A forte seca que atinge o Acre vem mudando a rotina de dezenas de famílias da zona rural de Rio Branco. Na comunidade Panorama, o abastecimento de água acontece apenas duas vezes por semana — às segundas e quintas-feiras — por meio de caminhões-pipa enviados pela Defesa Civil. Mesmo assim, a quantidade distribuída não é suficiente para atender a todos.
O Acre e a capital estão em situação de emergência desde a última quarta-feira (6), devido à estiagem severa e ao baixo nível dos rios. O Rio Acre está a menos de 25 centímetros da menor cota já registrada, alcançada em setembro do ano passado.
Para os moradores, a situação é de corrida contra o tempo. O autônomo Isaque Moura explica que, quando a água chega, é preciso aproveitar ao máximo para armazenar.
— Quando chega água tem que se preparar, sem água a gente não vive. Se não encher a caixa na segunda ou na quinta, tem que buscar longe, em balde, no carro de mão — relata.
A dificuldade é ainda maior para quem enfrenta limitações físicas.
— Minha coluna não me permite carregar muito peso, mas mesmo assim a gente tem que dar um jeito — completa Isaque.
O carpinteiro Epitácio Ferreira enfrenta o mesmo problema. Ele conta que, quando a seca aperta, até as cacimbas secam completamente.
— A gente depende dessa caixa, mas ela só enche uma vez por dia. É muita gente para pouca água. Quem mora longe muitas vezes nem consegue pegar — afirma.
Na comunidade, uma única torneira serve de ponto de encontro para todos, onde as pessoas disputam a água para cozinhar, tomar banho e realizar tarefas básicas do dia a dia.
Segundo a Defesa Civil Municipal, 73 comunidades rurais de Rio Branco já sofrem com os efeitos da seca. Apesar do esforço das equipes para abastecer a população com caminhões-pipa, a distância e o difícil acesso a algumas regiões dificultam a regularidade do serviço.
Decretos de emergência
O decreto estadual, assinado pelo governador Gladson Cameli e válido por 180 dias, aponta que o volume de chuvas no primeiro semestre de 2025 foi bem abaixo do esperado, contribuindo para a seca dos mananciais. Em julho, choveu apenas 8 milímetros na capital.
O prefeito Tião Bocalom também assinou decreto reconhecendo a situação de emergência em Rio Branco, o que permite acionar outros órgãos, buscar recursos federais e acelerar processos para minimizar os impactos.
O coordenador da Defesa Civil Municipal, tenente-coronel Cláudio Falcão, explicou que, com a medida, será possível recorrer a outras secretarias e obter apoio do governo federal com menos burocracia.
Em maio deste ano, o governo federal já havia reconhecido a situação de emergência na Estação de Tratamento de Água (ETA) II de Rio Branco devido a problemas estruturais e à instabilidade do solo, agravados pela erosão.