Carlos Afonso, atual artesão-mestre da oficina Funbesa, chegou ao local aos 11 anos, iniciando ali uma trajetória de dedicação ao ofício da cerâmica, um saber ancestral com cerca de 10 mil anos de história.
Carlos Afonso Januário de Souza, hoje com 53 anos, conta que começou na Funbesa ainda criança. “Eu vim para cá com 11 anos. Naquela época, havia colônia de férias, área de lazer e cursos. Aos 12, comecei a aprender cerâmica e nunca mais parei.”
Fundada em 1968 no bairro Estação Experimental, em Rio Branco, a Funbesa surgiu como um espaço de apoio a menores em situação de vulnerabilidade, oferecendo cursos de reabilitação e aprendizado. Gerida inicialmente pela Legião Brasileira de Assistência (LBA), a instituição ampliou seu trabalho, incluindo cursos de artesanato, corte e costura, panificação e cabeleireiro, entre outros.
Até o ícone botafoguense e da Seleção Brasileira, Mané Garrincha, chegou a participar de eventos organizados pela Funbesa, promovidos pela LBA. Em 1981, Souza chegou ao local e lembra como a Funbesa acolheu sua família em um momento de dificuldades.
Transformação e Continuidade
Com o tempo, antigos instrutores se aposentaram, e alunos, como Souza, assumiram os cursos. Na década de 90, a Funbesa passou a operar sob outras secretarias estaduais e, no início dos anos 2000, os artesãos começaram a atuar de forma independente.
Ana Cleide da Silva Paiva, administradora da área de artesanato da Funbesa há mais de 20 anos, lembra a alta demanda pelos cursos e como a equipe buscava atender ao máximo possível, muitas vezes com alunos ajudando a organizar novas turmas. “Eu chegava a encorajar mulheres a fazer os cursos para se sustentarem”, comenta.
Estimativas apontam que centenas de artesãos foram formados na Funbesa. Souza, orgulhoso, afirma que ensinou cerâmica em vários municípios do Acre, embora nem todos os projetos de expansão tenham prosperado. “Quero ensinar quem tiver interesse”, afirma ele.
Seu legado segue em casa. Seu filho, Carlos Gabriel, de 23 anos, começou a frequentar a oficina desde pequeno e hoje trabalha ao lado do pai. “Ainda estou em fase de aprendizado, mas quero chegar ao nível dele”, diz o jovem.
Embora a tecnologia tenha evoluído, o processo de produção da cerâmica segue basicamente o mesmo desde a antiguidade. A argila usada na Funbesa é coletada em Rio Branco e precisa de tempo para repousar antes de ser modelada e levada à fornalha, construída com materiais recicláveis e certificada como de baixa emissão de poluentes.
Durante a seca de 2024, os artesãos enfrentaram desafios para secar as peças, precisando umedecer constantemente o ambiente para evitar que o barro rachasse. Apesar disso, a produção incluiu vasos, utensílios domésticos e lembranças para festas.
O Artesanato Acreano pelo Mundo
Com peças vendidas entre R$ 8 e R$ 100, a Funbesa participa de eventos locais e nacionais, levando seu trabalho a várias partes do Brasil e até a países como Japão, Canadá e China. “Meu serviço me levou a muitos lugares”, relata Souza, que já expôs em feiras de artesanato por todo o país.
Todo o lucro das vendas é dividido entre os artesãos, que têm no local um meio de sustento garantido. Souza enfatiza a importância do apoio do governo, que permite que os artesãos trabalhem com total autonomia financeira. “Aqui, essa é minha escolha, minha vida. Eu amo o que faço e não trocaria por outra profissão”, finaliza.