No remake da novela “Vale Tudo”, exibida na Globo, a personagem tia Celina, interpretada por Malu Galli, atribui a leucemia do sobrinho Afonso a uma vida marcada por estresse, frustrações e desgaste emocional. A fala da personagem, transmitida no capítulo do dia 30 de setembro, marcou mais uma polêmica no roteiro da escritora Manuela Dias; nas redes sociais, internautas criticaram e acusaram a emissora de propagar anticiência. Ao portal LeoDias, o psicólogo Jair Soares, fundador do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT), afirmou que a conexão emocional não pode ser descartada.
Fora da ficção, a relação entre câncer e aspectos psicossomáticos desperta debates entre especialistas. Embora a ciência médica reconheça a leucemia como um câncer hematológico originado na medula óssea, a psicossomática oferece uma interpretação complementar: a de que o corpo pode expressar dores emocionais por meio de doenças físicas.
Veja as fotosAbrir em tela cheia Fala de Celina não foi bem recebida pelos fãs da novelaReprodução: X/@ZAMENZA Personagem Afonso Roitman, interpretado por Humberto Carrão, tem leucemia mieloideReprodução: Globo A personagem Solange Duprat, vivida por Alice Wegmann, raspou a cabeça de Afonso em um dos capítulos mais emocionantes da novelaReprodução: Globo Afonso Roitman (Humberto Carrão)Reprodução: Notícias da TV Psicólogo Dr. Jair SoaresReprodução: LinkedIn/Jair Soares
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“A depressão é conhecida, na maioria das vezes, como um desequilíbrio químico. Entretanto, entendemos este quadro como uma tentativa do corpo de interromper uma dor emocional que se repete silenciosamente. Por isso, tratar as causas desses sintomas é essencial para um desfecho definitivo”, disse o psicólogo.
Na visão da psicossomática, o câncer é descrito como a “tristeza da célula”, uma metáfora para a sobrecarga emocional que, não elaborada, pode se refletir no funcionamento do organismo. Conforme Jair, sintomas físicos podem ser compreendidos como linguagem do inconsciente. “Quando as causas não falam, o inconsciente reage através dos sintomas”, alertou o especialista.
No caso específico da leucemia, a doença tem origem no local onde nasce a capacidade de renovação. A medula óssea é o centro de regeneração constante, produzindo continuamente novas células para manter os indivíduos vivos e vitalizados. Quando essa função é comprometida, é preciso lidar com questões relacionadas à capacidade de renovação emocional.
Conforme Jair, muitas pessoas que desenvolvem leucemia descobrem, ao olhar retrospectivamente para suas vidas, que passaram longos períodos vivendo de forma contrária à sua natureza essencial, sufocando seus verdadeiros desejos, sonhos e necessidades em favor de expectativas externas. A leucemia, nesse sentido, pode ser vista como um grito de socorro.
A TRG, metodologia desenvolvida pelo psicólogo, propõe revisitar lembranças marcantes desde a infância, em um processo que conduz ao reequilíbrio neurológico: “Após esse trabalho, não restam gatilhos, apenas lembranças. A dor que paralisa hoje tem uma raiz emocional antiga. Se tratamos só o efeito, a origem continua ativa. E é por isso que a depressão costuma voltar, mesmo depois de tratamentos convencionais”, disse ele.
A abordagem, segundo Jair, pode ser aplicada sem o uso de medicamentos, partindo do princípio de que cada sintoma tem uma lógica emocional própria: “As experiências vividas, os sentimentos não expressos, os silêncios guardados, tudo isso deixa marcas. O tratamento é um caminho para revisitar essas camadas emocionais que nunca foram realmente compreendidas”.
Embora não substitua os tratamentos médicos indicados para a leucemia, como quimioterapia, imunoterapia e transplante de medula, a perspectiva psicossomática busca oferecer um olhar complementar ao cuidado integral da saúde.
Como lidar com frustrações sem adoecer
Jair Soares explica que reconhecer os limites do corpo e da mente é o primeiro passo para não transformar tensões cotidianas em sofrimento prolongado. A recomendação é que, diante de sinais persistentes de tristeza, apatia ou ansiedade, a pessoa busque apoio profissional para ressignificar ou, como propõe a metodologia, reprocessar os conteúdos antes que se manifestem em adoecimentos físicos ou emocionais.