Justiça

Gladson Cameli depõe ao STJ e nega envolvimento em esquema de corrupção e fraude

O governador do Acre, Gladson Cameli, prestou depoimento nesta terça-feira (5) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde é réu por organização criminosa, corrupção passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraude à licitação. Cameli depôs após a defesa solicitar adiamento, alegando necessidade de acesso a documentos relacionados ao caso. Após a audiência, ele não concedeu entrevistas, mas seus advogados afirmaram que apontarão supostas falhas processuais, como HDs apreendidos não periciados e inconsistências em relatórios financeiros.

Durante o depoimento, Cameli argumentou que um imóvel de luxo em São Paulo, avaliado em R$ 5 milhões, não lhe pertence. Segundo ele, a compra do imóvel foi uma decisão familiar para acomodar seu pai, que passava por tratamento de saúde, e foi intermediada pelo irmão, Gledson Cameli. Documentos mostram que a construtora Rio Negro, de Gledson, teria pago R$ 647 mil em parcelas do apartamento e 81% de um carro de luxo supostamente usado pelo governador.

O Ministério Público questionou por que o apartamento foi adquirido ainda “na planta”, e Cameli justificou que isso facilitaria uma eventual troca por outro imóvel. Ele ainda destacou que o irmão era responsável pelas transações enquanto o pai enfrentava o tratamento contra o câncer.

Documentos e possível interferência familiar

Uma minuta de divórcio, que menciona o “imóvel de São Paulo”, foi encontrada na residência de Cameli. Ele afirmou desconhecer o documento. Foi questionado também sobre uma conversa com o ex-secretário da Fazenda, Rômulo Grandidier, sobre a transferência do imóvel para a GGC Holding. Cameli alegou desconhecer o diálogo.

Histórico das acusações e decisão do STJ

Cameli é réu em ação penal desde maio, acusado de fraudes em contratos de licitação, formação de organização criminosa e desvio de recursos. O STJ negou seu afastamento do cargo, mas manteve bloqueio de bens e medidas cautelares. O caso remonta a um contrato de R$ 24,3 milhões com a empresa Murano, de Brasília, em 2019. As investigações indicam que a Murano, sem sede no Acre, subcontratou a Rio Negro, pertencente ao irmão do governador. Segundo a CGU, a transação foi estruturada para ocultar a ausência de licitação e beneficiou diretamente Cameli e familiares. Estima-se um prejuízo de quase R$ 150 milhões aos cofres públicos.

Além do governador, outras 12 pessoas, incluindo parentes e ex-servidores, foram denunciadas no caso.