No último dia 11 de agosto, vídeos de um pastor conhecido como bispo Eduardo Costa viralizaram nas redes sociais. Ele foi flagrado caminhando pelas ruas de Goiânia (GO) usando calcinha e peruca. A cena inusitada chamou atenção em todo o país, gerou memes e longas discussões nas redes sociais. Após a repercussão, o próprio religioso afirmou nas redes que estaria realizando uma “investigação pessoal” quando foi filmado naquela situação.
Mas o episódio não parou por aí. Apenas quatro dias depois, em 14 de agosto, o portal LeoDias teve acesso a um novo vídeo em que o líder religioso surge novamente em público, desta vez de forma ainda mais ousada: usando uma microcalcinha fio-dental. A repetição do comportamento, mesmo depois da grande exposição, levantou questionamentos entre internautas sobre a possibilidade de se tratar de um transtorno psicológico, de compulsão ou até de um fetiche sexual.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Bispo Eduardo Costa em novo registro caminhando de calcinha e peruca pelas ruas de GoiâniaPortal LeoDias Portal LeoDias Reprodução | Portal LeoDias Pastor flagrado de calcinha em Goiânia já enfrentou acusações de golpe em formandosReprodução: YouTube/Bispo Eduardo Costa Pastor é flagrado andando de peruca e calcinha em rua de GoiâniaFoto: Reprodução/Goiânia Mil Graus Pastor Eduardo Costa se pronuncia após ser flagrado de calcinha e peruca em rua de GoiâniaFoto: Reprodução/Redes sociais Pastor é flagrado andando de peruca e calcinha em rua de GoiâniaFoto: Reprodução/Goiânia Mil Graus Pastor é flagrado andando de peruca e calcinha em rua de GoiâniaFoto: Reprodução/Goiânia Mil Graus
Voltar
Próximo
Leia Também
Redes Sociais
Ele ataca de novo! Pastor de calcinha voltou às ruas dias após 1º vídeo viralizar
Redes Sociais
De calcinha e peruca, novo flagra mostra detalhes da ação do pastor
Redes Sociais
Missão secreta? Pastor é flagrado de calcinha e peruca em rua de Goiânia
Redes Sociais
Pastor flagrado de calcinha e peruca diz que estava fazendo “investigação pessoal”
Para entender o caso, o portal LeoDias conversou com especialistas em saúde mental: o psicanalista Artur Costa, professor sênior da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC), e a psicóloga Adriana Schiavone.
Vida dupla e o peso do desejo reprimido
Segundo Artur Costa, a psicanálise não vê automaticamente nesse tipo de comportamento um transtorno mental. “Na psicanálise, comportamentos como esse não são necessariamente entendidos como transtornos. Muitas vezes estão ligados a desejos inconscientes e a formas de satisfação fetichista. A calcinha e a peruca podem funcionar como objetos simbólicos de prazer e descarga psíquica. Só podemos falar em transtorno quando há sofrimento intenso ou prejuízo funcional significativo. Caso contrário, trata-se mais de uma expressão de desejo reprimido ou de uma prática fetichista”, explicou.
A psicóloga Adriana Schiavone complementa que não existe uma relação direta entre a postura pública e os desejos íntimos. “A psicanálise entende que não existe uma linearidade entre o discurso público e o desejo íntimo. Muitas vezes, quanto mais rígida é a postura moral que alguém sustenta em público, maior pode ser a cisão com a sua vida privada. O uso de roupas femininas, nesse caso, pode estar ligado a práticas fetichistas ou a uma forma de expressão da sexualidade que não encontra espaço para ser vivida abertamente.”
O conflito entre imagem e desejo
O contraste entre a vida pública do bispo — como pastor evangélico, cantor gospel e apresentador religioso — e seus flagrantes noturnos foi apontado pelos especialistas como sinal de conflito interno. “O que leva alguém a viver essa contradição é o conflito psíquico entre o desejo e a moral. A posição pública como líder religioso exige uma imagem conservadora, mas o inconsciente não se dobra a regras sociais. O resultado pode ser uma vida dupla, onde o sujeito tenta manter a coerência diante dos outros, mas cede ao desejo em momentos de clandestinidade”, analisou Artur Costa.
Na mesma linha, Schiavone destacou: “O contraste pode estar relacionado a um conflito interno entre o desejo pessoal e as regras impostas pelo meio social e religioso. Muitas vezes, a necessidade de manter uma imagem impecável força a repressão de aspectos da própria identidade, que acabam emergindo em contextos privados ou clandestinos.”
Consequências emocionais
Ambos os especialistas concordam que a manutenção de uma vida dupla pode trazer sérias consequências psicológicas. “A duplicidade pode levar à ansiedade, culpa, medo constante de exposição e até sintomas depressivos. A psicanálise observa que quanto mais o desejo é reprimido, mais ele tende a retornar de formas descontroladas. Isso gera grande sofrimento psíquico”, alertou Artur Costa.
Já para Adriana, o impacto pode ser ainda mais profundo. “Viver constantemente entre a imagem pública e os desejos privados pode causar altos níveis de ansiedade, sentimentos de culpa, vergonha e medo da exposição. Essa tensão interna pode levar a quadros depressivos, compulsivos e até à dificuldade de manter vínculos afetivos saudáveis, já que a vida se organiza em torno do segredo e da defesa da própria imagem.”
Transtorno ou fetiche?
A dúvida que mais circulou nas redes foi se o comportamento do pastor poderia ser diagnosticado como transtorno. Artur Costa explica: “A principal diferença é o sofrimento do sujeito. Se a prática causa prazer, sem comprometer a vida social e profissional, tende a estar mais ligada a uma expressão sexual ou fetichista. Já quando há perda de controle, compulsão, risco constante de exposição, sofrimento intenso ou incapacidade de manter a vida funcional, podemos falar em quadro clínico que merece investigação mais profunda.”
Adriana Schiavone acrescenta que o critério central é sempre o impacto na vida da pessoa. “O fetiche ou a expressão sexual não assumida, quando vividos de forma consensual e sem prejuízo ao funcionamento global, fazem parte da diversidade da sexualidade humana. Já o transtorno é considerado quando há sofrimento psíquico intenso, perda de autonomia ou comportamentos repetitivos e incontroláveis que comprometem a vida social, profissional ou afetiva.”
Estigma social e clandestinidade
Outro ponto levantado pelos especialistas foi o papel do estigma social e religioso na repressão desses desejos. “O tabu religioso e social em torno da sexualidade pode empurrar muitas pessoas a viver seus desejos apenas na clandestinidade. O medo do julgamento faz com que a prática seja escondida, reforçando a vida dupla e o sofrimento”, afirmou Artur Costa.
Adriana concorda: “Sem dúvidas, o peso da moralidade e o estigma sobre certas práticas sexuais e expressões de gênero levam muitas pessoas a viverem no segredo. Quando o ambiente social e religioso não acolhe essas diferenças, o indivíduo é forçado a esconder parte de si. Isso intensifica a clandestinidade e pode transformar desejos íntimos em fonte de sofrimento.”