manipulavam matrículas de imóveis e sistemas da União para validar propriedades privadas dentro da Floresta Nacional do Iquiri, no município de Lábrea (AM).

Os grileiros envolvidos podem ser pecuaristas, sojeiros, madeireiros, empresários locais ou representantes de elites econômicas e políticas de diversas regiões do Brasil. Eles ocupavam ilegalmente terras, sem pagar pela aquisição, e lucravam com a venda a produtores rurais por valores muitas vezes superiores ao investimento inicial, embora ainda mais baixos que os preços de terras regularizadas.

O líder da organização criminosa, principal alvo da operação, é considerado um dos maiores grileiros do sul do Amazonas, com estimativa de que o grupo tenha grilado mais de 100 mil hectares de terras da União.

Um dos investigados é um ex-Oficial de Cartório de Pauini-AM, já preso em Manaus (AM) pelo homicídio de um advogado da família de grileiros no fim de 2023. A PF-AC destacou que, após o “esquentamento” das propriedades, uma delas foi desmembrada e vendida a terceiros, gerando lucro superior a R$ 40 milhões para o grupo. Os bens do grupo, totalizando R$ 100 milhões, estão bloqueados pela justiça e incluem imóveis, veículos e uma aeronave.

A delegada Caroline Dias de Oliva explicou que o “esquentamento” consiste em fraudar documentos para aparentar que a propriedade já pertencia ao grupo. Com esses títulos aparentemente legítimos, eles vendiam a terra para terceiros, configurando estelionato. O estelionato também foi praticado contra o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ao vender propriedades para pessoas que queriam áreas de reserva legal para desmatamento em outras regiões.

Os investigados poderão responder pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, estelionato, peculato-eletrônico e lavagem de dinheiro, cujas penas podem ultrapassar 20 anos de prisão.

O material apreendido nas buscas será analisado pela equipe de investigação e periciado, podendo surgir novos fatos e pessoas envolvidas.