No programa Quem é Você Nesse Rolê?, comandado por Thais Fersoza no YouTube, Letícia Colin fez uma reflexão rara sobre um dos papéis mais marcantes da sua carreira: a Rosa de Segundo Sol (2018). A novela, escrita por João Emanuel Carneiro, foi sucesso de público, mas desde a estreia recebeu críticas pela falta de representatividade. Ambientada em Salvador, tinha um elenco majoritariamente branco — e isso nunca passou despercebido.
Hoje, olhando para trás, Letícia reconhece que não repetiria a escolha de aceitar o papel: “Eu fiquei muito feliz com a personagem, foi ótimo para o meu trabalho. Eu estudei sotaque, comportamento, fui pra Bahia, fiquei um tempão lá. Mas eu acho que esse lugar teria que ser de uma atriz de lá, uma atriz nordestina, que tivesse a ver com essa personagem”.
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A fala reacende um debate importante. Quando “Segundo Sol” estreou, foi duramente criticada pelo público e pela crítica por escalar um elenco majoritariamente branco para uma trama ambientada em Salvador — uma das cidades mais negras do Brasil. A ausência de protagonistas baianos e a falta de diversidade se tornaram um dos pontos mais questionados da novela, que, apesar da audiência, ficou marcada pela polêmica.
A atriz admite que já defendeu a ideia de que intérpretes poderiam viver qualquer papel. Mas a experiência pessoal e o debate atual fizeram-na mudar de opinião: “Eu já defendi que a gente pode fazer qualquer papel, mas a gente não pode. Isso é uma discussão que vem ganhando força. Eu mesma vivi isso na minha trajetória”.
A reflexão de Leticia mostra como a discussão sobre representatividade na TV brasileira tem ganhado mais força nos últimos anos. Se antes prevalecia a ideia de que “um ator pode viver qualquer papel”, hoje cresce o entendimento de que identidade, origem e vivência contam — e muito — para dar autenticidade às histórias e abrir espaço para quem sempre foi invisibilizado.
Colin também expôs o dilema de todo artista em um mercado tão competitivo: é difícil dizer não a um grande papel quando as oportunidades são escassas. “É quase milagre você ser artista no Brasil. Aí você vê um papel incrível e fala: ‘nossa, vamos’. Mas eu queria ter conseguido agir diferente naquele momento. Eu tenho orgulho do meu trabalho, porém, não é o certo. Dizer o não é preciso. E ele é desconfortável porque não é dizer não pra você ter mais tempo, é pra você ter menos espaço. É dizer não pra você ter menos espaço como uma mulher branca, cheia de privilégios. A gente precisa assumir esse não, sim”.
Mais do que uma lembrança de “Segundo Sol”, a fala de Colin é um convite a repensar a forma como a teledramaturgia escolhe seus rostos e vozes. Porque, se as novelas sempre foram retrato do seu tempo, o público também espera que elas reflitam o Brasil real. E o reconhecimento da atriz, seis anos depois, mostra como a discussão avançou — e como ainda há um longo caminho para que nossas novelas reflitam de fato o Brasil real.