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Seca agrava desempenho da cana-de-açúcar: produtividade cai e colheita é antecipada

A seca extrema na região centro-sul do Brasil resultou em queda significativa na produtividade de cana-de-açúcar e fez com que usinas adiantassem a colheita. Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a média de produtividade em setembro foi de 69,7 toneladas por hectare (t/ha), bem abaixo das 83,4 t/ha registradas no mesmo mês de 2023. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Biotecnologia (UNICA) informou que 12 usinas já concluíram a moagem até a segunda quinzena de outubro, comparado a quatro no mesmo período da safra passada.

A qualidade da matéria-prima, medida pelo índice de Açúcar Total Recuperável (ATR), apresentou leve aumento em 2024, com 136,71 kg por tonelada de cana. Entre os associados da UNICA, esse índice subiu para 160,30 kg por tonelada, uma melhoria de quase 7% em relação à safra anterior. Em toda a safra, o ATR acumulado ficou em 142,23 kg por tonelada, 1,03% a mais do que no mesmo período em 2023.

As usinas da região centro-sul processaram 33,83 milhões de toneladas na primeira quinzena de outubro, superando as 32,93 milhões do ano anterior. Até o dia 16 de outubro, a moagem acumulada da safra 2024/2025 atingiu 538,85 milhões de toneladas, uma alta de 2,36% em relação ao ciclo anterior.

Maximiliano Salles Scarpari, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), explicou que o monitoramento climático do projeto PrevClimaCana apontava para uma redução já no início do ano, com um déficit hídrico severo desde dezembro de 2023, intensificado de março a outubro de 2024. Para reduzir perdas, usinas estão antecipando áreas de colheita, o que também permite mais tempo para preparar equipamentos para a próxima safra.

Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, destacou que a cana brasileira é adaptada a condições de seca, mas a produção foi afetada, especialmente onde os períodos de estiagem são mais longos. Técnicas de irrigação, como a “irrigação de salvamento” (30 a 60 mm logo após a colheita) e a “irrigação deficitária” (20% a 25% da demanda hídrica), podem ajudar a amenizar os impactos.

Embora as técnicas de irrigação estejam sendo adotadas, seu uso é regulamentado, especialmente em períodos de escassez de água, como em São Paulo, onde o uso de recursos hídricos para a agricultura compete com o abastecimento urbano. Bufon recomenda o uso de seguros paramétricos, que compensam produtores por perdas na produtividade devido ao clima, para reduzir o impacto financeiro.

O setor enfrenta desafios climáticos e econômicos, mas continua buscando formas sustentáveis de atender à crescente demanda global por alimentos e biocombustíveis, com apoio de tecnologias e políticas públicas.