SENA MADUREIRA

Os riscos do leite in natura e a falácia das justificativas populares


O consumo de leite in natura — aquele que não passa por processos de pasteurização — é um hábito ainda presente em regiões rurais e interioranas do Brasil. Apesar de parecer uma prática inofensiva para alguns que alegam “nunca terem adoecido”, a ciência demonstra que esse argumento não é um indicativo confiável de segurança alimentar. Ao consumir leite cru, a população está exposta a uma série de doenças graves, colocando sua saúde em risco.

Doenças Relacionadas ao Leite Não Pasteurizado

O leite in natura pode ser veículo de transmissão de bactérias, vírus e parasitas prejudiciais, como:

  • Brucelose: Doença infecciosa que causa febre alta, sudorese e fadiga. Em casos crônicos, pode comprometer órgãos internos.
  • Tuberculose Bovina: Pode ser transmitida ao homem pelo leite cru contaminado, levando a infecções pulmonares e outros problemas sistêmicos.
  • Listeriose: Doença bacteriana que afeta especialmente grávidas e imunossuprimidos, podendo causar aborto, meningite e morte.
  • Salmonelose e E. coli: Resultam em gastroenterites severas com diarreia, vômito e febre, e em alguns casos, insuficiência renal.

A pasteurização — técnica que aquece o leite a uma temperatura específica e depois o resfria — é essencial para eliminar esses patógenos e garantir a segurança alimentar sem perder o valor nutricional do produto.

A Falácia do “Nunca Me Fez Mal”

É comum ouvir de pessoas que vivem no campo ou que têm acesso direto a fazendas que o consumo de leite cru “nunca causou problemas”. Embora essas alegações pareçam legítimas, elas não podem ser usadas como justificativa científica por vários motivos:

  1. Exposição Individual Variada: Nem todos que consomem leite contaminado adoecem de imediato. O sistema imunológico pode resistir em alguns casos, mas isso não significa que o leite é seguro.
  2. Efeitos a Longo Prazo e Subnotificação: Algumas doenças transmitidas pelo leite cru, como a brucelose e a tuberculose, podem ter sintomas crônicos e serem diagnosticadas tardiamente, sem que as pessoas façam a conexão com o consumo de leite.
  3. Falsa Correlação de Segurança: Apenas porque alguém nunca ficou doente não significa que o alimento seja seguro. Essa lógica é conhecida como viés de sobrevivência — ou seja, apenas as experiências positivas são levadas em conta, enquanto os casos de adoecimento ou morte podem ser ignorados ou subnotificados.
  4. Riscos Aumentados em Crianças, Idosos e Imunodeprimidos: Mesmo que adultos saudáveis tolerem a exposição, grupos vulneráveis como crianças e gestantes correm maior risco de desenvolver complicações graves ao consumir leite in natura.

Por que Consumir Leite Pasteurizado é Essencial?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as principais agências sanitárias, como a Anvisa, a pasteurização é fundamental para prevenir a disseminação de doenças que ainda ocorrem em populações que consomem leite cru. Estudos demonstram que, após a introdução da pasteurização, houve uma redução significativa de doenças infecciosas associadas ao leite em vários países.

Portanto, o consumo de leite pasteurizado não é apenas uma recomendação, mas uma medida de saúde pública essencial para evitar riscos desnecessários. Apostar na segurança dos produtos industrializados é mais seguro do que confiar em crenças sem base científica.

Em suma, por mais que o leite in natura possa parecer inofensivo e até mais saboroso para alguns, a ciência mostra que o custo-benefício não compensa os riscos. Escolher o leite pasteurizado é garantir não apenas a própria saúde, mas também a segurança coletiva.