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Seca extrema no Acre facilita descoberta de fósseis e revela tesouros históricos

O Acre enfrenta uma das piores secas dos últimos anos, com rios em níveis críticos, queimadas, fumaça e queda na qualidade do ar. Apesar dos prejuízos para a população e a fauna, este cenário favorece descobertas paleontológicas. A seca expõe rochas, aumentando a possibilidade de encontrar fósseis que ajudam a desvendar a história da região.

De acordo com o biólogo e doutor em Geociências, Carlos D’Apólito, a baixa dos rios é fundamental para a paleontologia e arqueologia. “Com o rio seco, as rochas onde os fósseis estão ficam visíveis. Em secas severas, mais rochas são expostas, aumentando a chance de novos achados”, afirmou D’Apólito, que é professor da Universidade Federal do Acre (Ufac).

Em 2024, durante uma das secas mais intensas, foram encontradas vértebras de um Purussaurus, o maior jacaré da história, que habitou a Amazônia há mais de 10 milhões de anos. Descobertas como essa são frequentes em anos de seca. “Às vezes, os achados são tantos que não conseguimos atender a todos, por isso contamos com ribeirinhos para doações aos laboratórios da Ufac”, explicou D’Apólito.

Acervo paleontológico no Acre

Os fósseis encontrados são patrimônio da União e ficam sob a guarda de instituições como a Ufac, que possui um acervo de meio século, importante tanto a nível nacional quanto internacional. D’Apólito destaca que, apesar de raros, fósseis também podem ser encontrados em outros períodos do ano, como nas estradas durante cheias, mas a vegetação geralmente dificulta o trabalho.

Em 2024, fósseis dos rios Tarauacá e Purus foram doados e coletados pela equipe de pesquisadores da Ufac. “Em expedições, fazemos uma coleta detalhada, o que resulta em mais descobertas”, disse o professor.

O processo após a descoberta

Depois que um fóssil é encontrado, ele é levado para o laboratório, onde passa por um processo de limpeza e preservação. “Removemos as rochas ao redor do fóssil, usamos resinas para reparar danos e, então, identificamos e catalogamos o material, que passa a integrar nosso acervo”, explicou D’Apólito. Esse acervo, com cerca de 10 mil peças, é utilizado para pesquisas e aulas.

A seca no Acre

O Acre vive sua pior seca em 80 anos, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). O cenário inclui baixos níveis de água, queimadas, fumaça e dificuldades de navegação. A seca afeta não apenas o Acre, mas também outros 15 estados e o Distrito Federal, segundo dados de maio a agosto de 2024.

Diante da crise ambiental, o governador Gladson Cameli decretou estado de emergência em junho de 2024, destacando a redução das chuvas, a queda dos cursos hídricos e o risco crescente de incêndios florestais em todo o estado. O decreto foi baseado em uma nota técnica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, que prevê agravamento das condições climáticas nos próximos meses.

Via Contilnet.