Gravidez na adolescência em Sena Madureira: até quando vamos aceitar o óbvio como inevitável?

Sena Madureira figura, mais uma vez, em um ranking nacional que nenhum município gostaria de liderar: está entre as cidades com maiores taxas de gravidez na adolescência no Brasil. São 9,4 casos por mil meninas de 10 a 14 anos — uma estatística que carrega, por trás dos números, histórias de abandono, vulnerabilidade e, muitas vezes, violência.

A pergunta que ecoa é inevitável: onde estamos falhando?

Será que é apenas nas políticas de prevenção? Ou será na forma como, há anos, se lida com questões estruturais que afetam diretamente o futuro dessas meninas?

Quando falamos de gravidez nessa faixa etária, não estamos tratando apenas de um “problema de saúde”. Estamos falando de infância interrompida, de educação abandonada, de sonhos interrompidos antes mesmo de nascerem. Estamos falando de famílias desassistidas, de escolas que muitas vezes não sabem como abordar o tema, e de políticas públicas que parecem existir mais no papel do que na vida real.

Não é preciso muito para perceber que faltam ações concretas de conscientização e acompanhamento:

  • Educação sexual responsável nas escolas, livre de tabus e baseada em informação clara.

  • Campanhas permanentes, não apenas pontuais, que alcancem também as famílias, orientando pais e responsáveis.

  • Atendimento especializado para adolescentes em situação de risco, com apoio psicológico e social.

E, talvez o ponto mais incômodo: como uma cidade do porte de Sena Madureira ainda não consegue ter uma rede sólida de proteção que una saúde, educação, assistência social e segurança pública para prevenir casos que, muitas vezes, envolvem abuso sexual?

Enquanto o poder público empurra o problema para o próximo gestor e a sociedade se acostuma com esses números, mais meninas deixam de ser crianças para assumirem responsabilidades que não escolheram. Não é apenas uma questão de moral ou de saúde: é sobre o direito de viver plenamente a própria infância.

O desafio está lançado: ou nos movemos agora para mudar esse cenário, ou aceitaremos, ano após ano, o título vergonhoso que coloca Sena Madureira entre as piores do país em um problema que já conhecemos de cor — mas que insistimos em fingir que não vemos.

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