Especialista explica os desafios no diagnóstico e tratamento da endometriose

Especialista explica os desafios no diagnóstico e tratamento da endometriose

Nesta sexta-feira (15/8) é celebrado o Dia da Gestante, data dedicada à saúde reprodutiva e à conscientização sobre doenças como a endometriose. Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de atendimentos no SUS a pacientes com a doença cresceu mais de 30% entre 2022 e 2024, evidenciando a necessidade de manter o tema em pauta.

Em entrevista ao portal LeoDias, o ginecologista e obstetra Jardel Pereira Soares – referência nacional no tratamento por videolaparoscopia e autor do livro “Descomplicando a endometriose” – informa que a endometriose é uma doença crônica caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio — que normalmente reveste o útero — em outras regiões do corpo, como ovários, trompas de falópio, intestino e órgãos da pelve e abdômen.

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O médico ressalta que o problema ainda é cercado de preconceitos. “Porque ainda existe um conceito arcaico de que a mulher sentir dor é algo normal. Um outro motivo é porque as pessoas não acreditam que as queixas dessas mulheres são reais”, afirma.

Jardel explica que o aumento de casos registrados no país também está relacionado ao maior acesso à informação e à visibilidade trazida por figuras públicas que compartilham sua experiência com a doença. “As próprias pacientes também começaram a entender que seus sintomas podem corresponder à doença, levando a uma maior procura por atendimento. Não podemos deixar de destacar o maior entendimento e interesse dos profissionais de saúde, dando cada vez mais importância às queixas das pacientes”, completa.

Desafios no diagnóstico precoce
Para o especialista, um dos principais entraves está no real interesse dos profissionais de saúde em ouvir as pacientes. “Em geral, a própria paciente dá o seu diagnóstico, quando relata seus sintomas. É só querer escutar. Há também a falta de profissionais especializados. Outra dificuldade é o acesso aos exames de imagem no SUS, impossibilitando o fechamento do diagnóstico”, diz.

Ele reforça que a falta de escuta e de informação adequada contribui para o atraso no diagnóstico. “Quando falamos de um atraso no diagnóstico de 7 a 10 anos para adultos e de até 14 anos para adolescentes, estamos falando não só da falta de informação mas também da falta de uma escuta adequada e verdadeiro interesse no que a paciente está falando. É muito comum e já foi comprovado estatisticamente que uma paciente procura até 5 profissionais para chegar ao diagnóstico correto”, salienta.

Sinais e sintomas de alerta
O ginecologista orienta atenção aos seguintes sintomas: “Dor tipo cólica cada vez mais intensa, que não cede ao uso de analgésicos e/ou anti-inflamatórios comuns, levando cada vez mais vezes essas mulheres à urgência em busca de drogas mais fortes. Essa dor pode estar relacionada ou não ao período menstrual. Dor na relação sexual (dispareunia); diarreia no período menstrual; infecções urinárias de repetição; inchaço abdominal (Endo barriga); sangramento aumentado de volume (metrorragia)”.

Avanços no tratamento
Entre as conquistas recentes, Jardel destaca as cirurgias robóticas, cada vez mais precisas, e os recursos disponíveis no SUS, como o uso do desogestrel (anticoncepcional oral) e o DIU hormonal (Mirena), que não curam a doença, mas aliviam significativamente os sintomas. “Além disso, podemos contar cada vez mais com equipes multidisciplinares preparadas para o tratamento complementar avançado”, fala.

O médico lembra que a cirurgia não é indicada para todos os casos. “O tratamento tem como prisma principal a mudança de hábitos (dieta adequada, atividade física, fisioterapia pélvica, acupuntura e medicamentos). As indicações para cirurgia são precisas (dor refratária ao tratamento clínico, infertilidade, suspeita de lesão maligna, endometriose em órgãos vitais como rins, ureteres, intestino e bexiga)”, explica.

O tratamento clínico, segundo ele, pode reduzir o processo inflamatório e favorecer tanto a gravidez espontânea quanto o sucesso da fertilização in vitro (FIV). “O tratamento cirúrgico pode reorganizar a pelve, proporcionando um ambiente mais viável para uma gestação, seja espontânea ou por fertilização”, ressalta.

A importância da escuta humanizada
Defensor da escuta humanizada, Jardel explica: “Normalmente quem dá o diagnóstico é a própria paciente, ao relatar suas queixas é como se ela nomeasse sintoma por sintoma da doença. Precisamos entender a diferença de ouvir e de escutar. Em geral, os profissionais ouvem, mas não escutam. Escutar exige atenção, compreensão e ação; e isso é humanizar. Se colocar no lugar da paciente, entender sua trajetória, suas expectativas”.

Ele defende que a formação básica dos profissionais seja aprimorada para oferecer atendimento adequado às mulheres com endometriose, incluindo toda a equipe de saúde. “Não falo apenas de médicos, falo do atendimento com empatia desde agentes de saúde, recepcionistas até a equipe multidisciplinar – psicólogos, nutricionistas, entre outros.”

O especialista garante que mulheres com endometriose podem ter uma gestação segura. “Com uma boa preparação, seguindo o pré-natal adequado e principalmente com disciplina, sim, é possível ter uma gravidez segura”, afirma.

Entre os cuidados, ele orienta acompanhamento próximo no início da gestação, dieta supervisionada e prevenção do aborto — principal temor no primeiro trimestre. Já no terceiro trimestre, o foco é evitar o parto prematuro.

O parto humanizado, segundo Jardel, é uma opção indicada para pacientes com a doença. “E deve ser a preferência nesses casos, já que a endometriose é uma doença inflamatória e que causa muitas aderências na pelve. Não precisar passar por uma intervenção cirúrgica é uma maneira de evitar novas aderências, dor e complicações”, finaliza.

Categories: ENTRETENIMENTO
Tags: Dia da GestanteEndometrioseginecologistaMinistério da SaúdeSAÚDE