Luis Fernando Verissimo: o escritor que ensinou o Brasil a rir de si mesmo

Luis Fernando Verissimo: o escritor que ensinou o Brasil a rir de si mesmo

Luis Fernando Verissimo fez do humor um instrumento de sabedoria, transformando as pequenas cenas da vida em espelhos da sociedade brasileira. Com mais de 80 livros publicados e milhões de exemplares vendidos, ele tornou a crônica um gênero de massa, criou personagens inesquecíveis e mostrou que rir de si mesmo também é uma forma de compreender o mundo. Aos 88 anos, sua partida encerra uma trajetória marcada por ironia refinada, crítica social e uma capacidade rara de tocar gerações inteiras com palavras simples e atemporais. O autor morreu na madrugada deste sábado (30/8), às 00h40, em Porto Alegre (RS), vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia.

“O cotidiano é infinito quando visto com ironia”
Verissimo ajudou a transformar a crônica em um dos gêneros mais lidos no Brasil. Suas observações do dia a dia, escritas de maneira leve e acessível, atraíram leitores de diferentes gerações. Obras como “Comédias da Vida Privada” (posteriormente adaptada para a televisão na década de 1990) mostraram sua capacidade de captar situações banais e torná-las universais.

Veja as fotosAbrir em tela cheia Luiz Fernando Veríssimo morre aos 88 anosReprodução Luiz Fernando Veríssimo morre aos 88 anosReprodução Luiz Fernando Veríssimo morre aos 88 anosReprodução

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Entre suas coletâneas mais conhecidas estão “As Mentiras que os Homens Contam”, “Sexo na Cabeça” e “O Melhor das Comédias da Vida Privada”. Cada uma, à sua maneira, revelou um olhar perspicaz sobre as contradições humanas, sem perder o tom bem-humorado.

“O riso também pode ser resistência”
Além da literatura, Verissimo deixou uma forte contribuição ao jornalismo. Atuou como colunista em veículos como Zero Hora, O Globo e Estadão. Foi nos jornais que criou personagens icônicos, como o detetive Ed Mort, sátira ao estilo noir dos romances policiais, e “As Cobras”, série de tirinhas que criticava a ditadura militar com humor e sutileza para escapar da censura.

Outro marco foi “O Analista de Bagé”, sátira que virou fenômeno editorial ao retratar um psicanalista “freudiano barbaridade” que tratava pacientes com métodos inusitados. A irreverência da obra conquistou o público e tornou o personagem parte do imaginário popular brasileiro.

“A imaginação também se alimenta à mesa”
No romance “O Clube dos Anjos”, Verissimo explorou a história de um grupo de amigos cujos encontros gastronômicos eram interrompidos por mortes misteriosas, num enredo que misturava humor, crítica e suspense. A obra, lançada em 1998, foi adaptada ao cinema mais de duas décadas depois, em 2022.

Outros livros ampliaram sua versatilidade, como “Os Espiões”, romance no qual revisitou mitos clássicos da literatura ao mesmo tempo em que brincava com os dilemas contemporâneos da escrita.

“Palavras também são música”
Apaixonado por jazz, Verissimo tocava saxofone na banda Jazz 6, atividade que acompanhou em paralelo à literatura e ao jornalismo. O interesse pela música esteve presente em sua vida desde a juventude, quando se mudou para Porto Alegre em 1956, e integrou-se ao ambiente cultural da cidade.

Sua trajetória, no entanto, começou bem antes: ainda criança, aos 14 anos, escrevia junto da irmã Clarissa um noticiário doméstico, colado atrás da porta do banheiro de casa, chamado O Patentino. A brincadeira precoce já anunciava o caminho que seguiria ao transformar a escrita em ofício.

“O legado de um escritor é o rastro de suas histórias”
Luis Fernando Verissimo construiu uma obra que atravessou fronteiras da literatura, do jornalismo, da televisão e do teatro. Seus personagens, livros e tiradas continuam a ressoar, assim como sua habilidade de falar sobre temas complexos com simplicidade, humor e inteligência.

O escritor gaúcho encerra uma trajetória de mais de seis décadas dedicadas à palavra escrita, mas sua influência permanece entre leitores, artistas e escritores que encontraram em sua obra um espelho bem-humorado e, ao mesmo tempo, profundo do Brasil.

Categories: ENTRETENIMENTO
Tags: Culturaliteratura brasileiraLuis Fernando Verissimo