Mais de um mês após Donald Trump ter anunciado tarifas contra produtos brasileiros, a Apex Brasil, agência que representa os interesses do agro no mercado internacional, anunciou a abertura de um escritório em Washington e a contratação de duas consultorias americanas para negociar com o governo americano.
A medida, anunciada durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio pelo presidente da Agência, Jorge Viana, nesta segunda-feira (11/8), foi lida como “atrasada” pelo setor e faz parte de uma série de iniciativas do governo federal contra a sanção dos Estados Unidos. Além do escritório na capital americana, o governo federal deve anunciar um plano de contingenciamento contra o tarifaço.
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“Estamos focados em não tirar a nossa presença nos Estados Unidos, porque é a maior economia do mundo e é muito importante trabalhar separado de qualquer questão política ou comercial”, disse Viana durante o evento que na cidade de São Paulo nesta segunda.
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, durante Congresso Brasileiro do Agronegócio
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Governador de Minas Gerais, Romeo Zema (Novo), durante Congresso Brasileiro do Agronegócio
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Da dir. para esq., deputado federal, Arnaldo Jardim (Cidadania), govenador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
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24º Congresso Brasileiro do Agronegócio aconteceu na zona sul da cidade de São Paulo nesta segunda-feira (11/8)
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Governador de Minas Gerais, Romeo Zema (Novo), durante Congresso Brasileiro do Agronegócio
Valentina Moreira/Metrópoles
A promessa de instalar um novo escritório no país acontece em meio a pressões para que o presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) negocie a redução das tarifas com Donald Trump.
O setor do agronegócio – em especial os produtores de café – é tido como um dos principais atingidos pelas novas tarifas americanas.
A abertura do escritório foi considerada “atrasada” por representantes do setor, que criticam a demora da agência, que decidiu abrir o escritório mais de uma mês após o anúncio das tarifas. Ao Metrópoles, um importante representante do setor que acompanha as negociações, mas preferiu não ser identificado, disse que “isso é muito bom, mas está atrasado. A sensação para o setor todo é que demorou. Que numa altura dessas, isso tinha que ter existido há muito tempo”.
Foi mencionada a comitiva dos senadores que esteve no nos Estados Unidos no final de junho para tentar negociar as tarifas impostas ao Brasil, que não teve participação oficial do governo federal, apesar da presença de parlamentares governistas. A avaliação da oposição é a de que a gestão Lula tem demorado para se posicionar para se aproveitar politicamente da pauta.
Durante o evento desta segunda, o presidente da República foi criticado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) por não ter telefonado para Trump. Os dois — Tarcísio e Zema — são cotados para substituir Jair Bolsonaro (PL) e disputar à Presidência em 2026 contra Lula.
Plano de contingenciamento
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB) era um dos convidados do Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado nesta segunda, mas trocou o evento para se reunir com o presidente Lula em Brasília a respeito do tarifaço. A expectativa é a de que o ele anuncie o plano de contingenciamento em seguida.
Até agora o governo federal não publicou detalhes sobre o plano, mas espera-se que contemple alguma forma de isenção tarifária e linhas de financiamento aos setores mais afetados. O plano de contingenciamento deverá ser personalizado de acordo com o nível de prejuízo do setor. As medidas estudadas até agora são:
- Linhas de crédito: semelhante ao vivenciado no desastre do Rio Grande do Sul, o governo federal estuda conceder linhas de crédito para pequenos produtores.
- Compras governamentais: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, citou o caso do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), que apresentou ao governo proposta para comprar o pescado produzido no Estado que teria o destino aos Estados Unidos. De acordo com Haddad, existe espaço orçamentário para esse tipo de medida.
- Reativação do Programa Seguro-Emprego: a medida deve permitir a redução de até 30% da jornada e dos salários de trabalhadores em empresas com dificuldades financeiras, semelhante ao que aconteceu na pandemia.
- Ampliação do Reintegra: programa para pequenas empresas exportadoras que permite recuperar parte dos tributos pagos ao longo da cadeia produtiva.