De acordo com fontes ligadas ao processo, Baptista Júnior relatou que houve elaboração de uma minuta de decreto que previa a anulação do resultado das eleições presidenciais e a convocação de novas eleições sob supervisão das Forças Armadas. O documento também mencionava o uso do chamado “estado de defesa” como instrumento jurídico para justificar a intervenção.
O ex-comandante da FAB confirmou que foi convocado a reuniões no Palácio do Planalto com a presença de Bolsonaro, além de representantes do Exército e da Marinha. Segundo ele, o conteúdo das conversas envolvia diretamente a ideia de impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em um movimento que seria respaldado por ações institucionais e militares.
Baptista Júnior também afirmou que, apesar da pressão sofrida, não apoiou a execução do plano e se opôs ao uso das Forças Armadas para fins políticos. Sua resistência, segundo o depoimento, teria sido compartilhada por outros oficiais da Aeronáutica, o que contribuiu para o fracasso da articulação.
O depoimento é considerado um dos mais relevantes até agora no inquérito do STF, pois envolve uma alta patente militar que testemunhou diretamente os bastidores das intenções golpistas. A Procuradoria-Geral da República avalia que as informações prestadas reforçam a suspeita de que houve, de fato, uma tentativa de ruptura institucional articulada dentro do próprio governo federal.
O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, determinou que as investigações prossigam com o aprofundamento de diligências e a convocação de outros militares e ex-ministros ligados ao núcleo próximo de Bolsonaro. A Polícia Federal também analisa mensagens e documentos apreendidos que, segundo os investigadores, demonstram o avanço das tratativas para a tentativa de golpe.
Parlamentares da oposição cobraram que as apurações sejam conduzidas com rigor e que todos os envolvidos sejam responsabilizados. Já aliados do ex-presidente Bolsonaro classificaram os depoimentos como “narrativas forjadas” e reforçaram que não houve qualquer ação ilegal por parte do governo anterior.
O clima político em Brasília voltou a se intensificar com a revelação do depoimento. Movimentos sociais e entidades em defesa da democracia têm se mobilizado para acompanhar de perto os desdobramentos do caso, enquanto setores militares demonstram preocupação com a imagem das Forças Armadas diante da opinião pública.
O caso reacende o debate sobre o papel das instituições militares no cenário político e a necessidade de preservar a Constituição frente a possíveis ameaças autoritárias. O STF segue à frente das apurações, com previsão de novas oitivas nos próximos dias e possível apresentação de denúncia formal contra os envolvidos até o segundo semestre.