Na média dos institutos de pesquisa, o governo tem por volta de 27% de avaliações “ótimo e bom”. De acordo com a literatura de Ciência Política, ele precisa ter por volta de 40% para poder ter mais chance de ser reeleito do que de ser substituído.
Conversando com um diretor de um instituto de pesquisas, que roda vários estudos todos os meses, ouvi que a situação negativa de Lula está cristalizada e os dados têm variado pouco desde que atingiram o atual patamar.
Quando perguntado sobre as razões que explicam esse estado de coisas, ele cita as três razões mais apontadas pelos entrevistados como justificativa pela má avaliação.
A primeira é o aumento de impostos. Perguntei, curioso, se essa era realmente uma agenda popular, levando em conta que, no discurso do governo, quem está pagando pelo aumento recente da arrecadação seriam os mais ricos.
De bate pronto, meu interlocutor respondeu que o governo pode até estar mirando agora os moradores da cobertura, mas começou tributando o pessoal do térreo ao aprovar a “taxa das blusinhas”. A população não esqueceu e toda vez que o ministro Fernando Haddad sugere uma nova medida arrecadatória, a turma lembra quem perdeu logo na saída.
A segunda razão também tem a ver com memória. Quando as pessoas são perguntadas sobre a principal promessa não cumprida do governo, o que vem à tona é a previsão de que o pobre voltaria a “tomar cerveja e comer picanha”.
No período eleitoral, a menção dos dois alimentos foi uma sacada genial de comunicação, especialmente em um ano particularmente difícil para os preços de alimentos em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia (2022).
Mas, se a ideia de um churrasco embalou o voto popular em Lula, também se tornou uma espécie de maldição a persegui-lo. Todo movimento de aumento de preços de alimentos ganha peso devido à fixação que se desenvolveu sobre o tema.
A terceira questão é a aparente leniência que o governo teria com o crime. O problema aí é mais de valores do que de políticas públicas, considerando que segurança em um tema estadual. De todo modo, a abordagem histórica pró-réu prejudica Lula – e qualquer governo de esquerda – na medida em que a maioria das pessoas deseja mais atuações ostensivas das polícias e rigor da justiça.
Os três casos mostram que o brasileiro se orienta por questões básicas: diminuição do poder de compra afetado por impostos, inflação e sensação de insegurança. Para virar o jogo, o governo deveria oferecer respostas para esses temas.
Sobre segurança, o governo não tem muitas opções, considerando que o problema é mais de valores e exigiria de a esquerda ter que renegar um discurso histórico que associa o problema à culpa social. Restam os outros dois.
O foco de Lula tem sido em políticas redistributivas e de crédito direcionado a grupos, trabalhando uma lógica de democracia pecuniária na qual todo segmento tem seu preço. O próximo grupo a ser atendido, por exemplo, deve ser os entregadores que terão uma linha subsidiada para comprar uma moto elétrica.
O problema desse caminho é a pressão fiscal que exige mais arrecadação, impacta a inflação e aumenta os juros, encarecendo o crédito. O governo sacrifica o macro para atender grupos e seus efeitos colaterais pioram a questão do preço dos alimentos e do aumento de impostos.
Lula tem atrapalhado sua própria popularidade.
Leonardo Barreto – Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília