Lula tenta barrar desmonte ambiental, mas licença especial preocupa

Lula tenta barrar desmonte ambiental, mas licença especial preocupa

Os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao projeto de lei que flexibilizava regras para o licenciamento ambiental foram recebidos com esperança e cautela por ambientalistas e parlamentares. Após um extensa discussão, o titular do Planalto decidiu rejeitar 63 dos 398 dispositivos da nova lei, entre eles, trechos que tratavam da ampliação da licença por “autodeclaração” e alterações no regime especial de proteção da Mata Atlântica.

A decisão do petista foi considerada um passo importante para evitar retrocessos na lei ambiental. No entanto, a manutenção da Licença Ambiental Especial (LAE), patrocinada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), causa preocupação. O novo instrumento permite agilizar o licenciamento para projetos considerados estratégicos para o país. As obras que farão parte desse grupo serão definidas pelo Conselho de Governo.

Lula não só manteve o trecho que trata da criação da Licença Ambiental Especial, como editou uma medida provisória para dar vigência imediata à nova norma. Para o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a medida representa uma fragilização do processo de licenciamento e pode agilizar a autorização a projetos considerados prejudiciais, como a exploração de petróleo na foz do Amazonas, na Margem Equatorial.

A entidade aponta que a definição de empreendimento estratégico é “político, não técnico”, e pode mudar conforme a gestão do governo. “A LAE [Licença Ambiental Especial] abre uma porta perigosa: empreendimentos de alto impacto ambiental podem ser classificados como estratégicos por interesse momentâneo, não por critério científico ou climático”, avalia o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães.

“PL da Devastação”

  • Em julho, a Câmara dos Deputados aprovou uma proposta que estabelece a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, alterando uma série de regras atualmente em vigor.
  • O texto foi criticado por afrouxar procedimentos de autorização para projetos com potencial de causar danos ambientais. A proposta ganhou o apelido de “PL da Devastação”.
  • Nessa sexta-feira (8/8), Lula sancionou a lei com vetos. Entre os pontos rejeitados, estão trechos que tratam da ampliação da licença por “autodeclaração”, e alterações em normas de proteção da Mata Atlântica e de territórios indígenas e quilombolas.
  • O chefe do Planalto manteve, no entanto, a criação da Licença Ambiental Especial, que busca agilizar o licenciamento para projetos considerados estratégicos para o país. A medida foi proposta pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
  • O governo também enviou um projeto de lei que promove ajustes na redação de alguns trechos. Além disso, foi editada uma MP que dá vigência imediata à LAE.

A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) vê os vetos do presidente como insuficientes para barrar a investida contra regras ambientais vigentes. Ela também critica a MP da Licença Ambiental Especial.

“Os vetos, por si só, não barram o desmonte ambiental, e a MP acelera mais ainda o processo de devastação. O Brasil está caminhando para um cenário catastrófico”, considera a parlamentar, ativista na causa ambiental.

Ao decidir vetar parcialmente o texto, o governo defendeu que modernização da lei é necessária, desde que mantenha integridade das regras de proteção do meio ambiente. A ministra-substituta da Casa Civil, Míriam Belchior, afirmou que as mudanças propostas pelo governo visam garantir a integridade do processo de licenciamento; dar segurança jurídica para os empreendimentos; assegurar direitos de povos indígenas e quilombolas; e incorporar inovações à lei do licenciamento.

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Há ainda a preocupação de que trechos vetados pelo presidente sejam retomados pelo Congresso. O parlamento vai analisar se mantém ou derruba as alterações feitas pelo chefe do Planalto. Vale lembrar que o texto foi aprovado com amplo apoio da bancada ruralista e partidos de direita e centro.

O deputado Bacelar (PV-BA) avalia que o governo acertou em vetar pontos críticos da proposta, mas ainda vê riscos. “Vamos atuar com firmeza para manter cada veto. O que foi barrado representa o mínimo necessário para preservar um sistema já fragilizado. Mas é preciso ir além”, ressalta.

O senador Fabiano Contarato (PT-ES), presidente da Comissão de Meio Ambiente, por outro lado, considera que a decisão de Lula foi “extremamente responsável e essencial”. Ele cita o veto à ampliação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC) como uma iniciativa um dos pontos essenciais.

“Ela [a LAC] seguirá possível, como já ocorre em diversos estados, mas apenas para atividades de baixo impacto e que não coloquem vidas humanas em risco”, destaca.

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