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Dia da Amazônia: resistência à destruição em tempos de fogo e caos

O Acre está, perigosamente, começando a aceitar o caos como normal. Alguns tentam justificar a fumaça que encobre grande parte da região, alegando que “é normal nessa época do ano.” Mas essa afirmação é estrategicamente calculada. Não é normal e muito menos natural. No agosto mais quente já registrado, com 27 mil focos de calor em toda a região amazônica, o Dia da Amazônia (5 de setembro) chega repleto de desafios e questões que precisam ser enfrentadas e resolvidas.

É importante lembrar que a escolha do dia 5 de setembro para celebrar a Amazônia não foi aleatória. Foi uma decisão política e simbólica, um ato de resistência por parte dos ambientalistas, acadêmicos e trabalhadores contra a expansão da fronteira agrícola no Norte do país. Esse dia foi escolhido para destacar o pico das queimadas, simbolizando a luta contra aqueles que veem a floresta como um obstáculo ao crescimento econômico. Aliado à data histórica da criação da Província do Amazonas, o dia se tornou um marco significativo.

O Dia da Amazônia de 2024 enfrenta ataques mais intensos do que nunca. O que antes era uma ameaça restrita a um pequeno grupo focado na expansão agrícola agora se diversificou, ganhando força em diversos setores da Política e da Economia do país. Esse grupo, com múltiplas faces e interesses, está cada vez mais articulado e perigoso.

Embora ainda não haja provas concretas de que os incêndios em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rondônia foram coordenados, as suspeitas são fortes. No interior de São Paulo, por exemplo, muitos focos surgiram em um intervalo de apenas 1h30min—coincidência demais para ser ignorada.

Mas por que mencionar São Paulo em um editorial sobre o Dia da Amazônia? Porque as questões ambientais devem ser avaliadas de forma ampla e global. Já não faz sentido analisar cada bioma de forma isolada. Precisamos identificar onde os incêndios começam e responsabilizar quem está por trás deles, independentemente de onde essas pessoas ou grupos estejam.

A tentativa de transformar o Dia do Fogo em um contraponto político ao Dia da Amazônia, ou de marcar que no Governo X queimou-se mais do que no Governo Y, é insana. Todos saem perdendo com isso.

Este é um tema crucial para o Acre, e, lamentavelmente, a bancada federal do Estado pouco contribui para qualificar o debate. Talvez uma parlamentar se destaque ao tentar aprender e falar com lógica, mas os demais demonstram uma visão maniqueísta, obscura e antiquada. Confundem “desenvolvimento” com “crescimento econômico” sempre que abordam o assunto e não aceitam a complexidade da floresta.

Eles preferem a matemática cartesiana da agronomia, que calcula precisamente o rendimento de cada semente em cada pedaço de terra. A floresta, com sua diversidade, desordena esses cálculos, e poucos estão dispostos a aprender a “matemática da diversidade.”

O cenário para o Dia da Amazônia de 2024 é sombrio: um em cada quatro municípios brasileiros enfrenta uma seca severa, e o Acre sabe bem o que isso significa. O Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) afirma que este é um dos piores cenários dos últimos 40 anos. Em agosto, o fogo consumiu 2,5 milhões de hectares na Amazônia, um aumento de 80% nos focos de calor em relação ao mesmo período do ano passado.

Por escolha, muitos ignoram (ou, pior, ridicularizam) o impacto do aquecimento global alimentado pelas queimadas. Secas extremas que antes ocorriam a cada 50 ou 100 anos agora se repetem a cada 5 ou 10 anos, ou até em anos consecutivos, como em 2023 e 2024. E isso está sendo aceito como normal.

O Dia da Amazônia é um chamado para resistir a essa normalização. É uma provocação e um convite para defender a vida, simplesmente porque precisamos dela—mesmo que seja por teimosia.