O Brasil não faz mais parte do grupo de países com índice de subnutrição acima de 2,5% da população, segundo o relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025 (SOFI), publicado pela FAO/ONU. O dado, que representa um avanço em relação ao triênio anterior (2018–2020), tirou o país oficialmente do chamado Mapa da Fome. No entanto, especialistas chamam atenção para um retrato mais amplo e preocupante da segurança alimentar no Brasil.
Segundo Luciana Quintão, fundadora e presidente da ONG Banco de Alimentos, o indicador da FAO é relevante, mas precisa ser analisado em conjunto com outros dados alarmantes também divulgados no relatório. “Parece uma excelente notícia, mas ainda estamos longe de erradicar a fome. O relatório mostra que 28,7 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar moderada ou grave. Isso significa gente comendo menos, mudando hábitos por falta de dinheiro, ou mesmo ficando sem comer por um ou mais dias”, afirma.
Veja as fotosAbrir em tela cheia A poucos dias para entrar em vigor tarifa estadunidense sob o Brasil, Lula condena Eduardo e Jair Bolsonaro sobre a taxaçãoReprodução: YouTube/Canal Gov Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil Foto: MDS Internet Reprodução Foto: Gov.br
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Ainda de acordo com o levantamento, 50,2 milhões de pessoas no país não têm condições de pagar por uma alimentação saudável, enquanto 7 milhões vivem em insegurança alimentar grave. Além disso, 45,7 milhões de brasileiros estão obesos, um dado que, segundo Luciana, não representa abundância, mas sim um reflexo da má alimentação, do consumo excessivo de ultraprocessados e da falta de acesso a alimentos nutritivos.
“Os números expõem um Brasil profundamente desigual, com 14,7 milhões de pessoas em extrema pobreza e um sistema que ainda desperdiça riquezas enquanto parte da população passa fome. A saída do mapa é simbólica, mas não significa que vencemos essa batalha. É preciso combater a desigualdade com políticas públicas sérias e eficazes, que priorizem educação, saúde e oportunidades de trabalho”, afirma a especialista.
Avaliação política
Para o analista político Alexandre Bandeira, a saída do Mapa da Fome é uma conquista importante, mas que exige continuidade e reforço das estratégias sociais. “É um marco positivo, e grande parte desse resultado se deve ao fortalecimento de programas como o Bolsa Família, ao aumento do salário mínimo, à queda do desemprego e ao investimento na alimentação escolar”, avalia.
Bandeira destaca que o desafio persiste. “Estamos em uma faixa mais segura, mas ainda temos cerca de 35 milhões de brasileiros com dificuldade de acesso a alimentos. A conquista é real, mas o trabalho precisa continuar com foco na redução da pobreza e no fortalecimento das redes de proteção social.”