Na noite desta terça-feira, “Vale Tudo” presenteou o público com uma das cenas mais marcantes da novela até agora: o momento em que Raquel (Taís Araujo) revela a Afonso (Humberto Carrão) toda a verdade sobre Maria de Fátima (Bella Campos), Odete (Débora Bloch) e Celina (Malu Galli).
Não foi apenas uma cena de revelação. Foi um acontecimento raro dentro da narrativa de Manuela Dias, que geralmente se apoia em diálogos curtos, resoluções rápidas e ritmo acelerado. Ali, o tempo desacelerou. A cena se alongou por quase 11 minutos, em ordem cronológica, sem cortes apressados, permitindo que Raquel expusesse com calma cada detalhe, cada memória, cada pedaço da história.
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Para quem acompanha novelas com olhar de noveleiro, foi um deleite. O tipo de cena em que não se tem pressa de chegar ao fim, porque o prazer está justamente no percurso: nas pausas, nos olhares, no peso das palavras.
Thaís Araújo brilhou. A entrega dela foi intensa, mas medida — emocionada sem cair no excesso, firme sem perder a humanidade. Humberto Carrão respondeu à altura, com uma escuta ativa que engrandeceu ainda mais o diálogo. A química entre os dois foi palpável, um jogo cênico em que talento e empatia transbordaram.
E o impacto foi tão forte que ultrapassou gerações. Meu pai, um senhor de 73 anos, me mandou uma mensagem logo depois da cena dizendo que “as pessoas tinham que bater palmas para a Taís e para o Carrão, que eles estavam maravilhosos”. Quer dizer: não é apenas opinião de noveleiro apaixonado, mas a percepção de alguém que já assistiu a décadas de televisão e reconhece quando a arte atinge outro patamar.
É quase uma pena que Raquel e Afonso não tenham muitas cenas juntos. Essa cena mostrou o quanto os dois poderiam render ainda mais se tivessem mais encontros na trama. Foi uma amostra do que acontece quando se dá tempo de tela para atores que sabem segurar o peso de um grande momento dramático.
No meio da velocidade de Vale Tudo, essa sequência funcionou como uma pausa necessária. Um lembrete de que a televisão também pode nos dar tempo — tempo para ouvir, para sentir e para admirar a potência de duas interpretações em estado puro.