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Estudo revela que música pode melhorar aprendizado e reconfigurar memórias

A música faz parte da vida cotidiana, muitas vezes despertando emoções intensas, como lágrimas ou entusiasmo, dependendo da melodia. Agora, essa percepção ganhou base científica em um estudo liderado por Yiren Ren, estudante de doutorado da Faculdade de Psicologia do Instituto de Tecnologia da Geórgia (Georgia Tech), nos Estados Unidos. Ren conduziu duas pesquisas que investigam o papel da música no aprendizado e na remodelação de memórias antigas, com possíveis aplicações terapêuticas para a saúde mental.

Segundo Thackery Brown, orientador da pesquisa, um dos estudos analisou como a música pode influenciar a qualidade da memória durante o processo de formação, ou seja, no momento do aprendizado. O outro estudo explorou a capacidade da música de alterar as emoções associadas a memórias já existentes.

Os resultados foram publicados nas revistas Cognitive, Affective, & Behavioral Neuroscience e PLOS One em junho e agosto de 2024, respectivamente.

Música pode alterar a forma como lembramos de memórias antigas?

Os pesquisadores basearam-se no fato comprovado de que a música ativa áreas do cérebro relacionadas à emoção, motivação e memória autobiográfica. O foco, no entanto, era determinar se a música poderia realmente mudar o conteúdo emocional de memórias passadas. Para testar essa hipótese, 44 estudantes da Georgia Tech foram convidados a ouvir trilhas sonoras de filmes enquanto relembravam uma memória difícil. No dia seguinte, ao relembrar as mesmas memórias sem a música, o tom emocional ainda refletia a trilha sonora do dia anterior.

Os resultados foram observados por meio de ressonância magnética funcional (fMRI), que mostrou mudanças na atividade cerebral, especialmente um aumento na conectividade entre a amígdala (responsável por processar emoções) e outras áreas associadas à memória.

“O estudo demonstra a maleabilidade da memória em resposta à música e o poderoso papel que ela pode desempenhar na alteração de memórias já formadas”, afirma Ren.

Música pode melhorar o aprendizado?

O segundo estudo investigou se a música pode ajudar ou prejudicar a memória durante atividades como dirigir, trabalhar ou estudar. Ren e sua equipe testaram 48 participantes entre 18 e 24 anos, que aprenderam uma série de formas abstratas enquanto ouviam dois tipos de música: uma peça com estrutura familiar (com tom, ritmo e melodia previsíveis) e a mesma peça tocada de forma atonal, ou seja, fora de ordem.

Os participantes que ouviram a música previsível aprenderam e lembraram as sequências mais rapidamente, pois o cérebro criou uma “estrutura” para as novas informações. No entanto, a música com estrutura irregular dificultou o aprendizado.

Ren, que também é multi-instrumentista, conclui que a música pode tanto ajudar quanto atrapalhar a memória, dependendo da familiaridade e previsibilidade da estrutura musical.

A expectativa é que essas descobertas possam sustentar o desenvolvimento de intervenções terapêuticas baseadas em música para tratar condições como depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e demência, oferecendo novas formas de modulação emocional das memórias e apoio à saúde mental e cognitiva.