O Dia da Infância é celebrado neste domingo (24/8). Criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a data busca promover reflexões sobre as condições de vida das crianças no mundo e defender seus direitos à alimentação, moradia, educação, cultura e valores essenciais para um desenvolvimento pleno e harmonioso.
Em entrevista ao portal LeoDias, a neurocientista Telma Abrahão, especialista em desenvolvimento infantil, convida para refletirmos sobre a forma como cuidamos das crianças e sobre o papel da sociedade na criação de ambientes saudáveis para seu crescimento.
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Embora os primeiros anos de vida sejam determinantes para o futuro de cada indivíduo, a percepção sobre a importância dessa fase ainda é limitada no país. Dados da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal mostram que 42% da população desconhece o termo “primeira infância” e apenas 15% entende sua relevância para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo.
Esse desconhecimento se reflete nas práticas de cuidado. Quase metade dos cuidadores recorre a gritos ou discussões para disciplinar, e 29% usam castigos físicos. Para Telma Abrahão, esses comportamentos configuram formas de violência que deixam marcas invisíveis, mas permanente: “O cérebro da criança está em plena formação. Quando ela é exposta repetidamente à falta de afeto ou a situações de insegurança, o corpo interpreta como ameaça, gerando o chamado estresse tóxico. Esse estado contínuo de alerta prejudica funções essenciais, como memória, autocontrole e regulação do medo”, explica.
O impacto se estende para a vida adulta. O Estudo Adverse Childhood Experiences (ACE), um dos mais amplos do mundo sobre o tema, mostra que experiências adversas na infância aumentam o risco de depressão, ansiedade, vícios e até doenças físicas: “Uma criança que cresce sem confiança no cuidado dos pais internaliza que o mundo não é seguro. Isso a torna hipervigilante, desconfiada e emocionalmente fragilizada, condições que repercutem na saúde mental por toda a vida”, afirma Telma.
Responsabilidade não é apenas dos pais
A especialista destaca que a responsabilidade não é apenas dos pais: “Muitas vezes, a negligência é fruto de falta de suporte emocional, informação e políticas públicas que ofereçam condições reais de cuidado. Precisamos apoiar as famílias para que possam oferecer vínculos seguros e presença afetiva às crianças”.
Telma alerta ainda para situações de adultização precoce, quando a criança assume responsabilidades de adulto, gerando traumas, dificuldades de relacionamento, crises de pânico e sensação persistente de insegurança.
“Neste Dia Nacional da Infância, a mensagem é clara: o cuidado infantil não é responsabilidade exclusiva da mãe. É uma construção coletiva que envolve famílias, comunidade, profissionais e governo. Nem todos têm filhos, mas todos tiveram infância. E o que acontece na infância ecoa para a vida inteira”, finaliza.