Cinco anos após seu último trabalho autoral, o cantor Cícero está de volta com “Uma Onda em Pedaços”, álbum que marca um novo momento na carreira de um dos nomes mais influentes da música brasileira contemporânea. Em entrevista exclusiva ao portal LeoDias, o artista falou sobre os impactos da pandemia, perdas pessoais e o amadurecimento de quem se aproxima dos 40 anos.
O projeto, que conta com participações de Duda Beat, Tori e Vovô Bebê, traz um olhar fragmentado sobre a vida.
Veja as fotosAbrir em tela cheia CíceroReprodução CíceroReprodução CíceroReprodução “Canções de Apartamento”Reprodução Cícero
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“Eu queria que o disco tivesse essa sensação de processo, de fragmentação. A vida se quebrou em partes e isso se reflete no som. Não é mais sobre um personagem central, como em ‘Canções de Apartamento’, mas sobre a vida em pedaços que todo mundo reconhece”, explicou Cícero.
A sonoridade de “Uma Onda em Pedaços” marca um afastamento da estética intimista e lo-fi que consagrou o artista no início da década passada.
“Esse é um disco mais hi-fi, mais assertivo. Tem participações, arranjos maiores, é diferente daquela estética gravada no quarto. É um som que ocupa mais espaço”, definiu.
Se no icônico “Canções de Apartamento” (2011) Cícero traduzia o cotidiano de um jovem de 20 e poucos anos em suas primeiras experiências fora de casa, o novo trabalho se conecta com uma fase de maturidade.
“Já passei pela pandemia, por perdas, por mudanças de vida. O mundo ficou maior. E isso reflete na música: ela ganha mais referências, mais camadas, mais generosidade”, contou.
A inspiração do álbum também nasce de experiências pessoais intensas. Nos últimos anos, o cantor enfrentou o luto por familiares e o fim de relacionamentos importantes.
“O que mais se desconstruiu para mim nos últimos tempos foram os cânones da vida. Uma pessoa que morreu deixou de estar presente? Às vezes é o oposto: a ausência reafirma essa presença dentro de você. Esse disco fala sobre como a vida se fragmenta, mas também sobre como cada pedaço encontra um lugar em nós”, refletiu.
Apesar das mudanças, o artista garante que algo permanece igual desde a infância: a necessidade genuína de criar.
“A premissa do meu processo criativo sempre foi essa emoção de fazer música. Não é para ficar famoso, não é para competir. É a mesma sensação que eu tinha quando criança no Carnaval, vestido de bate-bola. O que mudou foram as formas, mas não a essência”, disse.
Conhecido por transitar entre gêneros sem se prender a rótulos, Cícero revela que o álbum absorve fortemente as influências de rap, trap e drum and bass.
“Cada faixa é como uma viagem: em um momento você sente um forró, no outro um beat eletrônico. Meu objetivo é fazer quem escuta sentir algo durante esses 30 minutos, não importa o estilo. Se a pessoa me empresta esse tempo da atenção dela, eu preciso ir fundo para provocar uma experiência emocional”, afirmou.
Essa experimentação sonora também dialoga com o cenário atual, no qual a atenção do público é disputada em diferentes formatos. O cantor, inclusive, adaptou a divulgação do trabalho para vídeos curtos, feitos especialmente para plataformas como TikTok.
“Se antes a experiência era de meia hora, agora também pode ser em 30 segundos. O importante é que exista conexão”, destacou.
A volta aos palcos
Com o lançamento, Cícero também anuncia a turnê “Uma Onda em Pedaços”, que começa em 3 de outubro, em Curitiba, e segue por cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza. Em dezembro, o artista leva o show para Portugal, com apresentações em Lisboa, Amarante e Vale de Cambra.
Segundo ele, os shows terão um formato híbrido, misturando banda e elementos eletrônicos.
“Vou cruzar linguagens. Tocar as músicas novas, mas também revisitar canções de todos os discos. Vai ser uma experiência bonita, com luz, cenário e banda. Estou animado de voltar a estrada depois de tanto tempo”, adiantou.
Para os fãs, a expectativa é de revisitar sucessos que marcaram uma geração e descobrir a força das novas composições.
“Cada disco ganha significados diferentes com o tempo. ‘Canções de Apartamento’ ainda fala com pessoas de 20 anos mais novas do que eu. Esse novo álbum, talvez, dialogue mais com quem está vivendo essa fase de vida comigo. E daqui a 20 anos ele vai falar outra coisa. É isso que a arte faz: continua viva”, concluiu.